Ana chateava-se sempre que havia chamada oral na escola. Era a primeira da lista na classe. Ela era a primeira, ficava nervosa. Enquanto que o aluno que começava com V ficava mais tranquilo, ao ver todos responderem antes dele, e nem sempre a professora atingia seu nome em uma aula somente.
Ela acostumou-se com o passar do tempo. Gostava de professores que invertiam a ordem, começando a chamada pelo fim do alfabeto, e por aqueles que começavam a chamada aleatoriamente, sorteando um numero da lista de alunos.
Havia uma professora que sempre iniciava pela letra A.Ana chegou a perguntar a ela porque não mudar. Ela lhe respondeu que a primeira letra do alfabeto era essa, e que não havia sentido mudar a ordem. Ela ainda comentou que se sentia enervada ao ser a primeira, e que poderia haver um rodízio entre os alunos para que todos fossem os primeiros em alguma vez no ano.
Não havia jeito. A professora não cedia. Ana era inteligente, e pensou: "se sempre tenho que ser a primeira na chamada oral, porque não ser a primeira a revolucionar a aula da professora Maria, já que ela não nos ouve?"
Conversou com os colegas de classe, expós suas questões, sugeriu que eles mesmo estabelecessem a regra para a chamada oral, e que fariam isso em sala de aula. Todos acordaram. Na aula seguinte em que a professora faria a tal da chamada oral, ao chamar a Ana, levantou-se Viviane, que estava sentada no lugar de Ana.
Viviane falou:
-Pode perguntar, professora. Nós decidimos que os últimos também serão os primeiros algumas vezes.
A professora negou, disse para que ela se sentasse e novamente chamou Ana.
Ana respondeu:
-Professora Maria: todos os outros professores, bem como nós, alunos, concordamos que devemos ceder a vez aos outros de vez em quando. Deixar que o outro passe na frente. Facilitar. Sermos flexíveis. Sabermos escutar outras opiniões, principalmente. Se meu nome começa com A, que concordo ser a primeira letra do alfabeto, porque não usarmos essa mesma letra e termos um pouco de ATITUDE, AMOROSIDADE, AFETIVIDADE, AMIZADE com aqueles que nos cercam? Afinal, estamos usando a primeira letra do alfabeto, já que é tão importante que ela sempre seja a primeira.
A letra A continuará sendo a primeira, mas eu não quero ser sempre a primeira, porque assim muitas vezes também é conveniente.
Finalmente, a professora cedeu, agiu com as primeiras letras e Ana não foi a primeira.
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