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Contos-->ONOFRE, O POLÍTICO PRÁ LÁ DE HONESTO -- 30/10/2005 - 18:29 (Elias Gonçalves Dias) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
ONOFRE, O POLÍTICO PRÁ LÁ DE HONESTO



O farmacêutico Onofre era a honestidade em pessoa. Pelo menos era o que ele achava. Homem íntegro, no qual não se achava variações. Como ele mesmo dizia, “o meu maior defeito era não gostar das coisas erradas”.
Quando acontecia qualquer coisa de corrupção, algum indício de desvio de verba, malversação, nepotismo ou coisa parecida, o povo já ficava esperando a “Folha de Ribeirão”, jornal local em que o Onofre tinha uma coluna. Não importava se no âmbito do Município, do Estado ou mesmo da União. Ele desandava a falação. E não economizava palavras para definir a atitude. Ladrões, corruptos, inconseqüentes, salafrários, vagabundos, nefastos, safados e outros adjetivos mais contundentes era o mínimo que se podia esperar dos artigos do articulista.
De tanto falar, certo dia o farmacêutico foi sondado para ser vereador.
E foi.
Antes do mandato há que se falar da campanha. Foi um verdadeiro show. O povo andava atrás do Onofre pelas ruas de Ribeirão. Quando percebia uma certa quantidade de pessoas, umas 20 ou menos, ele logo iniciava um discurso, onde descarregava toda a sua ira contra a classe política. Não raro seus correligionários o colocarem nos ombros e sair pelas ruas da cidade numa passeata frenética.
No dia da posse dos novos vereadores o plenário estava lotado. Quando o Onofre subiu à tribuna foi aplaudido por exatos 5 minutos. Seu discurso foi apoteótico. Coitado do prefeito, dos colegas vereadores, dos secretários, do padre e dos pastores, do gerente do banco, dos vigias, dos garis, das enfermeiras, de todo mundo. Ele afirmou que “a partir de hoje esse tipo de gente terá, um fiscal incansável a observar-lhes a todo tempo” e que “o povo pobre de Ribeirão têm passa a ter, um verdadeiro representante nessa Casa” e terminou dizendo que “eu não sou em nada comparado com essa estirpe que até hoje ocupou essa tribuna”. Essa foi uma das frases de maior impacto perante a população.
O povo passou a freqüentar a Câmara só para ouvir o Onofre. O discurso era para ele um momento sagrado. Iniciava-o de Bíblia na mão, com voz baixa e respeitosa, citando a Carta de São Paulo: “E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”. Em seguida retirava o microfone do pedestal e começava a defenestrar todo mundo. Não raro ele jogar o paletó no chão durante um discurso mais inflamado. Ao final, citava um pensamento de Rui Barbosa, o “grande Rui”, que era o modo íntimo ao qual ele se referia ao jurista do passado. Por fim, esmurrava a mesa e se sentava exausto
Certo dia Onofre viajou para a Capital, com o fim de ter uma audiência com o governador. Foi de ônibus, com passagem comprada com seu próprio dinheiro, pois como ele mesmo dizia, não gostava de misturar as coisas. “O que é publico é publico, o que é privado é privado”.
Como chegou cedo, resolveu tomar um café ali mesmo na rodoviária. Sentou-se e quando olhou, debaixo da mesa, tinha uma carteira. Abriu-a e verificou que tinha a quantia de R$ 3.000,00. Certificou-se de que ninguém estava olhando e não pensou duas vezes: retirou R$ 2.000,00 e embolsou. Procurou o serviço de som da rodoviária e ao solicitar que se fizesse o anúncio, fez questão que nele constasse que era o vereador Onofre, da pequena cidade de Ribeirão, quem estava devolvendo a carteira com a quantia de R$ 1.000,00. Em seguida foi à redação dos jornais de maior circulação e pagou para que a “história” fosse publicada. Os eleitores do Onofre e até seus opositores, quando tomaram conhecimento daquela notícia ficaram orgulhosos do seu vereador.
A sessão da Câmara que se seguiu a esse fato foi histórica. Mandaram trazer, de surpresa, o mãe do ilustre vereador e um Deputado Federal que passava por Vitória. A Casa nunca tinha recebido tanta gente. Discursaram o Presidente da Casa, o Prefeito, o Deputado Federal, a Mãe e, por fim, o próprio Onofre. Esse discurso foi em quase tudo parecido com os demais. Somente num detalhe foi diferente. Quando faltavam 3 minutos para encerrá-lo, na parte em que ele dizia que só seria candidato a prefeito de Ribeirão se o povo o obrigasse, Onofre começou a chorar copiosamente. O povo subiu na tribuna, colocou o vereador nos ombros e saiu em passeata pela cidade aos gritos de Viva nosso Prefeito, Viva nosso Prefeito.
Um detalhe: No instante em que esse fato aconteceu, Onofre deixou cair o discurso. Quando o Presidente o apanhou, observou que na linha 137ª, entre parênteses estava escrita a seguinte observação: (COMEÇAR A CHORAR).
Acontece que o dono da carteira voltou. Foi na seção de Perdidos e Achados e encontrou a carteira com R$ 1.000,00. Ficou intrigado. Porque alguém faria uma coisa daquela? Que interesse essa pessoa teria de devolver apenas uma parte do dinheiro? O atendente contou para o rapaz como tudo tinha acontecido. Eles procuraram a sala de filmagem. Pegaram a fita daquele dia e viram quando o Onofre, sorrateiro, embolsou os R$ 2.000,00.
Daqui para frente o que se tem é que a vida de Onofre virou um inferno. Todos se voltaram contra ele. Foi aberta uma CPI. O Onofre negou tudo. A filmagem confirmou tudo e o Conselho de Ética votou pela cassação. O Onofre disse que não renunciava nem morto. Ocorre que ele começou a pensar em Brasília, no ACM, no Jader e em tantos outros. Decidiu renunciar. E foi o que ele fez. ÀS 17h do dia em que seria votada a sua cassação ele protocolou o seu pedido de renúncia. A lei garantia que se o fizesse até aquele momento teria seus direitos políticos garantidos. Assim ele poderia ser candidato na próxima eleição e com certeza provaria ao povo de Ribeirão que tinha sido vítima de uma enorme armação.
E foi...


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