As principais áreas maláricas dos estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Espírito Santo e outros estados do sul do país restringem-se atualmente às suas regiões de Mata Atlântica, onde ainda ocorrem casos primitivos de malária por “Plasmodiun vivax”. Na região Sudeste, outra área receptiva para sua transmissão – além da Mata Atlântica no litoral – é o Vale do rio Paraná, no interior.
Essas e as demais regiões daqueles estrados tornaram-se áreas de transmissão interrompida a partir da décadas de 60 e 70, fato esse ocorrido pelo tratamento de casos, e não pela eliminação do mosquito transmissor - o que as torna regiões vulneráveis à ocorrência de episódios de reintrodução da doença.
A malária só se instala como doença quando o organismo infectado não mais consegue interferir imunologicamente na multiplicação do protozoário. E a cura do paciente só ocorre com a eliminação total de todas as formas plasmodiais do protozoário.
O comportamento epidemiológico da malária após a ocorrência de múltiplos e discretos surtos ao longo dos últimos anos nas regiões da Mata Atlântica sugere que ainda esteja enfrentando a fase de transposição da barreira imunológica dos reservatórios, isto é, enquanto os anti-corpos específicos dos pacientes sintomáticos contiverem a multiplicação de protozoário, a infectividade nos mosquitos transmissores permanecerão baixas.
O fato de haver poucos registros não quer dizer que a doença esteja sob controle, pois os infectados assintomáticos sem diagnóstico e tratamento oferecem a possibilidade de continuar mantendo o Plasmodium em circulação na região, onde o anofelino se encarrega de propagar endemicamente a doença.
A principal estratégia de controle da endemia ainda é o pronto diagnóstico e tratamento sintomático e assintomáticos: se não realizados, ela continuará sendo, por desinformação, confundia com outras doenças e tratada muitas vezes apenas como febre de origem obscura.
A reintrodução da malária por Plasmodium vivax nessas regiões através de casos importados oriundos de áreas endêmicas pode interferir na infectividade do mosquito, difundir novas cepas e acelerar a ocorrência de surtos, além de possibilitar a descarecterização, do ponto de vista epidemiológico, da evolução da doença como malária da Mata Atlântica.
No Brasil, a vigilância para impedir a reintrodução da doença nos locais onde existe esta possibilidade equivale a consumir recursos infinitos e realizar um trabalho sem fim, caso medidas de impacto epidemiológico não aconteçam nas áreas endêmicas mais próximas, como a Amazônia e a África.
Desequilíbrios ambientais podem reduzir a população de predadores das larvas de anofelinos e, conseqüentemente, aumentar a possibilidade de manutenção e expansão da doença. Situações de bom equilíbrio ambiental mantém esses insetos na cadeia alimentar de seus principais predadores e praticamente os impossibilitam de sem envolver em surtos ou epidemias pela baixa densidade de suas formas adultas.
Investir na informação sobre a doença para quem vai ou para quem chega de área endêmica é estratégia que alivia a pressão exercida pela reintrodução de casos em áreas de transmissão interrompida: além disso, possibilita a não-evolução para suas formas graves e óbito. Em qualquer local do mundo, as principais causas de óbito por malária ainda são o retardo de diagnóstico e a desinformação sobre a doença.
O Brasil é um país endêmico de malária, e essa possibilidade de diagnóstico deve ser sempre encarada como real em todo o seu território, principalmente pela ocorrência de casos importados que podem ser detectados em qualquer região.
Assim como politicar, pensar em nosso meio-ambiente e na malária e em seus órfãos também.