Raul está feliz da vida que finalmente, após longos meses, conseguiu sair cedo do trabalho. Não vê a hora de chegar em casa.
Chega perto das sete. Um milagre. Todo contente , vai logo dizendo um alegre boa - noite, mas se percebe ignorado pela esposa e filhos. Ai se da conta: sete horas. Hora da janta.
Entra na cozinha, tenta dar um beijo na esposa. Mas ela grita com o filho maior, que joga a comida no chão, e ao mesmo tempo enfia a colher de comida na boca do menor , que ainda não come sozinho.
Rejeitado pela confusão, Raul lembra - se que um banho não vai nada mal. Tira lentamente a roupa, assobiando uma canção qualquer. Liga o chuveiro. Espera uns minutos a água esquentar. Testa a temperatura com a mão. A água continua fria. Estranho. Ai cai na real. Seis e meia é hora do banho das crianças. Acabou a água quente. Enrola - se no roupão, furioso.
Vai para a sala, deitar -se no sofá para ver TV. Quando chega já é tarde. Seus filhos já acabaram a janta, e ele só consegue escutar gritos e o insuportável barulho do vídeo - game.
Percebendo que a sala não é lugar para ele, vai a cozinha conversar com a esposa, que prepara a janta para os dois. Ele inicia uma conversa, mas ela apenas responde com a cabeça. Está toda atrapalhada , e pede desculpas. Conversarão no jantar.
Volta à idéia da TV, mas lembra -se que a de seu quarto está quebrada há meses. A do quarto dos meninos é a única que sobrou. Quando chega perto do quarto das crianças , se dá conta: o menor já está dormindo.
E ele fica como uma barata tonta pela casa, até a hora que a esposa chama para jantar. Olha no relógio: oito e meia. Este é o horário que normalmente chega. E com certeza continuará chegando. Por necessidade. Ou opção.