Dona Crotilde Na Discoteque – 23.Outubro.2005 – 23:54
- Não agüento mais minha neta. Preciso achar um véio.
- Vó, por que a senhora não vai à danceteria comigo no sábado?
- Imagina, fia. Aquela música barulhenta? E depois outra, lá só tem franguinho... O que uma galinha véia como eu arrumaria lá?
- Realiza, vó. Lá tem um monte de tiozinhos tarados que ficam se esfregando na gente.
- Como aquele da novela?
- Menos, vó. Menos.
- Quanto é o ingresso pro baile?
- Baile, vó? É uma danceteria!
- Mas não tem uma hora que vocês dançam coladinhos?
- Só quando o DJ toca funk.
- FUCK?
- Funk, vó! Funk! Não seja obscena.
- Ué?! Não entendi...
- Isola, vó. O que vai vestir?
- Não sei, acho que vou com aquele xale que ganhei do seu falecido avô quando completamos um ano de namoro.
- Pelo menos lava pra tirar o cheiro de naftalina, né?
- Imagina, está guardado junto com aquelas batas hippies que eu usava...
- Vovó, mas isso foi em mil novecentos e vovó era virgem...
- Mas minha fia, isso foi há muuuuito teeempo.... Seu avô dava gosto...
- Vó, me economize... A propósito, quer que eu compre camisinha pra senhora?
- Não, fia. Já disse que vou com o xale...
- Estou besta...
- Eu sei, puxou o seu pai. Sua mãe foi uma louca de se casar com aquele traste.
- Não fala assim do papai...
- Diga lá minha fia, como são esses cavalheiros que vão ao seu baile?
- Baile? Cavalheiros? Vó, francamente... Mas, bem, eles são barrigudos, feios e carecas.
- Bom, como tudo o que você diz é ao contrário, devem ser lindos.
- Ô!
- Que horas vamos? Seis horas está bom?
- Seis horas, vó? Pirou? A Déia passa me pegar às onze da noite...
- Onze horas? Isso é hora pra lobisomem estar na rua. Acho que não vai dar.
- Vai sim, vó. Vai dormir agora à tarde, vai.
- Mas e o Programa do Raul Gil? Como vou perder?
- Vó, agora é aos domingos...
- Tá bem, fia. Vou tirar uma pestana...
Após o baile, horas depois...
- E aí, vó, curtiu a balada?
- Tô destruída, fia. Tipo assim, arrasei.
- Viu quanta gente?
- Os meninos do baile não dizem muita coisa inteligente, né?
- Vó, vamos lá para dançar, não para conversar.
- Ué?! Mas você não disse que vai para conhecer gente nova? Como conhecer sem conversar?
- Só para conhecer, vó. Sacou?
- Tipo assim, fia... não!
- Afeee...
- Sabe o que não entendi? A mágica do cabelo.
- Que mágica?
- Uma hora eu te via beijando um rapaz moreno, depois o cabelo ficava louro, depois vermelho... Acho que era o efeito das luzes...
- É, vó. Eram as luzes.
- De que está rindo?
- Nada, vó. Nada.
- Porque essa gente anda gritando dentro do carro? São surdos?
- Estão curtindo, vó!
- Parecem índios, ficam gritando IUHÚÚÚÚ! Estão bêbados?
- É alegria, vó.
- De quê?
- De estar na balada.
- Tipo assim, fia..... Que gente mais besta!!!
Wagner -
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