A FRAGA DA SERPENTE
Jan Muá
28 de novembro de 2006
Todos os humanos gostariam de conhecer o fardo que trazem às costas.
A existência.
Gostariam de conhecer a caixa de segredos que carregam por dentro.
Desde datas imemoriais, sabemos que nossos antepassados do neolítico se reuniam na montanha sagrada,
Lá para as bandas de Trás-os-Montes, junto à Fraga da Serpente,
Praticavam ali, puxados pelo mistério do destino, rituais ctônicos próprios.
Não sabemos o que de verdade acontecia naqueles rituais.
A arqueologia brevemente o dirá.
Sabemos que os segredos da serpente eram os segredos da vida dessa gente.
Em contraste, os homens de hoje praticam mil outros rituais.
A maior parte deles, rituais de apelo imediato, sem profundidade.
No fundo, o eixo profundo continua intocado, com filosofias e religiões e rituais tentando readivinhá-lo.
A par deste questionamento, os filósofos continuam escavando o ser, pelo pensar.
Como Heidegger, que na obra Sein und Zeit, o Ser e o Tempo, tentou analisar o Dasein, a existência, ou o ser que está aí.
Algo de metafísico.
De mistura com o gnoseológico.
Na raia existencialista.
Um ser em desconserto, como na linea serpentinata do maneirismo e nas oitavas do Desconserto do Mundo de Luís de Camões.
Mas o ser tem de ser levado na escavação
Também pela via sentimental e pela emoção vital.
Nada temos ainda na mão para decifrar a tríplice relação
Entre a linha serpenteante, a fraga da serpente e a serpente do Gênesis, com Eva.
Sabemos apenas que os rituais praticados
No dorso da Fraga da Serpente,
Em Santa Valha de Valpaços
Ou nos castros ainda ignotos de Vila Pouca de Aguiar
Significam que os segredos da serpente,
na totalidade e no seu envolvimento ritual e emocional,
São conhecimentos ancestrais que a escavação
Ainda nos revelará!
Jan Muá
28 de novembro de 2006
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