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Contos-->Filho Solteirão -- 07/11/2005 - 00:05 (wagner araujo da silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Filho Solteirão – 22.Outubro.2005 – 02:06

Dona Efigênia não agüentava mais seu filho Cróvis em casa. Quarenta e cinco anos de idade, solteiro, sem namorada, sem noiva e sem pretendente.
Dono de um humor de cão, Cróvis não conseguia se relacionar com as pessoas de maneira satisfatória. Brigava com tudo e com todos. Nada o satisfazia, tudo o incomodava.
Dona Efigênia então resolveu levá-lo à casa de bingo que freqüentava. No alto de seus oitenta anos de idade e viúva, o bingo era sua única distração. Local onde fazia a sua fezinha com juízo e onde podia conversar com suas amigas da mesma idade. E foram justamente essas amigas que lhe sugeriram a ida de Cróvis ao bingo. Quem sabe lá ele não encontraria alguma solteirona ou até mesmo uma viúva que por aquela casca de ferida se interessasse.
A contragosto Cróvis aceitou, mas ao chegar já começou a reclamar. Dizia que o lugar era abafado e barulhento.
Compraram, mãe e filho, as primeiras cartelas para o jogo. Um senhor com óculos que pareciam fundo de garrafa e que imitava o Silvio Santos se postou atrás de um púlpito para começar a cantoria dos números. Para Cróvis tudo era chateação e ao som do primeiro número virou martírio.
- Número vinte e dois. Dois patinhos na lagoa.
Cróvis não se agüentou e comentou:
- Mas que idéia original...
- Número quarenta e quatro, quaraquaquá.
- Parece um pato...
- Sessenta e nove. Boa idéia!
- Que indecente, nem respeita as senhoras que nem mais devem se lembrar o que é isso.
- Onze. Dois palitos.
- Deus me defenda!!!
- Nove. Seria nove ou seis?
Uma velhinha já um tanto calibrada após duas taças de vinho se antecipa a Cróvis e grita:
- Olha o tracinho embaixo do número, seu burro!

Entre um gole de chá e uma garfada na salada de rúcula, Dona Efigênia examina a casa em busca de uma noiva em potencial para seu filho. Mas nada vê. E o bingo continua...

- Trinta e três.
- Tá doente meu filho?
- Dezoito.

Nesse exato momento uma senhora grita que havia fechado a cartela. Bingo. As demais velhinhas xingam e dizem palavrões. Uma mais exaltada mostra um dedo simbolizando algo que ela mesma não tinha. O horrorizado Cróvis comenta com sua mãe:
- Credo, quanta véia boca-suja!


Nova rodada e dessa vez Cróvis ganha a maior bolada. Mulheres começam a olhar de forma diferente para ele. Cróvis se assanha. Decide pagar uma rodada de chá para todas as madames que lá estavam.
Dona Efigênia, que de boba nada tinha, chamou uma íntima amiga que acompanhada veio deu sua filha Jurema. A moçoila não era aquilo que poderíamos chamar de pitel, mas quebrava o galho.
Sentaram-se todos à mesma mesa e uma nova rodada iniciada foi. Rodada que seria a mais rica, a de maior valor, aquela que transforma um pé rapado em vossa excelência, o que não quer dizer muita coisa no Brasil moderno.
O senhor que os números sorteados narrava caprichava na emoção transmitida e as simpáticas velhinhas revelavam seu mais colorido vocabulário a cada número perdido.
Cróvis e a moçoila, no entanto, só tinham olhos um para o outro. Só ouviam um ao outro. Só desejavam um ao outro como prêmio maior.
De repente, dois sons pelo salão ecoaram. Um foi o grito de uma ensandecida senhora que o grande prêmio açambarcara. O outro, um apaixonado beijo entre Cróvis e Jurema que, de tão absortos que estavam, não perceberam que a cartela que a eles pertencia fora na realidade a vitoriosa.
Mas para eles, não importava. Nenhum dinheiro paga um grande amor.



Wagner -
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