· O bueiro
· Outro dia, andando na rua, me vi fazendo o mais recriminavel dos atos: joguei um papel de chiclete no chão. Um pequeno papel, de chiclete. Muitos poderiam pensar que por se tratar de um papel pequeno, não tem o menor significado. Mas já pensaram se todos fossem pensar da mesma forma como eu? As ruas estariam imundas. Antes fosse só isso. O pior foi que o mísero papel, sob o efeito de um vento forte, correu e entrou dentro de um bueiro. Como se tivesse vida própria. Pronto. O que mais faltava? Já tinha feito o rídiculo de joga-lo no chão, mas dentro de um bueiro? Onde já se viu?
Ai que a situação piorou. A minha consciência ficou pesada. Imaginei uma enchente. Aquele monte de ruas alagadas. Carros submersos. Pessoas desabrigadas. Uma catástrofe. Afinal, aquele papel contribuiria para isso.
Não que sozinho um simples papel cause tamanho problema. Mas assim como eu pensei e agi, muitos cidadãos devem fazer o mesmo. E fazem.
Aquilo não me saiu da cabeça. Dito e feito. Quinze dias depois, não é que São Pedro mandou uma perna dágua- nem pé não foi- para a cidade de São Paulo! Eu estava voltando do trabalho e em uma das ruas existe uma espécie de valeta, mas grande. Neste ponto foi que tentando passar meu carro ficou preso. E eu também. Não ia mais para lugar nenhum .O motor parou. Provavelmente deve ter entrado água. Comecei a entrar em pànico na medida que a água ia alcançando a porta.É hoje, pensei comigo. Daqui eu só saio para o cemitério. E logo aquela vozinha começou a soprar no meu ouvido: Tá vendo! Foi o papel de chiclete...Seu inconsequente! O meu pànico só aumentava. O resultado de tudo isso: meu carro até hoje tem cheiro de mofo. E eu não como mais chiclete. Só se for com o papel. Mas pelo menos cheguei em casa. Molhado, mas vivo.