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Cordel-->O PRÍNCIPE E A CAMPONESA -- 03/05/2014 - 22:14 (Carlos Alê) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

 





Dizem que num certo reino


o imperador Lombardo


tinha um filho valoroso


conhecido por Ricardo


e naqueles arredores


não havia mais galhardo


 


Como estava desejoso


de fazer o seu enlace


o herdeiro do monarca


pra sair desse impasse


procurava uma dama


entre as de sua classe


 


Pra poder satisfazer


seu desejo com presteza


deu um baile no salão


convidando a nobreza


não apenas do castelo


mas de toda redondeza


 


No castelo um feiticeiro


praticante de alquimia


aumentar o seu prestígio


era o que mais pretendia


pois vivia escondido


sem nenhuma regalia


 


Os feiticeiros do reino


se consideravam sábios


estudando toda noite


volumosos alfarrábios


sendo por toda nação


vigiados com ressábios


 


Mas o mago ambicioso


já havia fabricado


trabalhando em seu porão


um anel enfeitiçado


que daria a quem usasse


um poder inusitado


 


Uma certa baronesa


que o mago conhecia


aceitou enfeitiçar


o herdeiro com magia


pra subir ligeiramente


no degrau da fidalguia


 


Pois o mago precisava


promover a baronesa


e lhe dar pela magia


uma vida de princesa


pra ficar futuramente


dando cartadas na mesa


 


Nessa noite o herdeiro


recebendo a fidalguia


conversava com as damas


procurando todavia


uma que fosse perfeita


pra fazer-lhe companhia


 


Pois Ricardo no momento


que avistou a baronesa


disse para os convivas:


- Eu já tenho a certeza


que está aqui presente


minha futura princesa!


 


- Não vislumbro no salão


outra que seja mais bela!


Só conhece a beleza


quem já viu a face dela!


E passou o baile todo


cortejando a damizela


 


Os convivas os olhavam


meio que desconfiados


e durante toda noite


eles foram vigiados


mas saíram do salão


como dois apaixonados


 


Quando foi no outro dia


ele foi falar com ela


já estando decidido


a casar com a donzela


e passou o dia todo


sem sair do lado dela


 


E nos dias que seguiram


dela não se apartava


Por caçadas ou torneios


ele não se interessava


Na presença dos amigos


é só nela que falava:


 


- Nunca outro desejou


da maneira que a desejo!


Eu me sinto totalmente


delirante e arquejo


sem poder me controlar


no momento que a vejo!


 


- Eu não sei se ela é rosa


cinerária ou lisianto,


flor-de-maio ou miosótis,


margarida ou agapanto,


eu só sei que ela viceja


no jardim do meu encanto!


 


- Ela me deixa suspenso


com a sua formosura!


Escuto aves cantarem


uma nova partitura!


Vejo a lua mais clara


e nas neves mais alvura!


 


- Eu enfrento uma tropa


um dragão ou o que for


pra ficar por toda vida


desfrutando o seu amor


quando meus dias serão


como a estação da flor!


 


Mas Ricardo se tornou


com o apaixonamento


nos solares e aldeias


no assunto do momento


circulando o boato


de um enfeitiçamento


 


Calculando o problema


avisou um conselheiro:


- Na passagem da coroa


do monarca ao herdeiro


a futura imperatriz


manda no país inteiro!


 


O monarca absoluto


se mostrou preocupado:


- Eu casei com Dorotéia


sem estar apaixonado!


Casamento é só barganha


nos negócios do estado!


 


- Como ele está preso


feito peixe na barbela


deixem a guarda real


vigiando o quarto dela


pra podermos descobrir


quem visita a donzela!


 


Pois Ricardo pela dama


dia e noite suspirava


Por feitiço avassalado


dela não desconfiava


Nos encontros do jardim


com ardor se declarava:


 


- Basta a sua presença


pra deixar-me ofegante!


Nossas vidas se uniram


numa rima consoante!


Pra manter o seu amor


eu enfrento um gigante!


 


- Que farei se nunca mais


contemplar sua beleza?


Se em nossas despedidas


quase morro de tristeza


e me alegro ao recordar


que será minha princesa?


 


- Sempre fico ansioso


pra ouvir a sua voz


esperando o momento


em que ficamos a sós


desfrutando o que o amor


reservou só para nós!


 


- O amor que agora sinto


não senti por mais ninguém


com a força abrasadora


que eu sei que esse tem!


Só desejo para sempre


lhe amar e querer bem!


 


Percebendo que a paixão


foi ficando mais acesa


a fidalga interesseira


já com ares de princesa


meio que foi esquecendo


de ser uma baronesa


 


Na alcova em que dormia


com a sua criadagem


recusou-se a receber


quem não era de linhagem


impedindo o feiticeiro


de fazer sua chantagem


 


Pois o mago desdenhado


no orgulho da donzela


concluiu que precisava


retirar o anel dela


pra poder recuperar


seu controle sobre ela


 


Conhecendo que a dama


era alvo de suspeita


planejou o que faria


pra magia ser desfeita


sem saber que um vigia


já estava na espreita


 


Como ele trabalhava


com a sua alquimia


escondido num porão


duma torre de vigia


tinha acesso ao lugar


onde a dama residia


 


O piado de um mocho


avisou ser o momento


de o mago amufambado


ir subindo o pavimento


pra entrar no corredor


onde estava o aposento


 


Quando o mago chegou


onde a donzela dormia


se quedou maravilhado


pois a mesma parecia


pela sua formosura


uma flor em pleno dia


 


Recordando o motivo


de ficar extasiado


foi tirando da donzela


o anel enfeitiçado


pra voltar ao corredor


com o passo apressado


 


Mas chegando na escada


encontrou o sentinela


que estava esperando


pra fazer a esparrela


Sem ter como escapar


foi levado para a cela


 


Quando foi no outro dia


acordando muito cedo


a donzela decidida


a guardar o seu segredo


percebeu que o anel


não estava no seu dedo:


 


- Se Ricardo descobrir


que era tudo um feitiço


vou ficar como a rosa


que um dia perde o viço


sem ver mais o colibri


circundando submisso!


 


Pois a dama furiosa


chamou a sua criada


dando ordens para ela


procurar desatinada


o anel por todo quarto


e não encontraram nada


 


Nesse entre o herdeiro


de maneira repentina


esquecendo a baronesa


retomou sua rotina


abrandando os boatos


circulados na surdina


 


Como estava desejoso


de fazer uma caçada


preparou a comitiva


pra uma longa jornada


escolhendo uma floresta


como ponto de chegada


 


Pois o rei ficou feliz


ao saber que o herdeiro


retornou ligeiramente


a seu modo costumeiro


informando a novidade


para cada conselheiro


 


Na prisão o alquimista


tinha sido revistado


Escondido em sua roupa


o anel foi encontrado


Com bastante ligeireza


ao monarca foi levado


 


Não sabendo que o mago


já estava numa cela


a fidalga interesseira


sem receio nem cautela


foi pedir ao soberano


o anel que era dela:


 


- Digo à Vossa Majestade


que estou aperriada


pois preciso informar


que durante a madrugada


por vigia ou criado


minha jóia foi roubada!


 


O monarca escutando


respondeu colerizado:


- Esse larápio não é


nem vigia nem criado!


Ele é o feiticeiro


que está encarcerado!


 


- Como agora está preso


não feitiça mais ninguém!


Volte para o seu quarto


pra não ser presa também!


Se console com as jóias


dos baús que você tem!


 


Nesse entre o feiticeiro


conhecendo o resultado


numa cela escura e suja


se quedou desanimado


sem que pudesse entender


o que tinha dado errado:


 


- A vaidade foi o erro


da donzela interesseira


pois teria dado certo


feito da minha maneira


mas agora sem feitiço


vai continuar solteira!


 


Mas vamos deixar o mago


com a sua indagação


e até o fim da trama


encerrado na prisão


pra contar como Ricardo


viu-se numa aflição...


 


Pra Ricardo as caçadas


eram mais que um lazer


Quando estava acampado


para ali permanecer


não havia um trabalho


que não quisesse fazer


 


Certo dia que estava


construindo um tapiri


entretido na tarefa


viu chegando por ali


apartado da malhada


um robusto javali


 


Foi o azo que faltava


pra caçada iniciar


Os fidalgos avisados


começaram a montar


A matilha atiçada


fez o porco debandar


 


Um corcel rapidamente


foi frenado por Ricardo


que montou na sua sela


disparando sem retardo


num galope diligente


no encalço do javardo


 


Mas o grande javali


circundado pelo prado


desviava com sucesso


dentro do mato fechado


debandando na clareira


inda mais acelerado


 


O barão Hermenegildo


num cipó se embaraçou


Foi puxado para trás


no momento que tombou


sem poder se levantar


dessa queda que levou


 


E o conde Percivaldo


numa curva sinuosa


permitiu que o cavalo


de maneira vergonhosa


tropeçasse na raiz


duma nogueira frondosa


 


O marquês Tertuliano


com a pressa em passar


num terreno acidentado


fez seu baio resvalar


que sentindo o repuxo


começou a manquejar


 


E o Duque Marfumbino


guiando o cavalo seu


atalhando na campina


um revés nela sofreu


despencando num riacho


da pinguela que cedeu


 


A matilha que corria


em carreira desmedida


farejando uma raposa


num arbusto escondida


foi latindo para ela


do javardo esquecida


 


Só Ricardo tenazmente


prosseguiu na pradaria


espreitando o javardo


que de vista não perdia


Com destreza e volúpia


seu cavalo conduzia


 


Sem ajuda de cachorro


rastreando pelo prado


no cavalo Vitorioso


esperava o resultado


com o javali correndo


sem ficar distanciado


 


E o porco perseguido


por Ricardo na estrada


promovendo um desafio


sem igual numa caçada


escapava se afastando


feito carpa ensebada


 


Mas Ricardo pretendia


só acelerar o passo


pra manter o seu cavalo


bafejando no cachaço


do javardo que seria


derrotado por cansaço


 


Entretanto o javali


era firme na passada


Sem perder a rapidez


desde a sua arrancada


parecia uma flecha


pelo arco disparada


 


Avançando velozmente


pelo mato na carreira


esquivava pela trilha


numa fuga tão ligeira


que a planta engalhada


arrancava da touceira


 


Parecendo ser levado


pela força dum tufão


perpassando cupinzal


em que dava um topão


levantava pelos ares


espalhando pelo chão


 


Desdenhando a rapidez


que Ricardo o perseguia


parecia que o javardo


com a força que corria


não seria alcançado


nem por uma ventania


 


Vitorioso na montanha


por encosta ou ribeira


exibindo a sua raça


prosseguia na carreira


desenhando no trajeto


uma trilha de poeira


 


Sendo mesmo pertinaz


o cavalo de Ricardo


galopava projetando


sua sombra no javardo


pois voava pela mata


parecendo o furabardo


 


Vendo o javali fazer


galho de pau estalar


cipoal arrebentar-se


pedra no monte rolar


persistia no encalço


sem deixar se afastar


 


Pois Ricardo resoluto


conduziu o seu cavalo


sempre com velocidade


incessante no embalo


obrigando o javardo


a fazer um intervalo


 


Vendo o dito esbaforido


foi ligeiro que Ricardo


com o arco já no ombro


fez a mira sem retardo


disparando sua flecha


na costela do javardo


 


Atingido na flechada


a fera deu um grunhido


retornando à carreira


novamente perseguido


só faltando uma flecha


pra que fosse abatido


 


Pois varando as estepes


as picadas e atalhos


o javardo foi ficando


com a pele em fragalhos


sendo a mesma retalhada


na passagem pelos galhos


 


Sem poder se esconder


foi descendo num baixio


Resvalando nas areias


mergulhou fundo no rio


Pela sua afoiteza


num perau ele caiu


 


Preso pela correnteza


viu chegar esfomeados


perigosos crocodilos


atacando pelos lados


avançando sobre ele


com os dentes afiados


 


Pois Ricardo no baixio


com seu cavalo de raça


viu os ditos crocodilos


devorando a sua caça


Do maior dos javalis


só restou uma carcaça


 


Cavalgando na estepe


no regresso da viagem


Dom Ricardo já estava


percebendo a paisagem


como nunca poderia


avistada de passagem


 


Num atalho pelo bosque


deparou com arbustiva


com a fruta reluzente


parecendo nutritiva


não sabendo que a dita


pra saúde era nociva


 


Percebendo que a polpa


era farta em doçura


foi comendo com regalo


que estava bem madura


Mais adiante ficaria


com enjôo e tontura


 


Ao leitor que ansioso


quer saber da camponesa


vou dizer que ela saía


do seu lar para a devesa


quando avistou Ricardo


com aquela molestesa


 


Avistando o cavaleiro


parecendo combalido


foi correndo para ele


pra que fosse socorrido


vendo na fruta mordida


o que tinha acontecido


 


Quando ele da tontura


despertou recuperado


percebeu que tinha sido


para um leito carregado


Em seu lar a camponesa


lhe tratava com cuidado


 


Ao ficar observando


como era a família


viu na casa um ancião


de quem ela era filha


as galinhas e a vaca


a despensa e a mobília


 


Vendo como a camponesa


sempre a todo momento


dedicava ao velho pai


um distinto tratamento


Dom Ricardo estimou-a


pelo seu comportamento


 


Por seu turno a camponesa


quando soube que Ricardo


merecia reverências


por ser filho de Lombardo


perguntou-lhe o que fazer


para dar-lhe mais regardo


 


Dom Ricardo precisando


prontamente regressar


perguntou à campesina


se sabia lhe mostrar


o caminho mais ligeiro


para o monte-beira-mar


 


E se foram por subidas


e descidas para o monte


perpassando ribanceira,


matagal, devesa e ponte


procurando sua encosta


no perfil do horizonte


 


Quando seu acampamento


conseguiram encontrar


Dom Ricardo satisfeito


concedeu sem hesitar


sua tenda confortável


para a moça pernoitar


 


Quando foi no outro dia


na barraca da cantina


Dom Ricardo permitiu


que a singela campesina


se juntasse a sua mesa


mesmo não sendo grã-fina


 


E Ricardo em altas vozes


disse a todos na mesa:


- Mesmo não sendo fidalga


essa jovem camponesa


sempre trata o seu pai


qual se fosse a realeza!


 


Mas estava no momento


da campesina partir


Dom Ricardo relutante


sem poder lhe impedir


ordenou a seu valete


que a fosse conduzir


 


Antes da sua partida


a campesina zelosa


ensinou a Dom Ricardo


qual a fruta venenosa


sendo que a diferença


era ser menos lustrosa


 


Dom Ricardo não queria


despedir-se dela sem


uma boa recompensa


para ser grato também


ofertando à campesina


um garboso palafrém


 


Dom Ricardo inda ficou


mais um tempo acampado


conservando com o sal


tudo quanto era caçado


mas chegava a temporada


dos torneios no reinado


 


No retorno ao castelo


o herdeiro com franqueza


foi dizer ao soberano


que não tinha mais certeza


se queria aceitar


por esposa a baronesa


 


Ele então ficou sabendo


que esteve enfeitiçado


e aquele casamento


não seria celebrado


Tudo estava resolvido


com o mago encarcerado


 


Dom Ricardo a palavra


do monarca escutando


no invés de indignar-se


ou ficar se lamentando


com aquela novidade


retirou-se exultando


 


Nesse entre a patuléia


repetia em cada esquina


que havia uma suspeita


circulando em surdina


de Ricardo apaixonado


por donzela campesina


 


E o rei por ser ladino


já sabia o que fazer


empregando o feitiço


do anel em seu poder


O leitor já imagina


o que vai acontecer...


 


Pra movimentar as peças


como quem joga xadrez


foi até seu gabinete


convidando um marquês


com as filhas damizelas


que totalizavam três:


 


- Tendo sido enganado


por uma dama fingida


Dom Ricardo quer saber


quem é minha preferida


pois deseja desposar


com a minha escolhida!


 


- Sempre vi em vocês três


predicados não pequenos!


Se Bianca é virtuosa


e Sabrina não é menos,


Lady Julia tem ainda


atributos que são plenos!


 


O anel do feiticeiro


foi mostrado para elas


como se fosse relíquia


de remotas parentelas


O que ele pretendia


explicou às damizelas:


 


- Essa jóia tem valor


que sequer posso medir!


Eu gostaria de ver


em que dedo vai servir!


Quem será a minha nora


o anel vai decidir!


 


A marquesa Lady Julia


foi a privilegiada


mesmo sendo por acaso


que a jóia enfeitiçada


só serviu no dedo fino


da que era a enteada


 


Dom Ricardo nessa noite


no seu leito ressonando


foi varando a madrugada


com a marquesa sonhando


Viu-se no jardim do paço


pra donzela declarando:


 


- Pra manter o seu amor


eu enfrento uma quimera!


Do seu lado vou estar


numa eterna primavera!


Quando quero lhe rever


é tão longa minha espera!


 


- E chegando o momento


de rever sua figura


como não existe outra


com a sua esplendura


nada pode ser maior


do que a minha ventura!


 


- A sua imensa beleza


já por todos conhecida


nas mulheres do castelo


de vaidade desmedida


nem daqui a muitas eras


não veremos repetida!


 


- Se não posso resistir


a muito mais lhe querer


é preciso que me diga


tudo o que posso fazer


para ter o seu amor


que anseio em merecer!


 


Quando foi no outro dia


o primeiro dum torneio


Dom Ricardo preparou


seu corcel sem titubeio


Encontrar a damizela


era o seu maior anseio


 


Como era seu costume


desfilou na galeria


exibindo seu brasão


junto da cavalaria


terminando a parada


acenando à fidalguia


 


Avistando Lady Julia


no palanque de repente


com a força do feitiço


dominando a sua mente


desposar com a donzela


desejou ardentemente


 


Motivado por feitiço


desde o embate primeiro


Dom Ricardo já estava


com o seu golpe certeiro


derrubando o cavalo


junto com o cavaleiro


 


Nem a lira de Ariosto


ou a pena de Boiardo


poderiam descrever


como era que Ricardo


avançava na barreira


parecendo um guepardo


 


Nas disputas seu cavalo


era o mais encarniçado


Parecendo arremeter


com a fúria do tornado


Vitorioso avançava


num galope martelado


 


Sir Rivaldo, seu amigo


destacou-se no combate


No seu baio Puro-Sangue


o mais firme no embate


em vitórias conquistadas


com Ricardo estava empate


 


Se encontrando na arena


pra medirem a destreza


foram ambos aplaudidos


pelo povo e a nobreza


pois seria uma disputa


acirrada com certeza


 


Quando o júri deu sinal


ordenando a partida


os cavalos no impulso


dispararam na corrida


provocando no recontro


a mais firme rebatida


 


Foi tão forte o fragor


que ferindo os ouvidos


fez estrondo imitando


um milhão de estampidos


parecendo mil leões


ressoando seus rugidos


 


Sir Rivaldo velozmente


foi levado para o chão


pois Ricardo motivado


no impulso da paixão


fez igual uma centúria


pondo abaixo um portão


 


Bem distante do corcel


Sir Rivaldo foi lançado


como um freixo que caiu


por machado derrubado


sem poder se levantar


declarou-se derrotado


 


O herdeiro nessa hora


comprovando seu valor


dessa etapa do torneio


foi o grande vencedor


Todo povo na platéia


lhe aclamava com ardor


 


Mas chegava o momento


do herdeiro indicar


quem seria a RAINHA


DA BELEZA do lugar


Bastaria para isso


a grinalda lhe passar


 


Perpassando o palanque


ele já tinha certeza


que só uma escolheria


pra RAINHA DA BELEZA


Era a jovem damizela


Lady Julia, a marquesa


 


Recebendo a grinalda


do herdeiro e campeão


Lady Julia agradecida


estendeu-lhe sua mão


pra que ele a beijasse


como era a tradição


 


Mas Ricardo espantado


reparou que seu anel


destoava do requinte


do colar e do chapéu


e não tinha a fineza


que estava no seu véu


 


De repente o herdeiro


recobrou-se do feitiço


percebendo que por ela


seu desejo era postiço


calculou que seu anel


era quem fazia isso


 


E os dias transcorreram


sem Ricardo demonstrar


a menor das ansiedades


de com a jovem casar


Só queria no torneio


mais vitórias alcançar


 


Nesse entre o monarca


percebendo que o trono


já estava por um triz


de ficar no abandono


vendo os dias avançando


quase que perdia o sono:


 


- Para não ficar refém


dos caprichos de Ricardo


vou passar minha coroa


para um filho bastardo!


É melhor que me suceda


o que é o mais galhardo!


 


Escutando o argumento


respondeu-lhe a rainha


que de tudo discordava


e pra não ficar sozinha


respaldou na patuléia


as motivações que tinha:


 


- No primor da primavera


com a flora em pleno viço


a rainha das abelhas


não se afasta do cortiço


e o povo quer o trono


dado a um filho castiço!


 


Escutando essas palavras


e mostrando no momento


que dos anseios do povo


tinha mais conhecimento


o monarca à Dorotéia


expressou seu pensamento:


 


- Todo povo nas aldeias


já repete um brocardo:


a coroa do império


na cabeça de Ricardo


mesmo leve e suntuosa


vai pesar igual um fardo!


 


Pois de fato o herdeiro


numa pressa manifesta


com torneio acabando


não ficou pra sua festa


Na garupa do cavalo


disparou para floresta


 


Foi Ricardo cavalgando


entre faias e salgueiros


escutando o mais solene


rumorejo dos ribeiros


feito pela correnteza


que descia dos outeiros


 


Lá no alto da montanha


que estava margeando


farfalhava a folhagem


dos pinheiros ondulando


quando sobre a estepe


viu tulipas vicejando


 


Apeando nesse trecho


recolheu a flor bonita


arrancando prontamente


do seu traje uma fita


pra fazer um ramalhete


enlaçado com a dita


 


E seguindo a viagem


para o leste da colina


como era seu desejo


avistou a campesina


que estava passeando


pelo dorso da campina


 


Indo ao encontro dela


perguntou à camponesa


se daria-lhe a honra


de ser a sua princesa


mas que ela aceitaria


ele não tinha certeza


 


A singela campesina


ouvindo sua proposta


confirmando a suspeita


de já ter razão oposta


recebendo suas flores


formulou essa resposta:


 


- Sou apenas uma simples


camponesa da mão grossa!


A minha vida tem sido


da choupana para a roça!


Vivo com minha família


na mais humilde palhoça!


 


- No costume camponês


fui criada desde cedo!


A nobreza é um anel


que não cabe no meu dedo!


Eu sou a filha do campo


a irmã do arvoredo!


 


- Aprendi a respeitar


toda a força e grandeza


que eu vejo nos lugares


onde grassa a natureza


sem ter nunca invejado


os que gozam da riqueza!


 


- Como vou me acostumar


com as pompas do salão


se na relva mais macia


venho andar de pé no chão


e as águas da vertente


bebo na concha da mão?


 


- Entre um doce levante


e um brando anoitecer


quero andar no arvoredo


das campinas para ver


que a sombra da ramagem


faz desenhos sem querer!


 


- Quero ver o horizonte


sem muralhas me cercando!


Ao andar nos chaparrais


avistar nuvens passando


com a mão leve do vento


as puxando e esgarçando!


 


- Procurar na pradaria


onde nasce a violeta!


Ver a graça delicada


que exibe a borboleta


e o sol se espargindo


no entorno do planeta!


 


- Ver a neve borrifada


sobre a serra morena!


Ver a água transparente


da lagoa mais serena!


Ver no vasto firmamento


noites com a lua plena!


 


- Uma prole de linhagem


e as glórias do reinado


não conseguem seduzir


a quem nada tem faltado!


Quem me der um diadema


nada não terá me dado!


 


E Ricardo a escutando


inda mais lhe estimou


Deu razão à campesina


e com tudo concordou


Refazendo a proposta


desta forma lhe falou:


 


- Dou até minha espada


na enxada do plebeu!


Meu palácio na palhoça


pra ficar ao lado seu!


Só preciso que seu pai


nos consinta o himeneu!


 


- Eu espero a decisão


mesmo se ele pedir


pelo o aconselhamento


tempo para refletir


aceitando totalmente


o que ele decidir!


 


Pois o pai da campesina


foi bastante cauteloso


explicando para a filha


quanto ia ser custoso


ver Ricardo aprovado


para ser o seu esposo:


 


- Você vai lhe ensinar


o trabalho no roçado!


No lugar que estiver


você fica do seu lado!


Sugerindo alguma coisa


considere reprovado!


 


- Ele tem que aprender


a cortar lenha em grosso


e acordar de manhã cedo


pra buscar água no poço


com a vara de bambu


machucando no pescoço!


 


- Todos dias começar


de manhã sua jornada


já saindo para o campo


carregando a enxada


só voltando para casa


com a roça já plantada!


 


- Ele tem que persistir


no raspar da terra dura


aprendendo a esperar


pra ver a safra madura


merecendo o regozijo


com o tempo da fartura!


 


Pois Ricardo escutando


pela jovem a proposta


aceitando sem ressalvas


o que nela foi exposta


garantiu-lhes que daria


prontamente a resposta


 


E fazendo de bom grado


tudo quanto exigido


comprovou que poderia


ser pra ela um marido


e com isso a campesina


aceitou o seu pedido


 


Mesmo o rei e a rainha


deram seu consentimento


Com a minha narrativa


tendo aqui encerramento


entre amigos e parentes


celebrou-se o casamento


 


FIM


 

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