- Por favor, a senhor pode me embrulhar pra presente? Perguntei a balconista da papelaria. Ficava ao lado de casa, mas raramente ia, pois costumava usar uma ao lado de meu trabalho.
- A senhora vai ali na frente, escolhe o papel que nós embrulhamos.
Dirigi-me a frente da papelaria e optei por um papel com fundo azul, com desenhos infantis. O presente era para meu sobrinho, que completava quatro anos naquele dia. Eu estava atrasada para a festa e, como sempre, deixara o presente para a ultima hora.
- Aqui está, minha senhora. Gostaria de pedir rapidez, pois estou com um pouco de pressa.
- Serei o mais rápida que posso. Cadê o presente?
- Desculpe, e abri a bolsa, retirando um caminhão de plástico colorido e entreguei à ela.
Percebi que me olhou com um certo ar de reprovação. Está certa que havia pagado R$ 3,00 pelo carrinho lá na 25 de Março, mas até que era bonitinho, e eu não me dava muito bem com essa cunhada. Ela estava sempre criticando e dando indiretas, dizendo que eu era pão - dura. No fundo acho que tinha inveja, pois ela não trabalhava e estava cansada de ficar em casa, enquanto eu trabalhava, ganhava bem e era independente. O meu sobrinho era parecido com meu irmão, uma graça. "Mas então porque não comprar algo melhor, pensei comigo...."
A moça ainda estava fazendo o embrulho, e a festa já começara. Estava atrasada. Só que festa de criança era um saco. Um monte de criança correndo naquele salão pequeno, as mulheres fofocando sobre filhos , empregada e novelas, e eu um peixe fora da água.. Até que eu fazia força, mas a mãe da minha cunhada me olhava de cima abaixo, coisa que já comentara com meu irmão, mas ele nada fizera.
A balconista terminou o embrulho, e eu perguntei quanto era. Ela retirou um talão de pedidos do bolso, uma caneta , e anotou:
- Papel- R$ 2,00
- Serviços de Embrulho R$ 1,50
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R$ 3,50
Eu não acreditei. Mais caro que o presente.
- Minha senhora, isto é um absurdo..... Olha o preço... A senhora te me cobrando mais caro do que o presente?
- Esse é o valor. O preço está anotado ali nas folhas de presente. A senhora é que não viu.
- Pra falar a verdade, não me preocupei, mas não imaginei que pudesse ser tão caro...
- Praticamos o mesmo preço que as demais papelarias do bairro há mais de 2 anos.
Eu não tinha alternativa a não ser pagar. E na verdade nem me preocupei em ver quanto custava, pois o que eram R$ 3,00? Nada.
E ai me dei conta do absurdo que estava fazendo. Dar um presente deste valor para um sobrinho que tanto me amava. Eu era sua madrinha, e também o amava.Meu irmão até já me dera uns toques, mas eu achava que era ciúme da minha cunhada.
A balconista continuava lá, com a mão estendida, esperando eu pegar o papel para ir ao caixa pagar.
- Pode ficar com o embrulho. É pro seu filho.
- Eu não tenho filho, disse ela.
- Então, de para o seu sobrinho.
- Ele ta cheio desses carrinhos. O pessoal mais abastado do bairro vira e mexe dá brinquedos para as crianças: é natal, dia das crianças, ano novo, carnaval.
- Então...
- Leva, minha senhora. Dá para uma criança pobre na rua, se bem que também já devem ter.
Eu peguei o embrulho de volta. Passei no shopping, comprei um negocio legal pro Igor, e o embrulho disse que era para ele dar para uma criança carente.
No dia seguinte, minha cunhada ligou muito feliz, agradecendo e dizendo que ele adorou o brinquedo. E o embrulho, ele deu pra um menino logo que saiu de casa para a escola de manhã cedo.
Desde então, penso duas vezes antes de comprar alguma coisa. Percebi que não é preciso esbanjar. Mas também, não podemos desprezar a quem amamos. Devemos mostrar o amor e a consideração
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