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Contos-->O EXEMPLO DA "NEGRINHA" -- 30/10/2005 - 19:09 (Elias Gonçalves Dias) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
RACISMO

Juarez era bisneto de escravos morava na comunidade quilombola Zumbi dos Palmares desde o seu nascimento. Trabalhava numa usina de cana-de-açúcar, na qual tinha entrado como bóia-fria e agora, passados 5 anos, ocupava o cargo de chefe de seção. Com o falta de matéria-prima na região, os proprietários decidiram migrar para outro lugar. Juarez relutou em aceitar a transferência, porém, a proposta de promoção para supervisor de área era tentadora. Ele pensava no bem-estar de sua família e principalmente em poder oferecer bons estudos para Tereza, já que na comunidade só tinha o 1º Grau. Como sua filha já estava com 13 anos e na sétima série, logo estaria precisando de outra escola.
Quando ele chegou em casa e disse que tinha aceitado a oferta de transferência a apreensão foi geral. Não somente Tereza e dona Eleonor, mas toda a vizinhança ficou preocupada, Eles viam na televisão as notícias sobre o racismo nas cidades e isso fazia aumentar ainda mais a preocupação de todos.
Quando chegou o dia da mudança foi a maior tristeza. As pessoas, cabisbaixas e silenciosas, iam colocando a mudança no caminhão e de vez em quando se ouvia um soluço de choro.
A viagem foi tranqüila. A casa que a empresa tinha alugado para Juarez era modesta, porém, confortável. Logo que chegaram Tereza notou a forma estranha como alguns moradores os olhavam. Ninguém apareceu para ajudar a descarregar o caminhão e isso fez com que ela se lembrasse da comunidade. Ela sabia que lá isso era impossível de acontecer. Acabaram a arrumação tarde e Tereza, cansada, caiu na cama e só acordou no outro dia, às 9:00h. Sua mãe já tinha feito o café e seu pai já tinha buscado o pão. Ela comeu e ficou por um tempo na frente da sua casa. Algumas meninas de sua idade passavam, olhavam para ela, faziam comentários e ficavam sorrindo.
Quando dona Eleonor apresentou o boletim da Tereza na escola, todos se impressionaram com as suas notas. 10 e 9 tinha aos montes. Quando chegou na porta, a maioria dos alunos olharam com olhar de surpresa para ela. A pedido da professora, Tereza se apresentou e quando disse que estava vindo de uma comunidade quilombola, fez questão de ressaltar que lá era um excelente lugar para se viver. Alguns alunos riram dessa afirmação. O tempo passou e Tereza fez poucas amizades naquela escola. A discriminação pela cor da sua pele era grande. Dentre os colegas que discriminavam Tereza, um grupo se destacava. Era formada por meninas com idade entre 12 e 15 anos que não se contentavam somente em discriminar à distancia. Sempre que falavam com Tereza era com a intenção de ofendê-la com frases racistas, o que, às vezes, levava Tereza às lagrimas. A líder desse grupo era a Ananda. Por mais incrível que se pareça Ananda não era branca.
Aquela situação constrangedora durou por 4 meses. As professoras lutaram contra aquela situação. Palestras, filmes e conselhos não foram suficiente para acabar com aquilo.
Porém, um fato mudou toda a história. A aula tinha terminado e Tereza estava no ponto de ônibus quando Ananda e sua turma vieram atormentá-la. “E ai, negrinha fedida, passou direto”, “Cuidado, macaquinha. A lei Áurea foi assinada à lápis”, “Quando é que você vai voltar pro seu quilombo, escrava burra”, “Aceita uma banana.”. Essas ofensas duraram até o momento do ônibus de Tereza chegar. Ananda atravessava a rua olhando para trás e xingando a colega. Do outro lado da pista vinha um carro em velocidade média, porém o motorista não estava vendo Ananda. Tereza deixou suas bolsa no chão e saiu em disparada na direção de Ananda. Quando o carro se aproximou, Tereza se jogou sobre ela e o veículo passou bem próximo das duas. Ananda se levantou, porém Tereza continuou no chão. Quando Ananda viu que Tereza sangrava, começou a gritar desesperadamente. Uma professora veio, colocou Tereza no carro e a levou para o hospital. Feita a consulta o médico disse que em principio não era nada grave, porém Tereza teria que ficar 48 horas em observação.
Ananda foi para casa pensando em tudo aquilo. Como uma pessoa que ela perseguia por tanto tempo, a quem ela fazia questão de ofender e humilhar, tinha tido tanta coragem de se jogar na frente de um carro para livrá-la. No dia seguinte, na escola, tudo o que se comentava era sobre aa atitude de Tereza. Os professores aproveitaram aquele caso para trabalhar ainda mais sobre os malefícios do racismo. Uma das professoras sugeriu que os alunos fossem visitar Tereza no hospital. No ônibus podia se notar um clima de muita preocupação e ansiedade. As meninas que faziam parte do grupo de Ananda estavam cabisbaixas e algumas tinham os olhos vermelhos pelas lágrimas.
Deveriam entrar somente 4 alunos por vez. Ananda entrou no 2º grupo e estava decidida a dar o fim naquela situação constrangedora. Passou na frente das colegas, abriu a porta, foi até Tereza e deu-lhe um longo abraço. Em seguida, chorando pede a Tereza perdão pelas coisas que ela tinha lhe feito desde o dia em que ela a viu pela primeira vez. Tereza se abraça a Ananda, diz que nunca conseguira ter ódio dela e diz que a perdoava. Ficam abraçadas e chorando até que uma enfermeira vem e retira Ananda do quarto.
O dia de retorno de Teresa à escola foi uma verdadeira festa. Faixas, cartazes, beijos, abraços e discursos marcaram aquela data.
A tarefa seguinte, liderada por Ananda, era levar um grupo de alunos para conhecer a comunidade quilombola Zumbi dos Palmares. A Tereza trabalhava como guia turístico, informando aos colegas como funcionava a comunidade. Os alunos comentavam sobre a diferença entre aquelas pessoas e os moradores da cidade. Na hora do almoço foi servida uma comida típica, a base de mandioca e peixe, que todos comeram como se fosse a comida mais gostosa de suas vidas. No fim da tarde retornaram com a certeza de que aquela tinha sido uma das atitudes mais significativas que tinham realizado.
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