"Tortello conhecia muito bem Grego e o Latim, e razoavelmente Italiano, Inglês e Francês. Somando-se o Português temos o conhecimento de seis idiomas o que o classifica com um filólogo"
A seguir, leia o discurso para homenagear o patrono do articulista quando da sua posse como sócio efetivo do Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Sorocaba (IHGGS) no dia 04 de março de 2001.
Douglas Lara
Nosso homenageado deste dia, professor João Tortello, marcou presença e influenciou a vida de milhares de estudantes. Muitos se tornaram formadores de opinião.
Mesmo após sua morte ocorrida em 27 de julho de 1994, o professor de português que durante quase 7 décadas dedicou sua vida ao estudo e ensino, continua presente em nossas mentes e corações.
Seus ex-alunos sabem a sorte que tiveram ao tê-lo como mestre. O que as vezes não era fácil, pois o professor Tortello era perfeccionista , mais sabia como ninguém suscitar a chama do amor pela nossa língua pátria.
Sempre de forma modesta e agradável, todo e qualquer aluno que solicitava uma informação não ficava sem resposta, por escrito e no caderno do aluno fazia as correções. Jovial e alegre estava sempre trabalhando no que amava.
Recapitulemos sua biografia.
O homem e a obra
Nosso patrono e homenageado, professor João Tortello nasceu em Boituva aos 8 dias de agosto de 1923, filho de Maria José da Luz e Roque Tortello.
Leonino de agosto seu destino, parece-nos já estava determinado, seria um educador da língua pátria, como poucos.
Veio para Sorocaba ainda criança, tendo concluído o curso primário em 1936 no Grupo Escolar Senador Vergueiro. Seu professor era o sr. Enéas Proença de Arruda. Residia com seus pais na rua Assis Machado, 470 no bairro de Além Ponte.
Foi admitido em 22 de fevereiro de 1937 no Ginásio do Estado em Sorocaba. Seus boletins escolares do primário continham notas das matérias e comportamento exemplares - seu progenitor assinava algumas vezes Tortelli, porém a partir de certo momento não mais apareceram passando tanto pai como toda família chamar-se Tortellos, que corresponde
a Tortella se respeitarmos a grafia do sobrenome italiano. O marco da unificação do nome
João Tortello, ocorreu quando o obstinado jovem adentrou no "Estadão" (o atual Escola Estadual Júlio Prestes de Albuquerque) de saudosa memória para muitos que tiveram a gentileza de aqui comparecer nesta data. E, isto poderá ser constatado a qualquer momento nos registro de admissão nos documentos do "Estadão", devidamente assinados pela inspetora Maria de Lourdes Lambert e pelo diretor Roberto Pascoalick, que os acompanharam
nos anos letivos de 1937, 1938, 1939, 1940 e 1941.
Suas notas não deixam duvida de sua aplicação, genialidade e obstinação para os estudos. O
progresso era mais do que patente no período de sua adolescência. A título de exemplo podemos citar a média geral na primeira série ginasial (1937) foi de 9,2 pontos enquanto que em em 1941 (quinto ano) sua média geral tinha subido para 9,7.
Não resta duvida tratar-se de aluno brilhante, sempre o primeiro da classe - um dos poucos alunos que sempre usou a fitinha verde-amarela de melhor aluno de sua classe. Uma grande distinção portanto de nosso patrono que orgulhosamente homenageamos nesta manhã, no Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Sorocaba, o qual posteriormente em conjunto com outros ilustres cidadãos ajudou a fundar em 03/03/1954, completando portanto
seu 47o aniversário no dia de ontem.
Suas melhores notas no ginásio, nem sempre foram português e literatura - que ficavam milimetricamente abaixo das notas de latim, francês e inglês.
Milimetricamente pois um aluno que fica apenas 0,3% da nota máxima geral na 5a série ginasial não deixa muito espaço para grandes variações entre as matérias. Podemos portanto afirmar tratar-se de aluno excepcional, pois tinha nota 10 ou 100 em todas as matérias, além de 100 em comparecimento combinado com um ótimo comportamento.
Sua vocação para as letras surgiu quando cursava a 4a série ginasial (15 anos), ao escrever o poema
Mão Paterna, dedicado a seu pai, Roque Tortel-lo, então falecido.
Continuou seus estudos na Universidade de São Paulo, onde se formou em Letras Clássicas. Fez concurso para o magistério e escolheu a cidade de São Vicente para lecionar. Posteriormente removido para o Instituto de Educação Dr. Júlio Prestes de Albuquerque, onde teve oportunidade de lecionar junto a professores como Elisa e Nelson Guedes,
Dulce Pupo, Victor Strocka, Arthur Fonseca, Ruy Nunes, Benedicto Cleto e tantos outros, destacou-se como mestre de largos e profundos conhecimentos.
Iniciou o curso de Direito sob as arcadas do Largo São Francisco (USP), concluindo-o na primeira Turma da Faculdade de Direito de Sorocaba, a FADI, com o mérito de primeiro aluno, onde ensinou Redação Forense.
Tortello conhecia muito bem Grego e o Latim, e razoavelmente Italiano, Inglês e Francês. Somando-se o Português temos o conhecimento de seis idioma o que o classifica com um "filólogo". Como pessoa discreta e humilde, em nenhum momento permitiu assim ser chamado.
Casou-se com a também professora, Maria Helena Nóbrega em 23 de dezembro de 1950. Tiveram
cinco filhos: Paulo Fernando, João Eduardo, Elza Maria, Antônio Carlos e Pedro Marcelo, e nove netos.
Após sua morte, muitas homenagens foram prestadas das quais relaciono algumas:
1. A crônica escrita pelo teatrólogo José Rubens Siqueira "Arte é o que o artista faz". Publicada no jornal O Estado de São Paulo em 30 de julho de 1994,
2. Outra, escrita pelo publicitário Rui Batista de Albuquerque Martins "Pavarotti, Tortello, Aloísio, Cleto e Você". Jornal Diário de Sorocaba de 16 de julho de 1996, e
3. Perpetuação do nome João Tortello ao Centro de Formação e Aperfeiçoamento do Magistério, conforme lei estadual 9.370 assinada pelo governador Mário Covas em 17 de julho de 1996. A iniciativa resulta de projeto do deputado Caldini Crespo apresentado
e aprovado pela Assembléia Legislativa.
Agradecimentos
- A professora Maria Helena Nóbrega Tortello, que nos atendeu inúmeras vezes, bem como forneceu documentos e dados do Professor Tortello.
- Dr. Geraldo Bonadio, presidente da Academia Sorocabana de Letras, que indicou a Sônia Cano, sócia do IHGGS e membro da ASL.Também indicou um numero enorme de ex-alunos do Tortello, Orientou-me, e gentilmente enviou material publicado pelo jornal Cruzeiro do Sul, a respeito,
- Professora Sônia Cano que ajudou durante todo o processo de preparação deste elogio com paciência em todos os momentos. Teve também a gentileza de emprestar seus impecáveis cadernos usado quando aluna do mestre Tortello
- Professora Myrna Ely Atalla Senise da Silva, da Academia Sorocabana de Letras que por sua iniciativa procurou-nos para dar seu ponto de vista sobre o Tortello,
- O Dr. José Carlos (o Zeca) que pacientemente nos atendeu em seu consultório e telefonemas para explicar-me porque a dupla de truco Baldy -Tortel-lo eram imbatíveis, quando jogavam truco aos sábados.
- Peço desculpas por não citar todos nominalmente, pois o nome João Tortello passados 7 anos de seu falecimento abre toda e qualquer porta/agenda de todos que foram seus ex-alunos.
Espero ter feito justiça ao querido mestre Tortello.
Douglas Lara é sócio efetivo do IHGGS.
João Tortello (nascido em 8/8/1923 - falecido em 27/7/1994)
