Carta a um Amigo
Ah, percebi bem, o que minhas palavras te levaram a compreender. A palavra, muitas vezes, é ardilosa e trama com intenções. Ainda assim, em meio a aparente obscuridade que cria, permite encontros, trocas prazerosas...
Nem sei, se sou merecedora da admiração que dizes ter pela minha escrita. De verdade, que não me percebo assim. Costumo dizer que sou insistente em minhas tentativas poéticas. Não me falta o interesse, o desejo pela busca da aprendizagem...apraz-me o voltear da caneta (sim, porque na maior parte das vezes, prefiro métodos "arcaicos" de composição...risos), o hiato que se estabelece entre o sentir e o encontro da palavra...ah, nestes momentos, sinto que a vida resignifica-se e que tudo é possível. Li ainda agora uma frase da escritora Anaïs Nin que bem expressa alguns dos meus sentimentos, no que se refere a escrita: "A verdade é que todos nós vivemos numa prisão. Da minha só posso escapar pela escrita. Os outros que continuem dormindo em seus quartinhos escuros". (Anais Nin, escritora francesa (1903 - 1977). Embora alguns críticos teimem em enquadrá-la com o ranço de escritora erótica, penso que Anaïs escreve sobre o universo humano de forma irreverente e reveladora, porque finda por fazer confidências que sequer ousamos pronunciar em pensamentos. A alma feminina à flor da pele que se expõe de forma natural termina por me seduzir, ainda que destoe em meus olhares, o emprego de alguns vocábulos que ela usa de forma legítima. Isto deve ser fruto do lirismo que me é tão visível e que finda por sugerir a sutileza, o dizer-se revestida em véus...talvez, porque eu apenas sei oferecer minhas palavras envoltas em transparências suavemente reveladas pela brisa cúmplice de um olhar, que arrisca ler-me, revirar-me e tatear-me em entrelinhas.
Quanto a escrever-me, faço-o sempre. Como já mencionei, a falta de tempo não limita, o que me é agradável. Em tuas palavras, acabo por encontrar-me também e, acrescento mais algumas letras a minha história.
© Fernanda Guimarães
Em 20.07.2003
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