AEROPORTO...
Não,
por muito que tenha presumido saber,
não, não sei quem sou...
Fiz comigo milhares de ensaios íntimos,
em princípio,
apenas defronte às vicissitudes da vida,
e depois,
em sucessivas tentativas para aprofundar-me,
tão-só em face de mim próprio,
ávido de me descobrir e reconhecer-me...
Perpassei cerebralmente
a incontabilidade de minhas sucessivas mudanças,
analisei com cuidada meditação
meus sucessos e insucessos,
medi, pesei, quantifiquei,
buscando e rebuscando um resultado
onde pudesse enfim definir-me...
Em vão,
em vão e mais ainda desnorteado
sob o íman do almejado norte
que insisti e persisti encontrar
algures no horizonte interior
que sempre, sempre invisível,
sempre inexpugnável se me deparou...
Concluí então que,
além de um mero satélite
em torno de mim mesmo,
rodando e transladando como qualquer astro,
ingénuo meteorito às vezes,
não, em definitivo não,
por muito que tenha presumido saber,
não sei nem nunca saberei quem sou!...
António Torre da Guia |