Tinha uma pedra no meio do caminho...No meio do caminho, não tinha só a pedra. Tinha a mala, as roupas espalhadas pela grama, sapatos, barbeador... Juntando seu drama ao poema de Drummond, Silvane escreveu no diário, como o marido saíra de sua vida.
Todos os pertences no jardim, a troca da fechadura e como única justificativa, uma certidão de nascimento de uma criança de nove anos , registrada por ele.
Com ela, não tinha nenhum. Dez anos de casamento e ele não queria filhos. Dizia que mulher grávida ficava horrorosa.Se engravidasse, ficaria nove meses sem tocá-la.
Tudo começou com aquela mulher adentrando pelo escritório e quase esfregando a certidão na cara de Sil. Queria encontrar o bandido do pai de seu filho, para comprar remédios para o menino.
Silvane ouviu-a, leu a certidão. As mãos tremiam. Ali mesmo, tirou xerox do documento e levou a cópia para casa.
Tinha trinta anos... estava louca para ser mãe, trazer um pequenino ao colo, alimentá-lo. Um filho... um troféu do amor, da partilha, da fidelidade
As lágrimas nublavam seus olhos. Dirigia seu carro como um robô.Várias vezes avançou sinais. Não via nem o verde nem o vermelho, mas conseguiu chegar em casa ilesa, pelo menos por fora...o coração aos pedaços.
Juntou as coisas do marido e jogou-as pela janela. Pegou o diário, abriu na página do dia e escreveu:
"Tinha uma pedra no meu caminho...mas acabo de tirá-la para seguir na caminhada". |