Esta rúbrica é ideal para o desabafo escrito a solo, tal como se fala para a parede, afagando o ouvido com a própria voz.
Ontem, ao cair da noite, tocou-me uma agradável senhora, cerca de cinquenta e poucos Marços, com aspecto deveras chique, aparato cujo esmero me pareceu, à primeira vista, advindo de bem assente tradição.
Bem... Logo que se descontraiu e se esqueceu do ritmo redondante... Olari-lari-lolé... Toninho põe-te a pé e foge, se não levas com a vassoura...
Aguentei a "égua" aos pinotes e fui tirando o melhor que pude os nabos da púcara.
Pois... Era dona de uma peixaria no mercado do Bolhão. Tinha uma amiga chamada Laurinha que lhe dava preciosos conselhos sobre elegância no traje.
Só sabia bem os números... Ler e escrever, nada.
E lá foi a senhora desfiando o rosário sincero da sua vida... Viúva há doze anos... Etc. e tal...
- E a sua amiga Laurinha... Quantos anos tem?
- Não... Essa não... É muito nova para si... Muito bonita... É um primor de pessoa... Encanta!
E lá fiquei eu com a Laurinha na cabeça... Raios... Vou andar à volta da Ester até ter oportunidade de convidar as duas para um lanche...
Que luminosa ideia!