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Cronicas-->Taró embaralhado -- 07/03/2004 - 20:59 (Luciene Lima) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Taró embaralhado

Diz aí, coisa incólume! E saia rindo. Ele pensava que se eu o perdesse, ficaria perdida. Sem saber que perdido ficaria ele quando soubesse que eu não o perderia. Mas eu sabia. Ele, decerto, é que não sabia-se.
E o tempo foi correndo assim. Solto. Lírico. Poético. A dizer "menina-santa-coisinha-mais-gostosa, a vida é linda.

De manhã, ele passava pela rua de pedras onde eu morava. Eu o escutava da cama, pois ele cantava. Junto com o canto, ouvia o chinfrado de sua bicicleta pelas ruas de pedras. Era padeiro. Entregava o "nosso de cada dia" por volta das sete e meia de uma matina fria, sempre fria. E eu, ainda de camisola, fazia os pés beijarem o chão e o perscrutava pela fresta da janela. Eu queria ter aquela liberdade que ficava montada em sua bicicleta.

Sim, eu o amava.

Aquela carta de taró com um homem segurando o cetro, você sabe? Era ele assim. Vaidoso a perder de vista. E na escola, os amigos me diziam "Jisna, Siron te ama". E eu dizia "ama nada!".
E enquanto a professora mergulhava em seu mundo de elucubrações geniais, de álgebra e sei lá o que mais, eu andava no meio das linhas de meu caderno escrevendo "Jisna e Siron". Coisa mais boba. Quando acabava a viagem da professora, a minha continuava.
Todo mundo sabia que ele me amava. Menos a pessoa mais importante. Ele nunca me contou. E por causa disso eu queria contar para ele. Escuta seu filho-de-uma-santa-mae-maravilhosa-minha-sogra, tem tanto amor no meu coração que qualquer dia desses morro. Seca atras da porta. Ah, se você me amasse. Um cadinho só.

Ah, ele era o meu mundo. E meu mundo tinha só 16 anos. O mundo dele era mais velho. Dezoito.
E nessa antiguidade ingênua, eu me decidi. Vou contar a ele. As pernas tremiam. Como se o dia seguinte fosse um feriado. E era. Tanto que fui ao cabeleireiro, afoguei-me em perfume, escorregando em batom-sombra-base-rímel-modelito-última-época. Pronta. Preparada. Definida. Inteira.

Virei a esquina. Lá. Ele. Ah, meu deusinho, o meu amado. E uma deusa do seu lado. Ele sabia. Só podia saber que seria aquele o dia em que eu havia decidido confessar o meu amor. Então, o homem do cetro novamente apareceu em minha cara. Estampado. E a seu lado, a deusa-que-não-era-eu, com um sorriso de propaganda de creme dental. Fresco. Lépido. Pérfido. E o enamorado sorria com as duas caras. Fazendo com que eu me sentisse uma estrela solitária.

E agora, eu-irmã-coragem, seguindo adiante, fazendo um aceno-de-vem-cá com um dedo. E o rapaz do cetro se aproximando. Diz aí, coisa incólume! A tempestade desarrumou cabelos-toda-parafernália-da-vaidade. E sai rindo, melhor lugar não havia para estender o riso-amarelo-marfins-de-prata.

Carlucha me encontra na segunda esquina. Olha para meu rosto afogueado. Eu disse a ele que você diria a ele que estava apaixonada. Você disse a ele o meu segredo. Ah, amiga, desnaturada. Eu morria uma vez. Nunca mais. Aquela era a minha carta. E renascer era o que eu mais sabia. Mesmo quando o mundo tinha apenas aquela idade. E ele realmente me amava. Mas a morte apareceu por perto e tudo foi transmudado.

Ele pensava que se eu o perdesse, ficaria perdido. Sem saber que perdido ficaria ele quando soubesse que eu não o perderia. Mas eu sabia. Ele, decerto, é que não sabia-se.
E o tempo foi correndo assim. Solto. Lírico. Poético. A dizer "menina-santa-coisinha-mais-gostosa, a vida é linda. E a estrela ficou sendo para sempre, a minha carta preferida.


L.Lima
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