Zeka Ryoka, um pobre pintor medíocre, cidadão do Rio de Janeiro.
Em 1983, com a crise braba, Zeka abandona as artes.
Cai de boca no crime.
Passa de consumidor eventual a traficante.
Ele vem a conhecer Karmen Myrand,
Um travesti tropicalista,
Karmen e Zeka cometem pequenos furtos,
Dão shows de bolso em bailes de subúrbio,
Cheiram oito gramas de purpurina ao dia.
Karmen e Zeka prestes a cheirar
Com ajuda de uma caneta Bic sem o tubo de tinta,
Um espelhinho
Uma gilete,
Consumir uma carreira de purpurina dourada,
Delirar com quinze minutos de fama...
Diz Zeka:
“Karmen, meu sonho, quero que saiba,
É cheirar uma obra de Hélio Oiticica que se chama Cosmococa.
E só de pensar, fico de água na boca!”
Karmen retruca:
“Como assim?
Que isso existia, eu nem bem sabia.
Quero cheirar carreiras de purpurina sobre os traços
De gente famosa,
De beiços de diamante,
Cheirar da Marilyn a boca carnuda,
De Jimmy a cabeleira afro-lisérgica,
Assim sendo, extasiante.
Zeka Kruel! Este pintor me esqueceu, não gostei deste pérfido
E embora não conheça sua obra hermética,
Queria que ele me pintasse, louca e sintética!”
“Ah, Karmen, você é tão culta,
Em Roliúde te achavam maluca,
Mas agora está decaída e murcha.”
|