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Contos-->O CATADOR E O MORADOR -- 09/10/2005 - 19:46 (Edson Campolina) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O CATADOR E O MORADOR



A vida na rua ainda acordava, povoada somente por cachorros fuçando lixos nas calçadas cobertas de folhas secas. As árvores projetavam sombras esguias no asfalto. O som oco da madeira da roda do carrinho do velho catador de papéis dava as boas vindas à passarada alvoraceira. Com passos cadenciados, o velho cumpria sua rotina árdua e pesada para seus já enfraquecidos músculos.

Parou diante da casa e, ajeitando os papeis e plásticos no carrinho, tentou disfarçar a curiosidade que lhe prendeu a cena do homem se balançando na varanda; de rosto para o céu, olhos cerrados, baforando o que sugeria ser seu primeiro cigarro, com um leve sorriso no rosto. O ranger das molas da cadeira ritmando com seu despertar tranqüilo e preguiçoso.

O velho catador pensou em suas diferenças. O morador provavelmente teria a mesma idade sua, mas uma vida e um mundo bem diferentes. “Teve sorte na vida”; balbuciou cabisbaixo, tomando a dianteira do carrinho e fazendo ranger o eixo malfeito de sua ferramenta de trabalho. Recusou-se a pensar em sua trajetória até ali. Evitava reconhecer, no fundo da alma, as más companhias e mas escolhas da vida.

Na varanda, o morador se deliciava com a brisa da manhã que lhe trazia nas narinas o aroma dos cafés da vizinhança. O canto dos pássaros soava-lhe como uma cantiga de vitória. Gozava cada segundo do despertar daquele dia. Orgulhoso de si e de suas decisões na vida. O sorriso e o relaxamento em seu rosto espelhavam a reflexão que fazia sobre sua conquista. Manhãs como aquela era tudo o que sempre sonhara e pelo o que trabalhou incansavelmente desafiando todas as dificuldades que as oportunidades lhe impuseram; com talento soube aproveitar e desenvolver suas habilidades. Colhia exatamente o fruto do que cultivara anos a fio.

O morador respirou fundo e levantou-se decidido a buscar mais uma xícara de café. Espiou a rua e viu o catador puxando sofregamente o carrinho de madeira. Pensou consigo: “...naquela idade. Talvez não tenha tido a sorte que tive”.

Nenhum dos dois se reconheceram. Teriam sido colegas de brincadeiras de rua, quando o catador liderava sua turma nas peladas e queimadas, sobrepondo-se aos demais com sua força física. Teriam sido colegas de escola, quando o morador, tímido, recolhia-se, esquivando-se das demonstrações de poder dos mais fortes. Talento e a sorte para os dois, agora, eram sinônimos.

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