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Cronicas-->Casa cheia de mulheres -- 01/03/2004 - 15:47 (Maria Luiza Kuhn) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Casa cheia de mulheres

Histórias todos têm. Tenho amigas que dizem que de tudo faço uma estória, acho que é pura vontade de ser escritora.
Acho que sou dessas mulheres pura contradição, ou não. Nasci numa família onde predominavam as mulheres. De todos os "naipes". Aos meus olhos fortes, fracas, infelizes, conformadas e especiais.
A minha avó paterna era uma mulher controladora, forte, inteligente, mas infeliz. Sabia preparar uma batata-doce caramelada como nunca comi igual.
Dela considero que tenho muitos legados, mas acho que sou bem mais feliz, graças a Deus.
A minha avó materna pouco sorria, era aristocrática, exigente, organizada, persistente, prendada e sabia fazer bolachas como ninguém.Além disso, foi o grande amor e a definitiva companheira do meu avó. Também sabia fazer as roscas de polvilho. Falava praticamente só o dialeto alemão. Do português sabia muito pouco, mas lia tudo que lhe caía nas mãos no idioma alemão.
A casa da minha avó materna era cheia de tias. Quando eu nasci, tornou-se a casa das seis mulheres.
Com as paternas convivi bem menos, mas hoje aprendi a admirá-las através da sua cunhada, minha mãe. São igualmente mulheres com uma bela história de sobrevivência.
Fui a primeira neta, a primeira sobrinha, festejada e paparicada (que coisa boa!).
Bastava eu ter um pequeno desconforto, que uma das tias chorava junto comigo. Pelo menos esta é uma das lendas da família. Além disso, me enchia de coisinhas bonitas, como é próprio de tias para sobrinhas. A outra, minha madrinha me carregava na garupa, era jovem, forte e disposta para isso. Eu me sentia a própria menina super poderosa.
A minha mãe sempre foi considerada a moça da casa. Além de bonita, sabia costurar, fazer crochê, cozinhar, passar....e como decorrência prontinha para casar.
Do lar materno, falta-me falar de uma. Todas tiveram importància na minha formação, mas tenho desta última uma lembrança terna e especial .
Era especial mesmo. Tenho certeza que esteve na nossa família para ensinar-nos muitas coisas.
Ela era nossa professora da alegria. Dançava e nos ensinava a dançar, acho que é por isso que gosto tanto de valsa. Adorava música e instrumentos musicais, mesmo sem nunca ter aprendido formalmente com ninguém. Quando porventura lhe caia nas mãos um acordeom ela dava um jeito de ensaiar alguma canção. Adorava radio novelas e era assídua ouvinte de todas que identificava no rádio. As festas de aniversário eram os seus acontecimentos.
Fazia trabalhos domésticos com capricho de poucos. Ensaiava alguns trabalhos manuais.
Enchia a casa dos meus avós e foi sempre o seu bebezão. Aprendemos desde cedo a jamais caçoar dela e sim a respeitá-la. Ela era muito carinhosa, mas tornava-se uma fera quando alguém mexia com os seus sobrinhos. Tinha uma especial dedicação ao meu irmão a quem chamava de "meu guli". Outro dos seus prazeres era provocar uma briguinha com o meu pai que acabava sempre "perdendo" para ela.
A minha tia Romy tinha síndrome de Down. Apesar de todas as dificuldades da época, meus avós conseguiram alfabetizá-la e dar-lhe uma vida digna.
Quando precocemente saiu de nossas vidas, nos deixou a todos um pouco órfãos. Seus pais nunca mais foram os mesmos. Ficaram mais tristes aqui na terra. Hoje acredito que dancem juntos noutra dimensão.
Assim como me deu lições de vida, me deu também a lição da morte. Foi a primeira perda que tive de enfrentar com os meus 13 anos de idade.
A casa dos meus avós ficou com menos mulheres e bem mais triste, mas cheia de gratas e fortes lembranças que felizmente não se perdem nas brumas do tempo.

( a propósito do dia internacional da mulher, dia 08/03)

maluizak@yahoo.com.br
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