O animal homem acredita que é melhor ou superior a outros seres no mundo animal. E este sentimento de superioridade justifica, na mente de muitos, a crueldade e o mal trato. Peguemos os cachorros como exemplo: vida de cão não é fácil.
Os chamamos de "melhores amigos do homem", mas no primeiro deslize cometido por eles, os punimos. Muitos ficam sem comer ou são espancados e amarrados no quintal numa tarde fria e chuvosa apenas porque acidentalmente urinaram no carpete da sala. Será que esses pequenos seres também nos vêem como seus melhores amigos? Será que essa é a forma correta de tratarmos nossos "melhores amigos"?
São maiores as similaridades do que as diferenças entre o homem e o cachorro (e todos os outros seres do mundo animal). Eles nascem, crescem, envelhecem e morrem. Assim como nós, eles precisam de alimentação, água e diáriamente precisam descansar e dormir. Eles possuem os mesmos sentidos que nós: visão, paladar, audição, olfato e de sua maneira o tato (até mesmo o intocável sexto sentido eles possuem, pois precebem quando estamos deprimidos e geralmente expressam alguma reação). Eles precisam de carinho e de cuidado... e retribuem, reconhecendo a importància de seus donos (ou amigos) em suas vidas. Somos superiores apenas porque nos catalogamos como seres inteligentes e pensantes? Mas não é essa inteligência que está nos levando a destruir o planeta e, com isto, nossa própria espécie?
De acordo com o dicionário, o substantivo "amizade" significa afeição, amor, boas relações, laços cordiais entre duas ou mais entidades, dedicação e benevolência. Eu tenho uma grande amiga chamada Echo, uma cocker spaniol dourada, e é sobre esta minha amiga que falarei agora.
Eu já morava em Londres há 2 anos numa maisonette em Battersea Park e apesar de ter vários amigos e estar bem estabelecido no Reino Unido, faltava algo para completar minha vida. Foi então que decidi ter um cachorrinho e fui cadastrar-me no Battersea Dogs Home para que pudesse adotar um cachorro. Alguns dias depois, um representante deste centro de adoção de animais foi à minha residência a fim de entrevistar-me e a todos que residiam comigo (o escritor inglês Sir Richard e meu amigo de infància e também escritor Edinaldo Santo). Ele fez inúmeras perguntas, verificou se a casa era apropriada para que tivessemos um cão e tudo mais. Achei aquilo tudo fascinante, pois percebi a importància que o povo inglês dá à vida animal. Mais alguns dias se passaram e recebi um telefonema para que fossemos ao Dogs Home para ver os cachorros aguardando adoção.
Chegamos e detalhadamente visitamos o canil... dava vontade de levar todos os cãezinhos para casa. Eles, se sua maneira, pediam para serem escolhidos. No final de uma tarde de procura, não estavamos certos ainda de qual escolher. Foi quando estávamos no saguão, quase de saída e programando retornar outro dia, que ela chevaga no colo do treinador, após fazer o check up inicial pelo qual os cachorros passam ao chegar neste centro de adoção. Ela encarou-me de uma forma como se já nos conhecêssemos antes... e eu não conseguia desviar meu olhar do seu. Chamei o treinador e perguntei se aquela cocker spaniol estava sendo colocada para adoção e ele disse que ela ainda estava em processo de adaptação, mas que poderíamos passar alguns momentos com ela para ver se tínhamos afinidade. Entramos uma sala e ela a colocou no chão. Foi amor à primeira vista. Ela correu aos meus braços e continuava a me encarar com seu encantador olhar.
Neste dia, a família ganhou um novo membro. Echo era seu nome e minha nova amiga tinha apenas 2 anos de idade. Fomos para casa e aos poucos ela foi se adaptando ao lugar. Em todos os momentos difíceis que passei era ela quem confortava-me... como se quisesse dizer para mim "-não fique assim, tudo vai melhorar". Inibida com pessoas e outros animais, Echo tinha como um de seus amigos um felino, o gatinho preto Michael, do apartamento ao lado. Não deixei nada faltar para ela. Todos os anos, escolhemos dentre as centenas de bichos de pelúcia que ela possui, os que ela não mais usa e os doamos ao Battersea Dogs Home. Ela também participa do encontro annual entre os cachorros adotados no centro e ela possui vários prêmios de campeonatos que participou. Echo adora ser fotografada e já saiu em 3 diferentes revistas.
Como eu disse, o tratamento que damos aos cachorros aqui no Reino Unido é bem diferente do tratamento que vemos no Brasil. Começando por não vermos cachorros de rua por aqui. Os cachorros aqui podem viajar de ónibus, metró e trem (Echo adora público transporte). Podem entrar em qulquer lugar, excluindo lugares que servem ou vendem alimentos, por questão de higiene alimentar. Existem planos de saúde específicos para os nossos pequenos amigos e ao menos eles são tratados com o respeito que qualquer ser vivo merece. E nossas responsabilidades com nossos pequenos amigos são grandes. Quando saimos com eles para caminhar, sempre temos que levar no bolso sacolinhas de plástico, pois se eles fizerem as necessidades e não recolhemos e depositamos nos cestos apropriados para isso e espalhados pelas ruas de Londres, pagamos uma multa de £500.00 (cerca de R$2.660,00).
Para finalizar, peço a todos os leitores que possuam cães ou gatos, que façam uma análise do relacionamento que possuem com seus amiguinhos. Relacionem os momentos bons e ruins que passaram juntos e tentem se colocar por um minuto na pele de seu animalzinho. Temos sido justos com eles? Temos dedicado tempo e afeto a eles? Nós somos tudo o que eles possuem e se queremos que eles sejam nossos melhores amigos, precisamos saber retribuir essa amizade.
