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Contos-->E-mails -- 26/09/2005 - 15:29 (Janete Santos) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
E-mails

O primeiro amor passou. O segundo amor passou. O terceiro mar passou. Vieram outros amores que também passaram. Vamos combinar que nessa procissão de episódios nem sempre se tenha podido denominar amor ao que se viveu. Por falta de saber que fosse ou não fosse, tão difícil é a vida, tão fácil é enganar-se, amor se chamou a esta ou àquela experiência, umas mais verdadeiras e intensas que outras.

E todos forneceram matéria para poemas, cartas, bilhetes, até um ensaio.
Às vezes os textos pareciam obter respostas e o encontro dava a impressão de plenitude. Eis que havia o interlocutor, finalmente, depois da longa procura, esgotada de lançar ao mar as garrafas à espera de resposta que não vinha. Na maior parte das vezes, porém, os textos só iam, inundando a casa alheia, excedendo-se nos bolsos dos paletós, abarrotando as pastas dos namorados. O amor acabava, não por falta de assunto, talvez que até por exagero verbal por parte da mulher que lhes não poupava de saber como se encantava com o amor, em abuso de prosa e verso.

Chegara o tempo dos e-mails. Os textos, nesse momento, de um modo sui generis retornavam. Partiam e regressavam a tal ponto que as palavras denunciavam cumplicidade extrema. Os amantes se punham a digitar céleres os textos, mas era no percurso entre ir e vir que pareciam de fato encontrar-se. Palavras e amantes. No meio do caminho, entre as pedras. Ela cria que aí as palavras se enroscassem, copulando em exercício de gozo, antecipando o encontro dos corpos do homem e da mulher.

Um dia os textos cessaram e também esse amor passou, apesar de tudo, embora inesquecíveis os momentos em que se fez promessa.

Foi pensando nos amores e quilômetros de textos que a mulher intuiu uma idéia.

Talvez que tudo tenha sido ilusão de linguagem, criação da mente para finalidades poéticas. Talvez que nunca se tratasse da busca do companheiro perfeito com quem dividir o prazer do cheiro da terra molhada na primeira chuva de verão a aliviar o calor extremo do cerrado. Não era a perfeita conjunção carnal e anímica, o sêmen e a saliva. O diálogo pleno, a comunhão absoluta, o verdadeiro encontro, tudo ilusão construída no arranjo das palavras.

O nosso amor a gente inventa para se distrair / E quando acaba a gente pensa / que ele nunca existiu.

Pensou em Benveniste, para quem eu e tu são dêiticos, elementos que ganham materialidade no discurso. É a linguagem que medeia nossa relação com o mundo, que não existe como realidade empírica fora do discurso. É na linguagem que se cria a verdadeira hipótese de encontro. Dizer é confiar na presença de um tu, implícito em qualquer texto, nele materializando-se pelas escolhas de um sujeito, um eu que pressupõe respostas. Então era mesmo isso. A linguagem é engodo. Jogo. As palavras mentem ao fingirem oferecer o que não podem.

Era isso, meu Deus. A solidão é definitiva. As almas são para nosso desespero incomunicáveis.


Luiza Helena O. da Silva, 25.09.05.

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