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cronicas-->Amém -- 25/02/2004 - 17:59 (Valéria Tarelho) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Amém



...O fato é que ele era um charme. Charme é pouco, já sentira o poder que aquele encanto de homem exercia sobre ela, mas não assim frente a frente. Já ouvira aquela "voz de travesseiro" (que deixava Dick Farney no chinelo) ao telefone, recebera mails sedutores, cantadas sutis: sexo implícito nas entrelinhas, nada promíscuo, mas que prometia. Aquele homem convencia a mais fiel, casta, enrustida, determinada, das mulheres. Até as não muito chegadas.

Não bastasse a boa prosa, ele era poeta. Charme, realmente, é muito pouco para quem faz amor com as letras - o que dirá com uma mulher, pensava ela. Ficava úmida a cada linha. Chegava perto do céu, próxima do mais frenético dos orgasmos (solitários) ao final da leitura. Imaginava seus dedos no teclado, deitando palavras como quem cobre de leveza um corpo feminino - o dela, é claro. Teve incontáveis fantasias dionisíacas.

Agora estavam ali, ocupando o mesmo recinto. Ele de costas, em pé, no balcão do bar (que charme - já sendo repetitiva, mas não pensava outra coisa), ela vindo por trás, sem saber bem o que dizer. Foi o mais natural possível, como se encontrasse um velho amigo - meu Deus, ele é tudo e mais um pouco...perdão Pai, mas ele é o próprio deus das minhas futuras preces.

Tremulava por dentro. Mal disfarçava o nervosismo, por fora - será que ele gostou? não estou loira demais? loira de menos? e estes óculos? bom, ele também usa óculos, mas nele ficam um charme, ainda mais com esse par de olhos azuis por trás das lentes. acho que devia ter usado aquela saia que realça meu bumbum. nunca me odiei tanto por ficar adiando implantar silicone! o que será que ele está pensando? por que fui colocar esse corpete com tantos colchetes? agora é tarde...

Beberam no bar do shopping. Local mais casual, impossível. Ambos, de uma elegància frugal. Falaram um pouco de si, mas não dos dois - esse charme todo tem dona, vá com calma. também ostento (e não disfarço) uma aliança na mão esquerda, mas quer saber: que charme! danem-se os vínculos, os elos, os círculos: eu quero é mais as vias tortas, espirais, ziguezagues...de quebra, me perder em umas quebradas.

Era um encontro no escuro, de claro só havia um detalhe: se a atração fosse mútua, iriam, do bar, a um motel saciar a fome de quase seis meses de flerte via Internet. No bar, conversa pra lá, chope pra cá (ele ia de uísque - importado, por favor), chope derramado na mesa, mais chope, cigarro, cigarro, cigarro (coincidência, Charm é a marca dela), outro uísque, outro cigarro, até que ele, com todo seu charme, menciona saírem do bar. Ela queria. Ela temia. Ela tremia toda. Ele era mais que um charme, era o deus de sua devoção, agora ela sabia. Fez charme, reprimindo a vontade de se entregar ali mesmo, naquele instante, naquela mesa, diante de todos. Saíram do bar, do shopping, de órbita.

O fato - chato, porém - é que além de ser um charme, ela o endeusava tanto que o pecado banal da traição foi agravado. Na cabeça dela, além do marido e da esposa, havia deus, nu, na cama redonda, refletido na parede e teto forrados de espelhos. Não saberia transar esse swing! Fossem apenas o marido e a esposa, vá lá, que ficassem assistindo ou aproveitassem também daquela esbórnia. Mas, deus? Ficou um tempo perdida em seus (pre) conceitos, oscilando entre pecado mortal, capital, sacrilégio, heresia. Logo ela, que nem igreja frequentava, rememorou em segundos toda a catequese. Tesão era o último item de sua check list - porque não bebi uns tragos daquele uísque?

Foi nessa hora que fez um pacto com o capeta (não um diabinho qualquer, o Big Boss mesmo, bambambam do inferno) e lhe entregou sua alma.
Desde então, o corpo arde nas mãos de deus (que se não é o O(m)ni-poderoso, criador do Universo, é um ser a sua imagem e semelhança - um deus-homem, criador de versos): presente, ciente, especialmente potente.

Um puta charme!



Valéria Tarelho


http://www.valeriatarelho.blogger.com.br
http://www.poesiailustrada.hpg.com.br
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