O HOMEM QUE QUERO
Tereza da Praia.
Não quero um homem
Escolhendo-o por sua estatura
Ou pelo seu aspecto físico.
Por sua cultura.
Não quero um homem
Mas sim um porto,
Uma rua, um aeroporto,
um casarão metafísico
Onde eu possa virar a vida
Olhá-la de dentro para fora.
Sentir-me por dentro e acolhida,
Sem me perder no passado, vivendo o agora.
Não quero um homem
Mas um veleiro em que eu navegue,
Um vendaval que me desassossegue,
Um fogo que me incendeie,
Um abalo sísmico que me arrase
Uma doçura que me abrace,
Uma serenidade que me pacifique
Uma luz que me encandeie,
Uma verdade que me embase.
Não sonho um homem
Mas um suspiro de saudade
Um grito de felicidade,
Um gemido de prazer
Saindo da boca, sufocado
Por lábios com cheiro de alvorecer.
Um rosto emoldurado por um halo
De ternura, em que me embale
E corpo que se apóie, firmemente,
Nas pernas que me abracem
Causando certo estremecimento.
Não anelo e nem espero
Nem quero um homem
Mas exijo aos meus delírios
Que encontrem o único
Que quero e espero, meu martírio.
Não um qualquer , mas ele.
E sei onde é seu esconderijo
E conheço os sinais
Que o definem.
O sexo ardente,
A explosão em ais,
a volúpia estridente
A presença do espasmo
O Amor com o dedo no gatilho.
Só quero esse homem
Com todos seus remansos
Onde descansar meu corpo sem empecilho,
Saciar minha boca sedenta,
A minha vontade turbulenta
A minha urgência aflita.
Onde secar minha lágrima ciumenta.
Sim, esse homem que me excita
Todos os meus sentidos
Que me deixa despida
O único a saber
O que falar,
Como me amar
Quando parar
Onde esperar.
Esse homem que espero
E não espero
Que quero e não quero
Esse homem porto, veleiro
Que desejo e não desejo
Qualquer que seja sua estatura,
Sem reparar em formosura
Que seja belo o seu interior
Aquele que seja meu
E eu seja dele
Que seja eu e ele
Ele e eu.
O homem que não procuro
O barco, o porto, o casarão.
Você, o homem do meu coração.
Sim, você que espia
Do outro lado da esquina,
No cais, a chegada das velas,
Como quem apenas espera um guia.
Quando chegar este homem
Nos amarraremos sem vergonha
A luz dos holofotes de todos os olhos
Procriaremos suspiros e gemidos,
Que acordarão toda cidade, que sonha.
E pela primeira vez vocalizaremos o somos,
pluralizando-nos na emoção do encontro
Na esperança do reencontro.
Esse homem
Que não procuro
Nem espero
Você viu?
Você!
Tereza da Praia
Série: Cenas Insanas
(inspirada na poesia" Mulher", de Bruno Kampel)
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