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Cronicas-->Pingos de gelo -- 17/02/2004 - 11:12 (Érica) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Moro num país do hemisfério norte. Mantenho-o secretivo, hoje em dia é melhor não esclarecer...
O que importa é escrever, na ilusão de poder esquecer.

Estamos no inverno. Um dos mais rigorosos dos últimos anos. Frio demais. Com nevadas e rajadas de ventos gelados de todas direções. Cheguei a andar de costas, porque de frente não conseguia. E precisava chegar ao meu destino de trabalho, apesar de tudo. A neve espalhada pelas ruas é bonita. Mas é enganosa. Sua beleza externa mal esconde uma enorme extensão de gelo, liso, derrapante, perigoso para os caminhantes.

Para quê caminhar na neve? Porque é gostoso, quando a neve é amiga. (Tudo é gostoso com amigos.) Mas essa aí não está para conversa. A temperatura baixou demais durante a noite e o resultado é este: uma pista de gelo. Só com chuteiras e daquelas com pregos, é que se consegue caminhar sobre ela. E se conseguir não se irritar com o constante craque-craque que o gelo vai fazendo ao quebrar-se com os passos dos andarilhos em seus sapatos especiais.

O serviço de metró foi suspenso. As escolas, fechadas. O comércio, cerrado. O mundo está paralizado. A neve cobre o mundo que me circunda. Olho pelos vidros das janelas e a paisagem é a mesma: folhinha de dezembro. Mas estamos em fevereiro, quando o pior já deveria ter passado.

Vou até a janela-porta que dá para minha varanda. Nos beirais formam-se gotas enormes de gelo, era a água do telhado que estava descendo e se congelou a caminho. São como estalactites domésticas. Minha varanda se engalanou com uns trinta cones de gelo transparente, pendentes da calha. Alguns ainda se dão ao gosto de terminar em brilhantes fios de água congelada, numa tentativa frustrada de derreter-se e voltar a seu elemento primeiro. Inútil. A temperatura paralizou a água e ela permanece em fio endurecido. O sol - sim, ele existe, ainda que não aqueça - brilha nestes enfeites da natureza, colocados ali de graça, para o êxtase dos meus olhos. Cada uma das estalactites reflete o sol de maneira diferente. Uma delas até se atreveu a se colocar um colar de arco-íris: por uma dessas leis da física (se me lembro, chama-se refração), a luz se decompõe em vários matizes. E o cone fica todo colorido. Um outro, seu vizinho, tenta imitá-lo, mas o raio de sol - tão parco, tão avaro - outorga seu prêmio para um cone, não mais.

Fico ali e olhar para eles, pensando em mil coisas, algumas até poéticas, outras, nem tanto. Deixar os pensamentos flutuarem no tempo. Aí me lembro dos sorvetes que comprava, neste mesmo mês do ano, sob um sol tórrido, em praias do meu país. Sorvete em cone... de duas cores, pois pedia sempre uma bola de baunilha e outra de chocolate.

Agora tenho um cone de arco-íris, de muitas cores.
Mas gostaria de ter um sorvete, um sol quente sobre minha cabeça e um mar diante dos meus olhos.

Por que nunca estou satisfeita?
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