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Cronicas-->Poema de vida -- 15/02/2004 - 08:37 (Luciene Lima) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Poema de vida

Parece que há um crescente pela fresta da janela. E entre papeis e claros móveis de fórmica, trabalho. Vez ou outra, oleiro, escapo para o quintal de meu poema que ali espera-me, obediente, casto, barro sendo moldado por mãos de amante.
É que hoje me nascem asas. E incomoda-me o sentar estático, a servidão que me faz receber - ao final do mês - bem menos do que para o qual trabalho. Então, estando sob a sanha de um sistema traidor, em traidor me transformo. E, empregado e empregador, começamos a viver na imundície do século da industrialização tecnológica sem humanidade lógica. Bem vindos ao inferno, pessoal! Reta inicial.

Corro a meu torno. Ele resfolega na paciência de maquina cega. Se eu pudesse fazer amor com ele, talvez tudo fosse bem mais fácil. Mas não posso. Recuso-me. Trato-o como ao autómato em que ele me transforma. E ele se aquieta em sua sofreguidão de santo. Horas se desgrudam das paredes mortas, ponteiro de relógio caminha como quem vai para a roça depois do almoço em tempo de sol a pino, a bancada está viva mas é preguiçosa, alguns sussurros de outras vozes em meio a negócios, um carro veloz indo em busca da liberdade voa do lado de fora. Aqui dentro de mim tudo é missão. Um afazer diário de contas, como mulher que renda suas dores e suas incompreensões, ponto a ponto, nó a nó. De fora, dizem, zelo. De dentro, digo, roda da fortuna de baralho desgraçado que ninguém entende quem fez ou para que fez essa desgrama. Seria esse, meu pai, o sofrimento do qual Buda falava todos estarem submetidos?

O poema évem passando. Olha para ele. Parece uma mulherzinha vadia, com a bunda oferecida, de peito farto, de lábio molhado, desenho da boceta se fazendo no contorno da roupa que gruda no corpo dela...tudo nele é gostosura pois representa um descampado de plumas, fora dessas ferragens cabrestas em que me depuro. É ele quem ainda me seduz e me faz correr, ainda que pés rotos, para a continuidade dessa faina. Bruta. Tudo é sequidão nesse deserto em que me movimento.

À tardinha, diante das filas, transporte coletivo, um trànsito de dar nos
pinos. Eu penso é em meu poema que repousa no bolso da camisa, as vezes no das calças. Quase gozo com ele. Isso é o que me dá esses olhos mansos que o povo chama de paciência. Humildade qual nada. Não luto por falta de jeito. Nesse caminho ainda dá tempo de sonhar para os meninos umas linhas em meu poema que vai esperar-me sob a toalha enquanto me banho. E a noite vai ser rompida, virgem de novo, no aconchego das carnes de Joana. E é dali que vou tirando inspiração para fazer do poema essa coisa comprida, arrimo de vida, muleta e cristo de salvação.

Ele é saudade do tempo em que trouxeram-me para esse mundo e que tudo parecia ser feito de arabesco de anjo. Depois, de filhote de gente, foi necessário meter-me em esboços de calças de homem. E, perdida a chupeta, foi nas tetas do sonho que alcei braço, segurando firme, grudado nele. No poema que acorda e dorme comigo. E um sorriso fica no meu lábio todo dia santo. E se não fosse assim, sabia eu lá como seria o outro dia. Na rudeza da falta do lúdico que corrói as urtigas que a gente já trás dentro da gente.

L.Lima
Escritora & Comentarista Literária
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