Estrada
Elane Tomich
Meu companheiro de nada,
pise comigo esta estrada
não veja em mim completude,
que a alma é de grande amplitude,
de tal porte, que amiúde,
juntos iremos sozinhos,
ombro a ombro em igual caminho.
Cada qual leva um estilhaço,
de um arco-íris, pedaço,
até juntarmos as cores,
dos nossos matizes de dores,
dos nossos pedaços de cruz,
e, estaremos, certamente,
no ponto, em que exatamente,
um arco-íris em cruz,
será nosso abraço de luz.
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Andança
Elane Tomich
Faremos
esta inevitável andança pela vida.
Levaremos
florais e coisinhas eventuais
Mochilas nas costas,
metas não convencionais
traçadas em mapa
a serem desvendadas
ou, em passadas construídas
durante a caminhada.
Atravessaremos a grande duna.
Escorregaremos por encostas
macias, fora da gente,
sovando, de repente,
dentro do peito, escarpas.
Desvendaremos as lacunas
ou será que construímos vazios
em repetidos rodopios
nas pegadas que desfizemos?
Qual o ângulo certo do compasso?
A lacuna parida,
é a meta que escondemos?
Nosso tesouro e segredo
é o nosso camuflado medo?
Acertaremos o passo
e as conveniências...
Precisaremos
de cordas de sisal
hífens e combalidas reticências,
atando por dentro
o que for preciso lá fora.
Espaço não avistado agora,
sentido inominado escora
no impulso, o atributo.
Escalaremos ainda
a emoção da aventura
do peito, interna catedral pura
pedras de dores mumificadas.
Reencaminharemos ao paraíso, o fruto!
Acharemos um rio de corredeiras.
Um de nós enfrentará o vôo nas águas
Outro, ficará à beira,
pescando tambaquis
colhendo folhas de bananeiras
e frutos de jataí.
Lançarei o anzol ao fundo do coração
e lá serão fisgados
a dor, a complacência,
os alevinos embriões de amor
em não vivida inocência
Pararemos em alguma estação
qualquer, Esperança ou Paz.
Tanto faz...
Que o sentido maior
é a emoção do mutirão.
Teus olhos confirmarão
advérbio de algum lugar
e escorrerão por entre os dedos
das minhas mãos,
poeira invisível
ânsia insana da busca palavra certa,
aquela que te impressionaria
pouco mais que o sofrível.
Na palma da mão aberta
a inconfidente alegria
dos rabiscos e riscos
do verbo mais-que -amar.
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Passeio de Outono
Elane Tomich.
... sobrara um restolho de sol,
quando um certo ar do outono
rabiscou-nos de arrepios
apartando nosso abraço.
Preguiça frouxa nos laços
sussurros da noite em prol
da batalha contra o frio
saga nossa do abandono.
Paisagem diferente,
nesta chegada ao exílio
no chão de dentro da gente."
...do latifúndio do medo
vinha toada em segredo:
"pior o aquecer que se apaga
deixando no peito a brasa."
Tu, em vagas, me dizias:
" o tempo pulsa em teus braços
com tremores de abandono".
Ao qu eu a ti, respondia:
"meu amor, é só o outono!
veja a folha que se perde
dançando na ventania
na despedida do verde"
.Um cristal deslagrimado,
caindo ao chão da face!
Pedra de amor indo embora.
no leito de um rio rachado
que antes de secar, para!
Como se tudo morasse
num carrossel pau de arara,
roda de espera e demora.
.
A-deuses velhos, sem jeito,
e o sarcasmo das horas
deitaram-se em nosso leito.
Exato ponto em que choras,
por um horizonte precoce,
cão que se afasta sem dono.
Tempo girando em ciranda
a fé, a dor e o abono
qu em reta a vida não anda
assim como se não fosse...
Foi nosso último outono!
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CAMINHADA
Elane Tomich
Parti de grande saudade
Verdadeira eternidade,
Abri uma porta indecisa
Tentando achar a divisa
Entre a estação das secas
E a época das tempestades.
Talvez deva ir a Meca
Em busca de outra verdade
Talvez entrar numa igreja
Ou seja lá, o que seja
Abrir minha própria estrada,
De amor, noutra empreitada.
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Na Rota do seu Perfume
Elane Tomich
Na rota de seu perfume,
sigo
e, não saio imune.
Sei, que não obstante,
o perigo
é ambulante.
Pode estar na esquina,
ou no opaco
da sua retina.
Estarei no seu mirante
marco
de um só instante.
Vejo aquarelas d alma
e em você
águas calmas.
Do acaso, estreante,
quero ser
seu praticante.
Lábios aveludados,
e amolecer
pecados.
Ai... reecontro a rotina
à mercê
de uma buzina.
A voracidade dos prédios
prevê
nossa volta ao tédio!
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VIAJANTE
Elane Tomich
O que é o que é,
que trazes do amanhã
no teu bornal tão cheio?
Espanto , intenções de afã,
contas repletas de fé,
ou sonhos com recheio?
Pusestes na tua sina arreios
ou te deixastes ir,
sem teu rumo distinguir,
ao Deus dará sem freios?
Encontrastes " A Cruz da Estrada"?
( É o poeta quem pergunta! )
Ou parastes na encruzilhada
e o "sem porquê" te assunta?
É de ontem tua bagagem,
repleta do que não alcanças
ou, desta viagem
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