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Artigos-->Andy Warhol - Pop Art -- 20/09/2002 - 07:08 (Paula Valéria) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Andy Warhol



Figura esquelética de cabeleira platinada constantemente desgrenhada, Andy Warhol era uma caricatura de si mesmo. Da mesma forma, seu trabalho travestia-se de arte para debochar da própria arte, e a caricatura confundia-se com a realidade, abrindo caminho para novas formas artísticas que marcaram época.



Andrew Warhola, nascido em Pittsburgh, Pensilvânia, EUA, em 6 de junho de 1928, é uma farsa em si mesmo. Andy Warhol, como ele mesmo se autodenominou a partir do momento que fixou residencia em Nova Iorque no ano de 1949. Livros referem-se a várias datas de registro de seu nascimento, desde 1928 a 1931, de junho a agosto, apesar de se manter sempre o dia 06. Mas uma coisa é certa: morreu em 22 de fevereiro de 1987, em conseqüência de uma operação de vesícula.



Sendo desenhista publicitário de formação, julgava-se um artista. E como tal criou um tipo novo que irritou, abalou e transformou o mundo da arte, que nunca mais foi o que era antes. Apesar de ser o único artista verdadeiramente pop, teve que lutar para se impôr como tal, e acompanhou a mutação da arte contemporânea. Não foi nenhum revolucionário, mas fez transformações de importância considerável.



Deixava-se arrastar, aproveitava os impulsos. Admirava fervorosamente as estrelas de cinema e dos meios literários norte-americanos e colecionava autógrafos dos mesmos. "Ser célebre durante quinze minutos" - eis o tema de Warhol que concretizava bem a mentalidade de uma época, que privilegiava o efêmero.



O culto ao sucesso é o laço que une o povo dos EUA e Andy pretendia ser um dos seus pontífices. Como filho de emigrantes da Checoslováquia (seu pai chegou no começo do século para fugir do serviço militar, e sua mãe veio nove anos mais tarde), ele encarnava o papel do estrangeiro observador da luxúria e das coisas comuns de uma sociedade que estimula ao máximo o pressuposto sócio-psicológico mais importante para o culto das estrelas no século XX. Na estrela, este "ser superior", mítico, tão bem retratado por Warhol, projeta-se toda uma série de necessidades e desejos não realizados. "Comprar é mais americano do que pensar, e eu sou mais americano do que ninguém".



O que define a arte pop, surgida na segunda metade dos anos 50, é seu interesse central por imagens e por objetos produzidos em massa pela e para a sociedade de consumo. Andy Warhol foi um dos primeiros a transpôr fotografias de imagens comerciais e comunicações de massa (como jornais, cartazes, embalagens, etc) para o espaço sacralizado das telas pintadas com o uso da serigrafia. A técnica de reprodução mecânica, o conteúdo comercial dessas imagens, a multiplicação, a repetição, o uso dos clichês vulgarizados do consumo, foram fatores determinantes da polêmica a respeito do seu valor artístico, desafiando as barreiras entre o mundo da arte e o da cultura popular na sua obra. Seria isto critica ou exaltação da sociedade de consumo?



Foi nos grandes armazéns, onde trabalhava durante as férias de verão, que Warhol teve o primeiro contato com aquilo que mais tarde seria o seu mundo específico: o consumo e a publicidade. Sua origem no ghetto checo com as babuschkas era um confronto e reunia as condições ideais para que ele desenvolvesse um sentido agudo daquilo que a civilização norte-americana tinha de genuinamente singular.



Em seu trabalho, Warhol tinha que examinar a Vogue, a Harper´s Bazaar, e outras revistas da moda, para seu patrão Mr. Vollmer. Recebia cerca de 50 centavos por hora e sua tarefa consistia em procurar idéias. Acabou por estudar na Escola de Design do Carnegie Institute of Technology de Pittsburgh, com Philip Pearlstein (pintor norte-americano de nús expressivos). Sua mudança para Nova Iorque constituiu o início de uma vida errante. Foi parar em St. Mark´s Place, na Lower East Side, onde viviam os marginais do mundo literário e musical dos anos 50, onde o graffiti se desenvolveu, e ali acabou compartilhando seu primeiro atelier com o mesmo Pearlstein.



No começo, Warhol trabalhava como designer publicitário para criação de anúncios nas revistas de moda como Glamour, Vogue e Harper´s Bazaar. Foi então que Tina Fredericks, diretora de arte da Glamour, ao ver seus desenhos, disse-lhe que apesar de serem realmente muito bons naquele momento a revista só precisava de desenhos de sapatos. No dia seguinte, Andy voltou com cinqüenta desenhos de sapatos no seu saco de papel castanho. Jamais alguém tinha desenhado sapatos como ele. Este foi o capítulo mais importante da fase comercial de sua obra, até o início dos anos 60, o chamado pré-pop. Vale resaltar aqui o trabalho A la recherche du shoe perdu (1955). A série dos Golden Shoes, criações livres, dedicadas a estrelas do cinema tem como exemplo Mae West, Judy Garland, Zsa Zsa Garbor, James Dean e Elvis Presley. Em 1956, uma exposição na Madison Avenue apresentava o álbum desta série. A partir daí, verifica-se que Warhol identificou um produto comercial com uma pessoa real, uma estrela de cinema. Revela-se abertamente o seu lado fetichista.



Os EUA dos anos 50, marcados pelo domínio ainda incontestado do expressionismo abstrato, pelo culto da interioridade e do idealismo desenfreado celebrado nos quadros de pintores como Jackson Pollock, Franz Kline, Barnett Newman, Mark Rothko, ligados à consciência de uma missão política, revelam-se como reverso da moeda das coisa visíveis e palpáveis e com uma rejeição categórica de tudo o que simplesmente fosse concreto e material. O trabalho de Andy Warhol não cabia naquele cenário. A arte comercial tinha fama de mau gosto, pois era sinônimo de cálculo, rotina, reprodução, mecanização e até mesmo mentira. Não era ela o oposto da arte "autêntica", este verdadeiro espelho da alma e do coração, sentido e não fabricado, incondicional e eternamente consagrado à verdade?



Muitos críticos vêem na técnica da blotted-line uma das fases essenciais da evolução artística de Warhol. Ao imprimir as linhas desenhadas a nanquim, reproduzia o desenho original e desvalorizava incontestavelmente a noção das vacas sagradas da história da arte. Por outro lado, esta técnica inusitada não está assim tão afastada dos processos de reprodução geralmente aplicados na arte, quer se trate da xilogravura, águas-fortes ou litografia, para que se possa considerar um ato revolucionário. O postulado segundo o qual a unicidade é uma das condições necessárias (embora não seja a única) para que um trabalho seja considerado uma obra de arte não foi abalado pelo processo de mata-borrão.



A transposição para a arte da divisão do trabalho da sociedade industrial e pós-industrial só poderia assustar os gurus de uma concepção idealista da arte. O artista como promotor e adversário da indústria e da burocracia, que assume todas as fases da criação da sua obra, foi uma concepção nascida do espírito idealista alemão, que durante muito tempo animou a arte norte-americana, de Albert Bierstadt a Jackson Pollock. Dentro desta visão, o artista era alguém dotado de um talento especial para criar um mundo a partir de cores e formas, para despertar sentimentos, desencadear paixões, transmitir idéias mais belas, mais poderosas e também mais emocionantes do que as da existência cotidiana. Será que, intimamente, Warhol não terá se divertido ao pensar na enorme quantidade de pessoas que adquiriram os seus quadros da cadeira elétrica ou dos espetaculares acidentes de automóvel? A partir dos anos 60, ele deixou de enriquecer a concepção publicitária através de formas e fórmulas da arte superior para, ao contrário, trazer à arte os símbolos gritantes da publicidade de massas. Deixou as lojas elegantes da Fifth Avenue, voltando-se para os supermercados de Queens, Bronx e Brooklyn e de outros subúrbios norte-americanos. Lançava-se na esfera artística primeiro com desenhos e depois com os quadros de notas de dólar, latas de sopa, garrafas de Coca-Cola, frascos de ketchup, quadrinhos de Dick Tracy, Popeye, rótulos de garrafas, fotografias da imprensa popular, e mais tarde as fotografias instantâneas que fez de si próprio, o que depois se tornou a base da sua atividade artística.



Se até ali Warhol tinha rodeado os produtos de luxo com o brilho do privilégio, a partir de então dedicava-se com ardor aos artigos de massa do consumo norte-americano, que sem dúvida simbolizaram o american way of life de modo mais persuasivo e mais surpreendente do que os sapatos de personalidades ricas e célebres. "O tema pode ser aquilo que se quiser. Bonito ou feio. A beleza de uma obra de arte reside na obra de arte em si mesma", decretava Robert Henri. A fotografia (e a serigrafia dela) reproduz o que os olhos vêem com mais veracidade do que todas as pinturas antes dela, e eterniza em certa medida a realidade visível. Warhol, como observador distante, notou muito cedo a influência dominante e sempre crescente da fotografia e do cinema sobre o espírito das pessoas na percepção da realidade. Assim, verifica-se que a estrutura repetitiva dele conduz à erosão do valor utilitário e do caráter de mercadoria: a repetição corrói a imagem individual. Warhol consegue fixar em alguns quadros inesquecíveis o caráter desolador da repetição, a destruição da expressão pelo excesso de informação e do prazer pelo consumo.



Werner Spies julga poder deduzir que: "O essencial não é o jogo dos clichês que deu origem às representações estereotipadas mais fortes de Warhol, nem a crítica do consumo, que transforma a credulidade em escárnio: o essencial é a procura de uma transgressão daquilo que nos assalta, materialmente ilimitado e opressivo por força de repetição. As estrelas e os produtos de consumo exprimem isto mesmo e não o mito Monroe que se alimentou da morte. O que empurrou Marilyn para a morte foi precisamente este beijo dirigido a todo mundo, que Warhol imortalizou, a sua obrigação de permanecer sempre uma imutável marca registrada. Não esconderá a desenfreada necessidade de consumo, incessantemente solicitada pelos apelos visuais da publicidade, uma secreta angústia existencial por parte dos cidadãos da abundância neste final do século XX?"



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