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Contos-->Um Peão Nos Ares -- 27/08/2005 - 18:47 (wagner araujo da silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Um Peão Nos Ares – 27.Agosto.05 – 01:36

Barroso era um humilde trabalhador que nunca havia viajado de avião e isso lhe incomodava. Sentia-se inferior aos outros seres. Até que um dia resolveu acabar com essa sina. Economizou um dinheirinho e decidiu encarar uma viagem de avião. Iria de são Paulo ao Rio de Janeiro para depois voltar de ônibus, afinal, o orçamento não dava para ir e voltar pelos ares como se fosse um passarinho.
No dia escolhido caminhou de sua modesta casa no bairro do Jabaquara até o aeroporto de Congonhas com a pochette moderninha que carregava a tiracolo. Pochette com a máquina fotográfica para a aventura e o sonho sendo realizado registrar. Caminho percorrido com satisfação, ansiedade e emoção.
Chegando ao balcão da companhia aérea para comprar a passagem, a primeira gafe. Pediu para sentar na janelinha.A moça solícita lhe disse então que ali não era o lugar para escolher o assento, que isso deveria ser feito no check-in. “Cheque o quê?”, pensou ele. Ao ver o desconforto do cliente, a aeronauta lhe explicou que para embarcar seria necessário ir ao balcão logo em frente para fazer o despacho da bagagem e confirmar a passagem.
“Despacho? Fazem macumba aqui?”, pensou o então horrorizado Barroso que entrou em parafuso.
Irremediavelmente resignado Barroso entrou na fila. E nela ficou olhando o clássico piso quadriculado preto e branco do aeroporto. Lembrou-se do Curíntia, mas achou melhor ter somente pensamentos positivos naquela hora. E a cada passo ia aumentando seu nervosismo. Não sabia o que faria ou diria quando chegasse a sua vez. Pensou em desistir e sair correndo, mas seu suado dinheirinho já havia sido usado.
Último passo e ele ficou de frente para a recepcionista sorridente. Se benzeu e apenas esticou o braço com a passagem já amarrotada na mão, sem conseguir disfarçar o sorriso amarelo.
“Bom dia, senhor”, lhe disse a atendente. Barroso balbuciou uma resposta ininteligível e inaudível. A mocinha lhe pediu o documento de identidade e perguntou se ele tinha preferência por um assento na janela ou no corredor. A resposta janelinha saiu com um alívio.
Sem bagagem, o procedimento todo foi muito rápido, e ao contrário do que ele pensava, indolor. Mas algo ainda lhe incomodava. Por onde entraria no bruto? Em qual ponto seu avião pararia? Como saber se não iria parar no Japão caso pegasse o avião errado? Mas a ainda sorridente balconista logo lhe indicaria o portão de embarque, que deveria começar em meia hora. Trinta minutos que pareceram a eternidade para o pobre Barroso. Sentadinho em uma confortável cadeira pôde pensar em muitas coisas. Seus colegas do trabalho, se conseguiria dar tchauzinho para sua vizinha lá de cima como prometera e, para finalizar, como era infinitamente mais fácil pegar um ônibus. Prometeu a si mesmo que nunca mais reclamaria da condução lotada e atrasada. Pensou até mesmo em dar um beijo no motorista e no cobrador.
Foi quando Barroso foi trazido de volta à realidade pela estridente voz que ecoou pelo aeroporto. O embarque para o Rio de Janeiro estava aberto. Deu um pulo da cadeira e se encaminhou para o portão com o coração palpitando. Outra moça conferiu o bilhete e lhe esticou o braço para indicar o caminho. O sorriso de Barroso mostrou até a recente obturação a que fora submetido.
Pobre Barroso, mais um vexame. Ao passar pela porta detectora de metais ouviu um apito ensurdecedor. Um segurança com cara de pouco amigos logo entrou em sua frente. Sem saber o que fazer, deu um passo para trás. Acostumados com tal situação, os demais seguranças logo lhe perguntaram se havia algum objeto de metal no bolso. Sim, muitas, mas muitas moedas tilintavam lá dentro. Aconselhado então foi Barroso a depositar tudo em uma bandeja plástica que corria por uma esteira. Lá se foram as moedas e sua pochette com todo o seu rico dinheirinho. “Meu Deus, será que eles vão devolver?”, pensou Barroso. Sim, assim que passou pela porta detectora os seguranças se encarregaram de devolver tudinho. E então seguiu um homem todo feliz rumo ao seu sonho.
A sala de espera tinha ar condicionado e salgadinhos. “Que chique”, pensou ele antes de verificar se teria que pagar pelos quitutes. Como não tinha que pagar nada, Barroso encheu o bucho até chegar a hora do embarque.
Hora do embarque, hora da felicidade. Finalmente conheceria um avião por dentro. Teria gente em pé como nos ônibus? Teria mais comida? Chegara a hora da verdade. E também , a hora da decepção. Ao ter sua passagem destacada se deparou não com um avião, mas com um ônibus. Não entendeu nada. Quis perguntar, mas ficou com vergonha. Então reparou que lá longe um pessoal desembarcava de um avião e entrava em outro ônibus. Entendeu, para alívio dos outros passageiros que tinham a passagem bloqueada pelo corpanzil de Barroso. Percurso de cinco minutos que Barroso achou uma tremenda frescura, sem ter o mínimo de noção das normas de segurança de um aeroporto.
Pronto, agora estava de frente para o avião. Sacou sua máquina fotográfica e pediu para um passageiro tirar várias fotos . Como estava feliz. E mais feliz ficou quando viu o piloto, o co-piloto e as aeromoças ao pé da escada por ele esperando e lhe desejando uma boa viagem. Com direito a tapete vermelho e tudo nos degraus da escada de acesso. “Que chique”, pensou ele subindo dois degraus de cada vez.
Embarcou em um avião, mas para ele, era como se estivesse entrando no Éden. O Paraíso para ele era ali. Boquiaberto, foi ajudado por uma aeromoça. Não conseguia achar sua poltrona, mas ela estava lá, esperando por ele. Sentou-se e com muito sacrifício conseguiu travar o cinto de segurança. Tentou abrir a janelinha para pôr o braço pra fora, mas não conseguiu. Achou melhor ficar quieto.
Tudo era maravilhoso, até mesmo os gestos engraçados das aeromoças explicando o que fazer com as máscaras de oxigênio em caso de despressurização da cabine, fosse isso o que fosse. E ao sentir o avião se movendo teve vontade de chorar. Olhou para seu vizinho de poltrona e sorriu. Não obteve resposta. O homem já estava lendo uma revista de bordo. “Insensível”, pensou Barroso que observava cada movimento da tripulação.
Ouvir o comandante dar as boas vindas ao vôo e anunciar que a decolagem estava autorizada foi para ele a gota d`água. Uma lágrima correu por seu rosto rústico e queimado de sol. O avião tremeu e começou a andar pela pista com toda a velocidade. Até que saiu do chão. Barroso pôs a mão no rosto para abafar o choro e os suspiros. Não teve medo da altura, aquilo não era hora para ter medo. Poderia até o avião cair, pois ele morreria feliz. E um homem não pode nunca morrer com o coração triste.
Durante os quarenta e cinco minutos de vôo Barroso foi feliz. E não se esqueceu de, ao sobrevoar o Rio de Janeiro e ver o Cristo Redentor, agradecê-lo pelo sonho realizado.


Wagner –



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