POEIRA DO TEMPO
(José Eurípedes de Oliveira Ramos)
Guardados antigos trazem lembranças. Outros, perdidos na bruma do tempo, não têm resposta na memória. Confesso que já cometi péssimas valsinhas e horríveis versinhos. Coisas de adolescente, hoje ridículas, mas que fazem parte de meu passado e que, ainda envergonhado, guardo e nem sei o por quê. Os que seguem datam dos anos 1953-1954, quando, estudante do Ateneu (Instituto Francano de Ensino), participava da Academia Literária Castro Alves.
VEM!...
Ver
pratear a lua a noite escura.;
brilhar a luz nos olhos de quem ama.;
a flor se abrir e desatar perfumes.
Ouvir
a canto da rola pedindo o companheiro.
Sentir
a brisa bulindo nos cabelos.
Caminhar
no silêncio do campo.
Contar
estrelas, feito menino.
Deitar
na grama e soltar a alma.
Sonhar
a busca da felicidade.
Vem!...
FLOR DO CAMPO
Tanto era bela no chão seco a flor,
A hasta longa balançando ao vento!
O sol quente desatava ao tempo
promessas doces, no mais leve odor.
O pesado passo do matuto bruto
Afundou na terra a beleza em cor.
A haste longa sufocada em luto,
Tanto era bela no chão triste a flor !...
SOMBRAS QUE PASSAM
Calado, vejo as sombras que passam.
Sombras errantes, sem rumo, sem passo,
vagueiam alheias, tontas, sombrias.
perdidas na noite, caídas no espaço.
Olhos ardentes, chorando cansaço,
são filhas da dor, pedindo afago,
amor: lenitivo dos sonhos quebrados,
abrigo no seio do Deus creditado.
Tão tristes, sofridas, buscando a luz,
nas crenças criadas, dos templos sombrios,
dos homens de centro, direita, esquerda.
Esperanças perdidas, desespero sem fim.
RODEIRA SEM FIM
Girândola
Girando em roda,
Desejando a volta
Do verão que acabou
E o verde secou.
Buscando o passado
De amores finados
Nas rosas que nascem
Em outros jardins.
POETAS
Vós sois da poesia amada
fiéis soldados, por ela amados.
Em vosso cantar se encerra
toda a beleza que o sonho alcança.
Quereis-me poeta também,
se mau prosador sou
e o meu verso nem verso é ?
Ora!... cantai... eu vos escuto.
SOLIDÃO
Em triste e solitário pranto,
tangendo primas e bordão,
o amor de outrora tem o canto
do seresteiro ao violão.
O dedilhado afetuoso, leve,
é dor que chora em nota breve.
Sonho querido e nada feito,
sonhar teimoso ainda no peito.
Triste e só, na dor batido,
vibra o som na noite escura:
gemer macio, incessante... lento.
Na solidão o encontro dorido:
do amor –a ilusão perdida-
da madeira –companheira- amiga.
ESTRADÃO
No risco da estrada
Da seca curtida,
Deixando poeira,
Varando o sertão.
Rolando cascalho,
Na chuva caída,
Em mato espinhento,
Abrindo estradão.
Tangendo manada,
Soprando berrante,
Chamando na frente,
Empurrando boiada.
É estrada de pó.
É rio de vida
Que corre no chão.
Abrindo estradão,
Vai o peão!
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