Eu quero o amor
Eu quero o amor
Como ele é, em bruto absoluto
Eu quero o amor
Como ele também é, doce e gozado
Eu quero o amor ,ferozmente...melado
Encolerizdo
Irado
De cor alaranjado
Gozar eternamente amando e amado
E cantar no meio de sexo cantado
E nunca ficar amuado
E ado ..e ado
E chateado
Amordaçado
Por nunca ter amado
E berrar para ser libertado
E suado
Por Ter funcionado
Encantado
Pelo teu penteado
Queimado
Por Ter abusado
Desajustado
Deste mundo terrado
Odiado
Multado
Lancetado
vidrado
estatuatado
Oprimido ,grito pelo teu nome:
Amor
A liberdade
A liberdade
Ah finalmente a liberdade
O ar
A brisa.....suave......o pôr do sol
Um campo sem fim....um verde prado...um prado...verde sem fim
De repente cá dentro a verdade
Aos solavancos,
Estoirando ....com tudo
O coração salta ....estoira a poesia
E o batimento do amoroso orgão ...ouve-se ao longe
Pum!Pum!Pum!Pum!
E bate !e rebate!
E parte!
Espalha-se pelo corpo
Pum!Pum!Pum!Pum!
Puxa o corpo para cima
O corpo flutua
Ardeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee!
Ardeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee!
Olhos abertos
Nuvens que passam
Passaritos que cantam: piu,piu,piu,pi,pi
Espreguiço-me!
Bocejo!
Leio: liberdade!
O buraco
Cavo um buraco
Esburaco
Procuro
Pergunto
Afundo
O assunto.
É de noite no furo
Rodeado de tudo
Reteso, firmo
O medo
Cavo-o no meio, o medo ,o assunto
E repasso-o pra baixo
Pró meio do mundo.
Sem descanso cavo
Encontro o húmido ,o frio, a paz
No meio do buraco ,no meio da Terra ,
Digo, sou capaz!
Obstinadamente continuo
De pá em punho
Faço crateras
Do meu jeito, do meu cunho
A terra molhada, puxo-a
À roldana improvisada
Reteso-me de força, faço mais um esforço...
Enjoo de improdutivo trabalho
E paro, ignorante e ridículo
No fundo da toca , no meio do mundo
E Rio solto, solto , esgotado, escancarado
De Ter passado o último limite
Deito-me no fundo
E miro-me por dentro
Sim agora sou eu, longe de tudo ,depois do medo.
Completo o trabalho mirando a abertura ,pequena, do furo
O dia distante, a vida crepitante longínqua e ínfima...
Agora sim,sou feliz
Pouso a pá
O buraco está feito!
Manequim
Desfila
Desfolha
Dissolve
Desenvolve
Uaaaaauuu!
Brlhante,
Exuberante,
Formidável,
Admirável,
Uaaaaauuu!
Ela passa, ela é!
O corpo articulado,
Amagrado,
Desnudado,
Mostrado,
Uaaaauuu!
Agora aí vem do fundo...
Do sonho,
É a fantasia que é!
Serena,
Mutante,
Matante
Saia curta,pele de elefante,
Calça e cocteau, very,very beau
Lingerie, trés intime
Sensual,
Muito especial!
Uaaaauuu!
Decoté,
"Saulté",
Moillé,
Uaaaauuu!
-Atenção à maquilhagem!
-Quero-a requintada nesta passagem
E lá vai ela, qual cinderela em noite de baile!
Rafiné, muito femme!
Un chapeau e muito charme...!.
Domina tudo,
A passerelle, a tv
Uaaaauuu!
Agora a final colecção...
Srs e Sras.....
O ...mundo...
Na pele da simples manequim.
Uaaaauuu!
01-02-2000
Retrato
Cabeludo
Mal barbeado
E peludo
De braço forte e armado
Peitudo
E pouco amado
E em baixo sempre pronto o faz- tudo
Cara de chateado
De coração, ossudo
Sempre mal lavado
E quase sempre mudo
Lá está ele deitado
Mal acamado , desnudo
Preso na cela, guardado
A ver a liberdade por um canudo
Amor 4
31-01-2000
Que mais posso dizer de ti?
Que não existes?
Que és um sonho?
Não!
Não te quero negar!
Quero sempre falar de ti!
Exaltar-te!
Louvar-te ! tudo!
Tudo o que tu és. Aquilo que ainda não sabes que és!
Sabes! Quando me lembro de ti, imagino quadros, vejo filmes, leio livros...:
Um longo lençol branco de cetim, esvoaçando ao vento, caído de uma janela, brilhando-lhe uma intensa luz. È primavera. O prado defronte da casa está verde, intenso, polvilhado de cores, de flores. O sol é meigo...
Agora vejo pianos, ouço sonatas, salões repletos de gente dançante...agora é o teu riso, suave,cálido ,centrípto numa mistura de todos os sons do mundo .... e eles,os sons, girando numa enorme espiral, natural,informal. E tu cais do ar, sempre sorrindo, e eu sou Pégaso, voando, com os meus dois braços,abraçando-te....
Agora ainda o lençol é maior, grande, excentricamente enorme, alvo...
Deslizo por ele, afagando-o, beijando-o..... é um quadro repleto de paz....as pombas...todas as pombas do mundo..o espírito santo ...a pomba de Picasso...
E tudo o vento leva, toda esta imagem ,ondula no espaço...e lá em baixo vejo o Mar,intenso e azul,azul, sem fim...
És tudo isto!
"E mais que isto" és tu ao pé de mim...
...colando os lábios aos meus...
e mais que isto...
seremos nós dois para sempre juntos
eternamente.....
....amando...
31-01-2000
"Amor"
E agora vou escrever um poema
Olho o papel branco...
Rasgo-o
Colo-o
Amachuco-o
Desembrulho-o
Agora escrevo-o
Htgdhdjdjhdjdddhdjddreytr
Letras,obstáculos,lixo,linguagem
Decido escrever o amor
E escrevo:
Talvez o melhor sinal para o descrever..
Porque os outros sinais não são
Nada,não são nada
Registo a palavra amor 100 vezes
Bato com ela no papel
Piso-a
Espremo-a
É muda, não grita, não diz nada
Faço-lhe uma festa com a borracha...
Apaga-se... extingue-se
Porque o amor não se descreve...
Farto
Estou farto de encostar ideias aos sinais
Risco a palavra amor
Não ao calígrafo amor
Não!
A paz
Eh lá homem da metralhadora!
É paz que tu queres?
Nem ouves o que te pergunto.
Tratratretrattratretratratre
O alvo salta,morre um homem,dois ou mais
tratratratretratratratretra
o ruído da arma despedaça-te e tu nem sentes:
tremem-te os braços, batem-te os dentes
solta-se do teu coração o amor por ti, pelos outros,cai no chão
pisas-lo e tu nem reparas
tratretratretratretratre
os segundos são horas, dias ,uma vida
tratretratretratretratre
já não é ódio que sentes
aliás já não sentes nada
o que resta de ti vibra,treme
já não és um homem ,não és nada
ou antes és uma metralhadora, não pensas, disparas.
De repente, páras e perguntas-me:
A paz .... o que é?
Inverno
No inverno engripo
Tolda-se-me tudo
Derrapo
Paro de respirar
Abafo de abafo
Lamento
Choro até de frio
E de isolamento
Da mente.
Enquerquilho num sarilho
Rodopio
Não rio.
Com isto tudo
Aparece o sisudo,
Na máscara da cara,
Cresce-me velhaco o nariz
Que pinga infeliz.
Descai-me a alma
Espirro,
O meu esbirro
Embirro
E embirro
Com tudo, com o frio
E sinto frio
Sinto frio
Frio
de Inverno.
Uma paixão
Deixa-me amar-te
Deixa-me olhar-te
Adorar-te
Sentir-me em ti
Não tens longos cabelos loiros
Nem lábios carregados de baton
Não tens o corpo torneado
Nem bebes por finas chávenas de chá
Mas tens aquele olhar...
Aquele sorriso guardado
Um coração bem encarnado
De quem sabe amar....
Vejo-te de longe
Não sabes que existo...
Que vale falar mais disto:
Do meu amor e encantamento por ti
Ardo,sofro e não desisto
Da paixão que nasceu logo que te vi
E cá fico dormente e só
Lendo repetidamente na minha mente a tua cálida imagem
Vezes sem conta
Revezes
Ás vezes
Por vezes
A fina dor da impotência de me aproximar de ti
Roe-me
Prosta-me
Revolta-me
Subtrai-me
Dimunui-me
E penso em ti...
Cá...
Do fundo
De
Mim!
versadamente
Falta-me o tempo
O sonho consome-me
O trabalho pesa-me
A noite é noite
O frio que faz arrefece-me
O barulho do modem incomoda-me
O ar é invísivel
A lua está distante
Uivo por dentro a ela-lua
Solta-se-me o espírito
Arrepia-se a mente
Busco,rebusco cá dentro
E não encontro semente
Solta-se-me os versos
Dilacera-me o ego
Trepida-me a alma
Fumo um cigarro
Azeda-se-me a saliva
Engripo os meus olhos
E reolho-os por dentro
Diabólica mente
Demente
Serpente
Sente
Te
Nada
Renada
Deus
Eus
Eu
Pim!
Pedra sobre pedra
Um homem esgotado...
Pedra sobre pedra
O homem consegue
Ergue com esforço
A pedra e outra
Agora ainda outra
É força que tem o homem
Ou é leve a pedra que o homem põe?
Não , não é leve a pedra
É antes a força da inércia em movimento uniformemente acelarado que o homem esgotado tem!
É a réstia última de um ser parado,chupado,sugado, passado...
Passado ....não tem
Levaram-lhe com a alma
Como sempre acontece ,a quem?
Áqueles
(quem havia de ser)
A quem fez bem!
Isto é sexo
Os dedos no teu corpo
O toque das nossas pernas ,escorregando
As cabeças cruzadas
Os teus cabelos molhados
A luz do sol desce até nós, agarrados
Os teus lábios ,onde estão os teus lábios?
Continuo a esculpir-te...
Com as mãos
Com os pés
Com os meus olhos
Com amor
Com dor
Porque amor é dor...
E os nossos corpos gritam
Arrepiam-se
Vejo no espelho em frente de nós...uma
Imagem serena de dois corpos entrelaçados
Molhados
Pintados pela luz tépida e colorida do sol
Que quadro fazemos nós!
Como gostaria que Picasso nos visse daquela janela defronte e nos ..
...redesenhasse
e nos
torcesse
Agora gosto mais de ti...
Ainda mais..
Digo-te isto,tu ris-te
Ou melhor, sorris-te
Vem a alma...
Beijamo-nos
Beijamo-nos,
Beijamo-nos!
Natureza morta I
Está morta a natureza
Triste cor a pinta
É da luz ou da beleza
Ou da falecida tinta
Ou
Vejo-a triste a natureza
Naquele quadro não luta
Será da luz ou da beleza
Ou da falecida fruta
Natureza morta II
Sigo linhas distantes
raios de imensa luz
que pousam nos quadros gritantes
na natureza morta de sus...
sus...realismos psicóticos
lágrimas de uvas partidas
peras em magros sonhos ópticos
melancias em talhadas sofridas
perspectivas oníricas
vidas divididas
sem emoções maricas
de Dalis de ricas vidas
é forte o quadro que sonho
da vida real que vivo
porque afinal a natureza não é morta
nem eu sou um poeta/pintor de lugar certo ,inerte e cativo
Natureza morta III
Rasgo telas
Parto pincéis
Louvo , forte e alto, pinturas
Encanto-me muito com elas
As imóveis naturezas mortas
É o brilho, a luz
Que cai lenta,lentamente
Na calma, naqueles calmos nus
Os frutos sem roupa
Pousam ingénuos e santos
São o resto da vida
Da semente que Deus deixou
Agora coloco o quadro
Como um belo relicário
No meu quarto que agora é um adro
Da sé que o mundo para mim agora é!
Cortejo
Multidão
Rebanhos besourados por cantigas lancinadas
Pés descalços
Suores frios
Sol torrado
Crenças sacrificantes
Cruzes por todo o lado
E mais cruzes
E padres
Forasteiros tristes
Tubas doentes
Anjos podres
Corações mirrados
E a multidão continua...
Nua...
Capitalismo
A mais valia vale
À custa de um mal
A venda e compra de um corpo
De um corpo....que rola no ar
Há sempre um corpo entre nós.. aqui no bar:
Eu (um pobre professor) vazio a dar,
Tu (patrão de empresa de electrodomésticos)teso e direito a receber
150.000 anos disto....
desta porcaria de dar o corpo
desta espécie de prostituição
de dores ,de guerras, de ódios
é uma doença, sem cura até então.
Olha velho patrão! Viro-te as costas ao balcão!
E tomo atenção para a pequena televisão
Um jornalista faz uma reportagem – fala do 25 de Abril e da liberdade!
Contente e ainda de costas para ti lanço-te uns gases intestinais
Para ti e outros que tais!
Com as mãos
Com as mãos eu desloco o ar que respiro
Faço gestos á lua distante
E num instante
Abro a noite aos meus olhos
E olho
De frente
A noite do medo
Há uma luz que começa a brilhar
Há uma estrela que cai de repente
E me diz que sente
A minha coragem a palpitar
O corpo pr’a frente , as mãos a ladear
O vento que ergue o cabelo pr’o ar
É a minha estátua
É a minha alma
É a minha coragem
Erecta a amar
Amar o quê?
O mundo!
E tudo isso que é fundo!
Tudo o que é feito para um homem lutar !
Prostituta 1
Vende-te e luta
Torna-te bela e prostituta
Não fiques a comer o ranho dos teus filhos
Não cases, não cries sarilhos
Torna-te puta
E labuta
Na pedra fria da calçada
De perna alçada
Bebe e "chuta"
Lá dentro é que se faz a "truta"
Rebenta-te, consome-te mas não desistas
Torna-te a fria e nua raínha das pistas
Ri-te , gargalha
Chupa toda a canalha!
Engorda! Rebola , agora és mais velha que a cicuta
Beija e rouba o chalupa
És a megera do mundo, a raínha do mundo
Vejo-te deitada na Terra, por cima, enorme
Agora babas-te . sempre rindo com aquele horrível riso que faz andar o mundo
Rebentas de dinheiro, apodreces...
Apodreces-me
Vai-te puta!
|