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Cronicas-->AMIGOS E PARENTES -- 30/01/2004 - 23:14 (Francisco Miguel de Moura) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
AMIGOS E PARENTES

Francisco Miguel de Moura*



O dito popular de que vale mais um amigo na praça do que dinheiro na caixa é a prova inconteste da valorização do amigo nas camadas populares. Que se saiba, não há um adágio equivalente com relação aos parentes. O contrário é que tenho ouvido de meu amigo Osmundo Vergado:
- Prefiro os amigos aos parentes.
Repete-me tantas vezes sua preferência que, para tirar-lhe o gosto da afirmação e levá-lo a outro terreno, perguntei-lhe, um dia, como perguntam as crianças:
- Por que, Osmundo? Por quê?
- Ora por quê! Os amigos a gente escolhe, mas os parentes nos são impostos.
Jamais pensava obter resposta óbvia e no entanto tão sábia.
É difícil encontrar-se um homem, por mais pessimista ou misantropo, que não possua um amigo. A amizade é, ou deve ser, a única intermediação entre um amigo e outro. Porque, se há interesse no meio, a amizade não é sincera. E carecendo de sinceridade, não haverá lealdade, virtude-essência do amigo.
Meu caro leitor, se você é comerciante ou vive do lucro de alguma forma, seja do trabalho político, comercial ou industrial, evite transações com os seus amigos. Amigo é aquela preciosidade de reserva, não devemos usá-lo, salvo para uma palavra de consolo, parta de lá ou de cá. Amigo é mais que irmão. Entre um irmão e outro há pelo menos a herança e a expectativa de que devem ser iguais, quando, sabe-se hoje, a hereditariedade muito pouco ou quase nada tem a ver com o comportamento, a moral, a ética e os bons costumes.
Quanto mais amigos, mais desiguais. É na desigualdade que o campo da compreensão se estabelece e funciona, floresce e frutifica.
Que sejam os amigos tolerantes, generosos, humildes, mas também verdadeiros, pois muitas vezes sujeitam-se a descortesias - tudo na confiança de que, «aos amigos tudo, aos inimigos as penas da lei». O amigo sempre está perdoando ao outro, sem necessidade de formalismos. A comunicação é direta, em linhas invisíveis de sentimento.
Desta forma a amizade amadurece, fica velha, juntamente com a beleza da comunicação rápida, sem palavras, quase sem nenhum gesto. Os amigos se entendem no silêncio e na distància, nas horas de festa e nos dias de tristeza. Podem discordar nas palavras, nos pensamentos, sinal de que além da razão que nos manda ser diferentes há outra razão que nos aconselha a ter amigos.
Os parentes... Bem, melhor é não tecer considerações e deixar a família em paz. Infelizmente, da família vêm o amor e o ódio recíprocos, a falsidade e outros desejos inconfessáveis. Mas, em compensação, é dentro da família que se aprende o valor da amizade. Não é raro, há parentes que se tornam amigos, há pais que se tornam amigos de seus filhos, há mães e filhos amigos. E assim fazem um contrato de salvação do perdido. Existem, por fim, esposos amigos, cunhados amigos, mas esse é um terreno em que não quero entrar - o da parentela por afinidade. Se não, vamos dar na figura da sogra, e então estarei perdido, nada saberei explicar sobre essa figura singular de mãe e contramãe.
Finalmente, digo, quem não tem amigos, não terá inimigos. Não é carne nem peixe. Torna-se difícil encontrar um nome para essa espécie de gente.
É notório que o parente só nos procura quando está precisando de nós. Ao invés, os amigos nos procuram quando estamos precisando deles. Fica estabelecida, portanto, essa diferença.
Também não vamos exigir que os nossos amigos sejam santos. E quando cometerem seus pecadilhos, estejamos prontos ao perdão, mesmo que sejam faltas contra outras pessoas que não nós mesmos. Porque ninguém está disposto a perder um amigo. «Amigos e vinhos, quanto mais velhos melhores», para terminar como começamos - com a sabedoria popular.
Parentes, bem, esses são eternos.


___________
* Francisco Miguel de Moura é bancário aposentado, escritor da ativa (23 livros publicados), membro da Academia Piauiense de Letras, do Conselho Estadual de Cultura e da UBE.


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