From: silvioalvarez
To: Amigo
Sent: Thursday, July 10, 2003 11:58 AM
Subject: Carta ao Mecenas - Depressão - Já cortei algumas cabeças do bicho de sete.
São Paulo, 10 de julho de 2003.
Caro amigo.
Espero encontrar todos com saúde!
Não tenho escrito com a contância que gostaria. Compreensível. Muito trabalho, muitos encontros e desencontros, muitas alegrias e consequentemente muitos problemas. Os problemas não têm sido suficientes para que perca meu norte. Tenho me dado os parabéns todos os dias e considerado o valor real do que tenho conquistado e como venho corajosamente enfrentando a depressão. Um fantasma. Sempre a espreita. Sou mais forte que ela. Demorou para que percebesse isto e você sabe o que tive de passar para aqui chegar.
A nova coluna O Poder da Lagartixa tem me auxiliado a pensar mais sobre o assunto e a compreender alguns mecanismos que até recentemente desconhecia e me pegavam de calças curtas. Possuo, acredito como outras pessoas, uma série de mecanismos auto destrutivos que passam a ser controlados depois de devidamente identificados. Minha experiência é minha arma e meu escudo. Sou forte. Tudo o que passei serviu para algo. Algo importante e que percebo, agora, poder ajudar muita gente.
A batalha é constante meu amigo. Devo admitir que os anos de terapia me ajudaram. Sou contra a terapia durante períodos agudos de depressão. Entretanto, admito que os mais de dez anos de análise me auxiliaram a compreender o que se passa em minha mente e a descobrir estes mecanismos aos quais me refiro, sozinho.
Não sou nenhum psicanalista. Todavia fui aprendendo a raciocinar como um deles. Só funciona comigo mesmo e não acerto sempre. Em alguns momentos minha mente consegue me enrolar direitinho. Pode demorar, mas, aos poucos, vou desvendado um por um dos meus mistérios.
Tenho notado o interesse em meu histórico de vida. Que bom. Fico feliz e continuo à disposição para conceder entrevistas como tenho feito para veículos e estudantes de todo o Brasil. Nem a tendinite. Esta praga do século tem conseguido me impedir de prosseguir nesta batalha sem fim. Sobretudo, tenho Deus a meu lado. Devo considerar a presença e o apoio sempre constante de meus queridos pais e de amigos como você.
Agora tenho contado com a ajuda de minha vizinha portuguesa, a Helena. Maravilhosa. Uma grande companheira. A pessoa que faltava para falar de tudo e me ajudar a tocar o barco. Chegar em casa e não ter com quem conversar após o serviço era um grande problema. Conversamos muito neste feriado e ela me ajudou a descobrir uma coisa bastante simples, presente em toda a minha vida e que eu não sacava. Quando encaro um problema que envolve outras pessoas, na minha cabeça julgo ser sempre o lado errado. É verdade. Percebe? É um mecanismo simples que agora identificado pode mudar tudo. Eu não sou absolutamente sempre o errado e nem sempre o certo. Eureka!!!
A parada não é fácil. Porém já cortei algumas cabeças do bicho de sete.