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Contos-->Doce quimera -- 11/08/2005 - 12:48 (Pedro Wilson Carrano Albuquerque) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Doce quimera


Dois meses longe da família, que deixara em Florianópolis. Minha rotina compreendia, tão-somente, a ida do trabalho para o apartamento onde residia no Rio, e daí para o escritório. Nada mais, a não ser algumas saídas para a compra de mantimentos ou para as refeições em restaurantes próximos.

E foi no elevador, numa noite fria, que conheci Dona Josephine, minha vizinha. Houve, então, uma rápida apresentação e a descoberta de que estávamos nos dirigindo para o mesmo lugar: o restaurante “Aipo e Aipim”.

Dividindo a mesma mesa, acolhi sua sugestão para experimentar uma deliciosa e bem temperada sopa de abóbora.

Contou-me ter nascido em 1927, em Bruxelas, Bélgica, mudando-se para o Rio de Janeiro com Giuseppe, seu marido italiano. Gostaram tanto do Brasil que resolveram não mais retornar à Europa.

Os dois filhos brasileiros seguiram seus próprios caminhos e ela, após enviuvar-se, sentiu-se só em apartamento de quatro quartos em Copacabana, motivo por que resolveu residir em imóvel de quarto e sala no mesmo bairro, com menos trabalho para uma dona de casa.

Atento à narrativa da mulher, eu observava disfarçadamente, e mesmo com curiosidade, as rugas em seu rosto, sinais de seus setenta e oito anos.

Depois disso, ficamos uma semana sem nos vermos, até reunião no mesmo estabelecimento em que, juntos, havíamos estado anteriormente.

Quando os olhos se afastaram da sopa de ervilha à minha frente e encararam a companheira, vi alguém mais jovem que a da outra vez. As marcas em sua pele agora pareciam-me charmosas. A meu ver, teria, no máximo, uns sessenta e cinco anos, pouco mais que a minha idade.

Falou-me de seu amor pelo esposo e da forma carinhosa com que ele a tratava. Foi isso que a levou a abandonar a pátria e a família e atravessar o Oceano Atlântico em direção ao Brasil.

Na terceira vez em que partilhamos uma refeição, não foi mais uma sopa que consumimos, mas um delicioso pescado regado a vinho branco. Ao fitá-la, notei seu penteado bem armado, o vestido chique, com os ombros à mostra, e os belos olhos azuis. Pensei: - Ela não possui mais que cinqüenta anos.

Já íntimos, ela narrou-me os momentos venturosos com o esposo, o único homem de sua vida. Havia descoberto alguns casos do marido, mas fingira nada saber, para não prejudicar sua agradável convivência. Afinal, aprendeu com a mãe que os homens eram assim mesmo, nada os segurando quando uma franga mais assanhada lhes jogava as asas.

E os dias voavam. Já havia decorrido mais de um mês da data em que conhecera Josephine (desaparecera o tratamento de “Dona”). E eu continuava só em meu apartamento. Um travesseiro era, há muito, a única companhia que eu podia abraçar em minha cama.

Alguns dias depois, eu e a vizinha descobrimo-nos juntos, mais uma vez, diante de mesa de restaurante. Garrafa de “Chateneuf de Pape”, desarrolhada com mestria, e filé-mignon no ponto deixaram-nos eufóricos e liberados, com troca de declarações de atração mútua.

Naquela noite, eu e Josephine dormimos agarrados um ao outro. Antes disso, porém, constatei, impressionado, que a pessoa ao meu lado não possuía mais que trinta anos, considerando o preparo físico demonstrado.




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