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Poesias-->Igrejinha casa de família -- 10/08/2006 - 01:48 (João Ferreira) |
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A IGREJINHA
Jan Muá
8 de agosto de 2006
Um roteiro turístico
Nos leva
À Rua da Igrejinha
Na comercial 107 sul em Brasília
E por preceito da mística romagem
Nos envolve com uma peregrinação
À capelinha de Fátima, ali ao lado
Beirando a superquadra 308 sul
Desenhada por Niemeyer
E urbanizada por Burle Marx!
Juntamente com a 307
As duas quadras foram sonhadas na modelagem dos fundadores da cidade
Para serem arquétipos de todas as outras quadras
Da capital
Isso, no tempo em que o projeto ainda valia como propósito de construção de uma cidade diferente
Onde ricos e pobres conviveriam socialisticamente
Da forma que Karl Marx pregara
E que Jesus desejara!
Mas não! O ciclone das ilusões
Nos fez chegar ao tempo do domínio do capitalismo agressivo e excludente
Ao tempo do capitalismo explorador
Globalizados agora só nos resta uma Brasília
Socialmente igualzinha a todas as cidades
Onde impera a lei do senhor e do escravo
Numa versão que pode ser a nova cara de uma humanidade eternamente egoísta
E irracional
No bafo do sonho candango
Entretanto
Ainda restam memórias e projetos de uma espiritual beleza
Que nos apontam para além da neblina da arquitetura fundante
E que se perpetuam com horizonte aberto para as pauperísticas situações
Dos trabalhadores sem teto e sem emprego
Vivo, o imaginário candango se mantém ainda
No horizonte da fímbria santa
Da túnica talar de Dom Bosco
E no olhar maternal da Senhora de Fátima
Onde o tom místico dá pelos nomes de ermida e de capela
Que são casinhas familiares de simplicidade
A simbolizar o acolhimento invisível
E transcendente da esperança
De seu módulo arquitetônico e religioso
A Igrejinha exporta
No contexto em que foi inserida
Uma suplementar gracinha
E um afago à linguagem dos homens
E à alma peregrina
Dos que aprenderam a sonhar
No descobrimento de si mesmos!
Subindo a pequena rampa
E antes de ajoelhar
O peregrino se enleva com a arquitetura
Simples e graciosa
Da simbolizante igrejinha
Que aparece como se fosse um chapéu de noiva
De abas levantadas pelo desejo
Mas leve no desenho
E também doce e agressiva no porte
Dentro do espaço livre
Que lhe assinalaram
E termina por encantar os olhos
No vôo das pombas brancas figuradas
A decorar as paredes externas
E no balanço que lhe deu o mago da linha
Senhor Oscar Niemeyer
Fazendo-a transcender-se em todas as direções
No encalço das almas
Para lhes pregar a interioridade do mistério místico
Que nela se aninhou
Por entre flores tamaninas
De suave colorido
Que dão paz aos olhos
Por dentro
A igrejinha é um templo tradicional
Com imagens e velinhas
Bancos e mística harmonia
De fundo frontal azul e de paredes brancas
Ostentando a autoridade
de uma Nossa Senhora piedosa
Jovem e graciosa
Vestida de donzela
De terço pendente das mãos divinas
Com crisântemos floridos em jarras
Deixando nos olhos de quem a observa
Uma mensagem de credibilidade maternal
Em favor de seu filho Jesus, crucificado ali
Ao lado
Numa cruz bizantina
Reproduzindo o crucifixo de S. Damião, em Assis,
Na Itália
"Este é meu filho amado...
Escutai-o"!
Jan Muá
Brasília, 8 de agosto de 2006 |
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