Um dia um monge andarilho me abordou
E um enigma me pediu pra decifrar,
Falou que o absurdo está no hipocrisia
Das pessoas que vivem pra se controlar.
A história contada parecia um delírio
Em que o mundo estava virado,
Feito os móveis da casa do lado de fora
E os tapetes no telhado.
Falou dos homens de terno que fumavam cachimbo,
E dos jovens suicidas viciados,
Dos índios contidos nos documentários,
Já que foram exterminados.
De uma janela em que se via um trem passar
Com passageiros desnudos dançando no teto,
Surfistas que gritavam eletrocutados
Que nada na vida é errado ou certo.
Intelectuais que misturavam limão e vodka
E dos médicos que mutilavam pacientes,
Políticos que roubavam pobres famintos,
Tendo como assessores seus parentes.
Engenheiros que na beira da praia
Erguiam prédios de areia,
Bandidos que ordenavam chacinas
Dos seus celulares na cadeia.
Um mendigo que dormia com as novas notícias
Embrulhado num jornal,
Sonhava com a mesa farta de comida,
Mas achava a fome normal.
Um velho poeta que guardava os seus livros,
Pois não havia ninguém para ler,
E um sábio profeta que se calava
Diante dos fiéis que não queriam mais crer.
Falou dos padres e dos pais de família
Corrompendo crianças por prazer,
E dos lobos pastores da miséria
Usando a fé pra enriquecer.
Dos jovens ricos queimando indigentes
E das mulheres escravas da vaidade,
Dos policiais e juizes criminosos
Que encontravam na lei impunidade.
Eu pensei nas loucas frases do estranho,
Mas tal paradoxo não pude entender,
Ele riu para mim e já indo embora gritou:
Um dia a resposta você vai obter.
Na varanda acordei, era apenas um sonho,
Eu vi borboletas no jardim,
Liguei o meu som e ouvi Raulzito,
No início, meio e fim.
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