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Contos-->Frustração -- 09/07/2005 - 18:18 (Pedro Wilson Carrano Albuquerque) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
FRUSTRAÇÃO


“Não é o inimigo que um amante deve temer. Foge, pois, daqueles que julgas fiéis, e estarás a salvo do perigo. Cuidado com o parente, o irmão e o amigo dileto. Todos poderão te dar motivos para temores bem fundados”.
Ovídio, em “A Arte de Amar”


Juvenal era figura simpática e cativante. Não se pode dizer que era um belo homem, uma espécie de galã de cinema, mas tinha o dom de conhecer bem as mulheres e, com essa ferramenta, conseguir que muitas delas acabassem aceitando seus convites para se deleitarem nos motéis do Rio de Janeiro.

Era casado com jovem que me fascinava por sua beleza e constante alegria, demonstrada por sorriso encantador. E, ainda por cima, era mulher virtuosa e fascinada pelo marido. Tais dotes fizeram-me dedicar-lhe, contra a minha vontade, grande paixão, felizmente controlada.

O comportamento do homem, meu dileto amigo, levava-me, constantemente, a repreendê-lo. Não podia entender como o possuidor do amor de alguém como Vanusa, este era o nome da esposa, podia traí-la nos braços de outras que não alcançavam, a meu ver, os pés da companheira, que sempre o tratava com admiração e carinho.

E eu, que almejava mais que tudo receber os beijos e abraços da mulher, revoltava-me com a atitude de Juvenal.

Para ficar próximo de minha musa, matriculei-me na faculdade onde estudava. Era forma de vê-la amiúde, entre as aulas, e poder com ela manter conversações. E possuiria, ainda, o privilégio de regozijar-me com a visão de seus belos olhos verdes.

Minha vida doméstica, por seu lado, não andava bem. Brigas constantes separavam-me, cada vez mais, de Rute, com quem casara dez anos antes. Ficávamos semanas sem sexo e, quando ele ocorria, era de forma automática e pouco prazerosa. Permanecíamos juntos em função, tão-somente, do filho com pouca idade.

Acabei levando para a colega de escola, que me ouvia com atenção, os meus problemas conjugais, não poupando os mínimos detalhes.

E assim ia seguindo por minha estrada, quando, em noite chuvosa, encontrei uma Vanusa triste e contemplativa. Não conseguiu guardar por muito tempo o que a incomodava: havia encontrado, em roupa do marido, recado de alguém que, após registrar suas saudades dos beijos molhados do amante, assinava a mensagem com o batom de seus lábios.

No primeiro momento, fui envolvido por grande raiva do amigo. Como podia ser tão estúpido a ponto de deixar o incriminador bilhete no bolso do paletó? Logo ele que se vangloriava de nunca ter deixado rastos de suas escapulidas.

Da pena pelo sofrimento de Vanusa, passei para a sua consolação, tentando levá-la a compreender que deveria tratar-se de relacionamento do cônjuge sem qualquer compromisso, incapaz de prejudicar o convívio do casal.

E eu, carente de carinhos e envolvido por incontrolável amor pela interlocutora, vi-me, de repente, com disfarçada hipocrisia, a transmitir-lhe insinuações de que, para eliminar sua mágoa, deveria dar ao Juvenal o troco que ele merecia. Isso, certamente, reduziria a agitação contida em suas entranhas.

À ponderação de Vanusa de que não tinha coragem para sair à procura de um homem, como uma prostituta, para vingar-se do esposo, retruquei oferecendo-me para ser o seu parceiro, com o coração sobressaltado pela possibilidade de possuir a mulher que tanto cobiçava. A proposta foi recusada, o que não evitou fosse, vez ou outra, reapresentada.

Um adágio popular diz que “água mole em pedra dura, tanto bate até que fura”. Pois foi isso que aconteceu.

Ao convidar a esposa de meu melhor amigo para estudarmos juntos, em ambiente sossegado, para as provas escolares que se aproximavam, recebi resposta afirmativa, acompanhada de expressão facial que revelava assentimento às minhas segundas intenções.

Foi uma noite maravilhosa, com momentos de prazer que nunca tinha usufruído anteriormente, nem iria desfrutar depois.

Atordoado, não desejava abandonar o apartamento onde nos encontrávamos, implorando à companheira de noitada que abandonasse o marido e fugisse comigo para lugar distante. Cheguei a jurar-lhe, pela felicidade de meu filho, que, juntos, eu me dedicaria integralmente à sua felicidade.

Não consegui ser ouvido. Vanusa tinha pressa em retornar ao seu lar. Vestindo-se com pudor, distante de minha vista, revelava-se arrependida por ter traído pela primeira vez o esposo, destinatário, segundo ela, de todo o seu amor.

No dia seguinte, tentei, em vão, falar-lhe na faculdade. Ela havia trancado sua matrícula.

Encontrei-a algumas vezes depois de nossa união – só ou acompanhada por Juvenal, de quem me afastei por não tolerar encará-lo -, mas foi como se nada tivesse ocorrido entre nós.

Hoje, sozinho – pois me separei de Rute -, procuro consolar-me com a lembrança dos agradáveis minutos ao lado da amada, o que, no entanto, não é suficiente para afastar-me da angústia causada pelo desprezo da mulher, que, ao receber-me dentro de seu corpo, ali capturou minha alegria e tranqüilidade, nunca devolvidas.




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