Eu a encontrei em uma região afastada da área urbana, bem longe da minha moradia. Ela era uma serpente, da família affectio maritalis, nome cientifico “justae nuptiae” do tipo peçonhento. A principio uma criatura sem muitos atrativos, mas depois de observa-la atentamente, comecei reparar em suas cores sua esperteza e tudo que estava oculta naquela natureza selvagem acabei por gostar muito dela.
Capturei-a, ela quase que se deixou capturar, era uma serpente ainda jovem e cheia de vida. Levei-a comigo, a fim de tela sempre por perto. Comprei uma gaiola adequada e confortável para ser a moradia dela.
Mo começo eu a alimentava a distancia, mas depois passei a ter a confiança dela e ela comia na minha mão. Todas as manhãs eu acordava cedo para dar seu “café da manhã”. Por vezes eu a soltava no bosque para passear, mas depois eu tinha que captura-la de volta e colocar na gaiola.
Assim foi por alguns anos, eu já estava acostumado com a rotina de cuidar dela. Eu gostava de observa-la trocando de pele, gostava de reparar nos detalhes de suas escamas que mudavam com o passar dos anos. Gostava de ver seu veneno mortal por vezes pingar de suas presas inoculadoras, eu tinha quase que uma sensação de poder no ato de possuir uma criatura tão perigosa.
Estava tudo bem, até que um dia como de rotina, a soltei para passear no bosque e ela demorou mais do que o habitual para voltar. Tive que ir a sua busca, quando a encontrei capturei-a, e quando fui coloca-la na gaiola ela me picou, fez uma pose de ataque e fugiu. Não pude acreditar, fiquei sem ação, depois de muitos anos ela mordeu a mão que a alimentava. Fiquei sem coragem de ir à sua caça, fiquei decepcionado, desiludido, inconsolável.
O veneno dela penetrou fundo na minha carne, causou fragmentação cardíaca e fixação encefálica. Fiquei um bom tempo agonizando a dor dos males que o veneno me causou. Disseram-me os especialistas que o veneno foi neutralizado pelas minas defesas naturais. Mas que infelizmente os efeitos colaterais vão me acompanhar por toda a minha vida.
Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas terá sido mera coincidência.