Sempre quis ouvir muito e sempre me disseram tão pouco e o tempo me ensinou que quando se sabe ouvir não são necessárias muitas palavras, sempre quis ver além do que minha vista alcançava e o tempo me ensinou que posso ver melhor até de olhos bem fechados.
Os olhos são a janela da alma e o espelho do mundo na medida em que acabamos por refletir em nós mesmos tudo aquilo que vemos com os olhos, nem sempre a ausência da visão poderá ser chamada de falta de consciência, porque o homem há muito tempo deixou de ver as coisas só com os olhos que a terra hão de comer um dia, hoje o homem pode ver as coisas não só com os olhos de ver, mas também com os olhos do coração e com os olhos da alma.
Ao inventar a imaginação o homem inventou os olhos da alma, ao inventar o amor o homem inventou os olhos do coração, ao inventar os filmes e os livros o homem deu a si mesmo a possibilidade de enxergar o mundo através dos olhos de outrem.
Às vezes tenho a impressão que somos todos escritores e não sobra ninguém para nos ler, que somos todos atores e não sobra ninguém para ser o espectador e me pergunto o que será mesmo real nesse mundo? Meus olhos já não são capazes de me dizer à verdade, acho que fiquei cego de tanto ver.
A minha memória mais antiga da primeira coisa que me lembro ter visto na vida é uma janela bem grande com a sombra de alguém ao fundo, essa imagem deve ser de quando eu tinha uns dois anos e a outra da mesma época do fundo do quintal da casa onde morava que dava para um morro pedregoso e da porta cinza que dava para dentro de casa.
O que mais agrada a minha alma e aos meus olhos é ver a imensidão do mar banhado pela luz do sol, me dá uma sensação de grandeza e de infinito e a do céu bem azul de dia e repleto de estrelas a noite,me dá a sensação de ser só um graõzinho de areia no meio de uma praia eterna.
A graça na vida agora está em tudo aquilo que os olhos não podem ver, tudo aquilo que está além das imagens, além dos outdoors, além dos símbolos, além da percepção e além das palavras...