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Contos-->O Homem Só - Cap. 5 -- 29/06/2005 - 18:19 (Pedro de Souza Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

CAPÍTULO 5



O CASAMENTO


Bem acima do horizonte, algumas nuvens esparsas, formavam penachos multicoloridos, que davam a impressão de pinceladas ao acaso, mas, se olhadas com mais atenção, sugeriam formas as mais estranhas e reais. As cores e as formas, cada vez mais atenuadas, ao se distanciarem do horizonte, formavam com as nuvens mais baixas e espessas, um conjunto de uma realidade pictórica grandiosa.
O farfalhar da folhagem, nos galhos mais altos das árvores ao redor e, o ruído do vai-e-vem das palhas pendentes dos coqueiros, se roçando aos troncos, pela força da brisa, se somavam ao barulho do estourar contínuo das vagas, nos rochedos mais adiante.
Ogar, como que envolto pela magia natural, ali sentado na pequena laje próxima à praia, ao lado do seu fiel amigo Mero, o cão, ao contemplar mais um crepúsculo, harmonizava-se mentalmente com a natureza, mas sem fugir de suas lembranças do passado, que se renovavam e criavam vida a cada instante. Seus olhos, fitavam o horizonte do mar, que começava na ponta de terra ao longe, no outro extremo da ilha, banhada ainda pela luz crepuscular difusa, que se extinguia aos poucos, mas ainda deixando alguns fachos de luz solar, rasgarem por entre as nuvens, iluminando a escuridão que se avizinhava.
Entre o sonho e o real, a fronteira é tênue e, o tempo e o espaço nesse momento perdem o sentido para Ogar, passando ele a viver, o dia do seu casamento, com a sua amada Yara.
Toda a Monte Belo preparada para a festa. Barcaças e canoas, trazendo aquela gente toda, das fazendas ribeirinhas, desciam o rio a todo instante, para atracarem ao já congestionado trapiche, ali próximo à foz, aonde alguns barcos grandes, vindos de Ilhéus, já se encontravam.


Seu Moreira montara um grande circo de lona, bem junto à praça da matriz, a fim de abrigar aquele povo todo, que estaria vindo de fora, para a comilança na festa de casamento de sua filha. Aquele movimento todo na pequena Monte Belo, lembrava até o dia de eleições, quando vários circos de lona eram armados, para abrigarem a população das pequenas fazendas e vilas das redondezas, que chegava para votar, já trazendo cada um a sua senha bem guardada no bolso e, que lhe fora dada previamente por um cabo eleitoral; assim só podendo se abrigar e ter as refeições, no circo de um determinado candidato. Mas naquele dia, a festança do casório era de confraternização geral, e assim, todos estavam convidados, inclusive as meninas do sítio das Borboletas.
Do início da praça até a entrada principal da igreja, um longo corredor para a passagem dos noivos, havia sido feito, com estacas e plantas, encimado por arcos, com flores diversas e frutos de cacaueiro, amarrados pelos talos e pendurados em forma de cacho, em torno das estacas que sustentavam as arcadas. A igreja, pequena para abrigar toda aquela gente, já estaria completamente cheia pelos parentes da noiva, amigos, além de alguns políticos e autoridades locais como o prefeito, seu Salustino, dr. Amaro Barbosa e o delegado Pauferro.
Fogos de artifício começariam a estourar, anunciando a chegada do noivo, para a entrada na igreja, onde as pessoas se apinhavam, numa expectativa crescente para vê-lo chegar. Madame Lili e a maioria das meninas do sítio, lá estavam na calçada à entrada do templo, pois teriam sido avisadas por Uvaldino, o sacristão, que o padre Bento pedira para que elas não entrassem, a fim de evitar algum problema com os familiares da noiva. Acostumada que estava com certas restrições que existiam em Monte Belo, contra as raparigas, Madame Lili pede então às duas meninas, que já estavam lá dentro, para que elas saíssem, a fim de não criar problemas para o delegado; que era seu cliente e assíduo freqüentador do sítio, o qual já estava lá no fundo da igreja, olhando para o lado de fora, todo o tempo, preocupado talvez com o cumprimento do pedido do padre.
Ogar, lá no início do corredor, surgiria impecável em seu traje de noivo. Não muito acostumado em vestir-se elegantemente, parecia não se sentir muito à vontade dentro daquelas roupas, mas, para a maioria das moças dali, ele se tornara o sonho de marido e amante, não apenas por ser um homem inteligente, ou gentil, em particular com as mulheres, mas por ser um homem de muitas posses, o que significava não apenas o dinheiro, mas o poder.
Almara, ali vendo-o passar para o interior da igreja, em direção ao altar, onde esperaria a noiva, não se conteria em seus sentimentos de reprimida paixão por ele, e as lágrimas começariam a rolar pelo seu belo e triste rosto, ao lembrar-se de tantas noites alegres, tão íntimas e pessoais, onde ela lhe contaria tantos fatos da sua vida, como num desabafo, como faria a um confessor da maior confiança, encontrando nisso um lenitivo para os seus desencontros e sua dor. Naquela hora no entanto, Almara se lembrara também do que Madame sempre dizia para todas as meninas, - se vocês querem e precisam continuar nessa vida, procurem nunca se apaixonar por cliente, isto é coisa que vem e passa, e só irá criar problemas para o homem e para vocês mesmas, e isso não é bom.
Algum tempo depois surgiria Yara, no início do longo corredor de arcadas floridas. Durante este percurso até o templo, pisaria em pétalas de rosas jogadas pelas moças, que as carregavam em cestinhas, posicionadas ao longo do trajeto até a entrada. Durante a sua passagem, a emoção tomaria conta da maioria das jovens que ali estava à sua espera, num misto de admiração e inveja, daquela que teria conquistado o coração do homem mais cobiçado de Monte Belo.

Seguida pelos seus familiares, Yara, no seu bonito e rico traje de noiva, seu belo rosto irradiava uma felicidade, que transformava aquele instante em eternidade, diante de toda aquelas pessoas. Em passos lentos, passaria pela porta principal para o interior do templo, em direção ao seu amado, que já a esperava lá junto ao altar.
Para Ogar, a emoção daqueles momentos, era de uma intensidade jamais sentida em sua vida, pois, pela primeira vez, teria que declarar com um sim, um sentimento tão profundo de amor por uma pessoa, diante de tantas outras ali presentes. O sim, naquele momento, era como apostar toda a sua vida, em um jogo de par ou impar, onde haveria cinqüenta por cento de chances de ganhar ou de perder, mas, a sua imensa paixão o faria acreditar que ele seria tão somente um ganhador. Yara também acreditava naquilo, que o teria para sempre, e o sim foi dado.
Esta festa de casamento, teria sido por muitos anos, um dos maiores acontecimentos em Monte Belo e, por muito tempo, lembrada e comentada pela população da cidade e redondezas.


As idas e vindas para Ilhéus e para a capital, se tornariam constantes, pela necessidade de administrar os seus negócios, por isso Ogar, depois de alugar por algum tempo o teco-teco de Seu Veloso para transportá-lo, adquirira um Cessna para o seu próprio uso. Assim, contrataria também um piloto para pilotá-lo, pois ainda não possuía a prática suficiente, nem a licença para voar sozinho, apesar de algumas vezes já ter praticado sob a orientação de Aniceto, filho do seu Veloso, durante os curtos vôos entre Monte Belo e Ilhéus.
O novo modelo, bem mais potente e espaçoso, pois poderia levar até quatro passageiros mais o piloto, se tornaria mais que um meio de transporte para ele, mas também um sinal de status, perante os outros fazendeiros da região, que, apesar da riqueza que possuíam, não tinham uma visão da modernização e da facilidade que adquiririam com um transporte mais rápido. Pois pelas estradas ainda precárias, perdia-se muito tempo para o deslocamento ali na região, e por lancha não seria nada melhor, devido ao tempo gasto e ao mau tempo que por vezes enfrentavam pelo mar.
Indicado por Seu Moreira, Ogar contrataria um piloto brevetado, o Altamiro, sobrinho do Seu Fortunato, marido da sua cunhada Potira, que era bastante experiente naquela área e também conhecedor da mecânica da aeronave, que com isso lhe daria mais tranqüilidade, para a manutenção da sua nova máquina voadora.
A aeronave, além da utilização para o seu transporte normal para Salvador e outros locais distantes, com ela Ogar prestaria muitos favores ali em Monte Belo, em casos especiais, quando alguém necessitava ser transportado às pressas para Ilhéus, por motivo de saúde, pois as condições de atendimento ali eram ainda precárias e, o transporte por terra, muito demorado.
Ogar, apesar de não querer se envolver em política diretamente, aos poucos passaria a ter um grande controle sobre a política local, por isso, sua fazenda ou sua luxuosa casa em Monte Belo, era freqüentemente visitada por pretensos ou futuros candidatos a prefeito ou a deputado, onde demoradas reuniões aconteciam, com o objetivo de solicitarem qualquer tipo de ajuda para as suas candidaturas. Ditando as regras do seu próprio jogo, com esses políticos ávidos pelo poder, conseguiria assim dominar com a sua influência, a administração local, sendo ali colocadas na maioria dos cargos, somente as pessoas por ele indicadas.


O dr. Amaro Barbosa, advogado e fazendeiro de cacau em Ilhéus, era um destes que se tornaria visitante habitual e, na época das eleições, Ogar colocava a sua aeronave à disposição dele, e até alugava o teco-teco do Seu Veloso, para trazê-lo de Ilhéus até Monte Belo, e depois levá-lo por aqueles vilarejos esquecidos, transportado por jipes ou picapes, pois os caminhos estreitos e lamacentos, fora esses veículos, normalmente só deixavam passar carroças e carros-de-boi com boas parelhas.
Na época em que se candidatara a governador, o dr. Barbosa conseguiria com a ajuda deste padrinho, transportar e instalar em menos de duas semanas, em Vila Pequi, que fica a uns trinta quilômetros de Monte Belo, um gerador elétrico, que seria acionado por um velho motor a diesel, a fim de fornecer iluminação para o lugar.
Faltava pouco menos de dois meses para as eleições, e o dr. Barbosa desejava escolher uma vila que tivesse uma boa população, que pudesse dar muitos votos para a sua eleição, mas também que fosse um lugar não muito espalhado, a fim de facilitar a instalação dos postes de madeira e a colocação dos fios.
Vila Pequi, local de nascimento de Nezinho Bambá, teria sido o lugar ideal, pois ficava ali próximo, às margens do Jequitinhonha, o que facilitava a chegada das pessoas que viriam de outros vilarejos, em canoas ou outros barcos a motor. Assim, às pressas, construíram nos fundos do terreno da igrejinha de São Lázaro, um pequeno galpão, onde seriam instalados o motor diesel com o gerador elétrico.
A obtenção dos postes e o trabalho de instalação destes, se tornaria a parte mais fácil, pois os próprios moradores, liderados por seu Xico Bambá, foram incumbidos de cortar no mato, a madeira necessária e, fincá-las ao longo da rua principal da vila.
A maioria daquelas pessoas, nunca teria visto luz elétrica, o que deixou aquela gente bastante eufórica, com a notícia da chegada da luz, para iluminá-los à noite, na rua e em suas casas, trazida pelo dr. Barbosa.

Após a colocação dos postes e a construção do galpão para o gerador, o mecânico faria apenas o ensaio de funcionamento, para verificar como estavam as coisas, mas não iria ainda ligar a luz para iluminar a rua, pois isto só poderia ser feito na hora da inauguração, com a presença das autoridades. A partida do motor diesel, foi como se tivesse ocorrido uma explosão de fogos; assim, assustados pelo barulho ensurdecedor da máquina em funcionamento, bandos de socós, garças e outras aves que ali estavam nos alagados, nas proximidades da igreja, se lançaram em estrepitoso bater de asas pelos céus, em fuga, desnorteados, em busca de melhor abrigo para o seu descanso e alimentação.
A molecada, assustada um pouco, mas vibrando com a novidade, corria em direção à igreja, para ver de perto a luz que iria surgir, daquela parafernália barulhenta, ali dentro do galpão.
Após o ensaio do gerador, os habitantes da vila pediriam aos operários que haviam instalado a máquina, para que colocassem também aquelas lâmpadas nas casas para iluminá-las, pois isto havia sido prometido pelo Seu Nezinho, quando ali esteve há algum tempo atrás, pedindo votos para o dr. Barbosa, e eles ainda não haviam feito. Assim, alguém da equipe que ali estava para a instalação, teve que ir às pressas até Monte Belo, para apanhar mais material para a iluminação.

Ainda por toda a manhã do sábado da inauguração, os habitantes da vila continuariam a enfeitar a rua principal, com bandeirolas de papel colorido, presas em cordões de caruá, amarrados aos postes de madeira, que em fila, continuavam pelos fundos da igreja, caminho afora até o rebentão do rio. Ali havia um pequeno atracadouro de madeira, recentemente construído para as canoas e lanchas, que viriam com as autoridades lá de Monte Belo.
A igrejinha de São Lázaro ganharia uma ornamentação especial, onde, um rosário de lâmpadas coloridas seria instalado, seguindo os contornos da fachada, pelas portas, janelas e campanário, o que traria uma visão nunca vista por aquelas pessoas, com a iluminação noturna que viria.
Era a tarde do sábado da inauguração. As lanchas que traziam dr. Barbosa e comitiva já teriam deixado o atracadouro em Monte Belo e, navegavam rio acima, para Vila Pequi, onde Ogar já estaria com Nezinho Bambá, pois teriam vindo de Córrego do Pauferro para ali se encontrarem com o seu candidato.
Muitas canoas trazendo pessoas das vilas mais próximas, estariam também chegando para a inauguração da luz elétrica, pois muitos estavam certos de que tal benefício em futuro bem próximo, iria chegar também aos seus vilarejos e, transformar suas vidas com aquele conforto, só conhecido nas cidades.
Padre Bento, dois dias antes já havia mandado para a vila, o seu auxiliar, o sacristão Uvaldino, a fim de abrir a igrejinha, para fazer uma limpeza em ordem, no interior do templo, especialmente no altar e no nicho de São Lázaro, o padroeiro, onde os marimbondos já haviam feito casa, entre o cajado e a roupa da imagem do santo. Uvaldino chegara a vila Pequi na sexta-feira bem cedo, a fim de fazer uma limpeza melhorada, com alguns rapazes dali que se dispuseram a ajudá-lo e, com as duas beatas do lugar, da. Eufrodizia e da. Sicundina, que por indicação do padre Bento, ficavam com as chaves da igrejinha.
Logo que abriram o templo, começaram a esvoaçar ali dentro, as andorinhas, que tinham seus ninhos em algum local do velho forro de madeira, que ameaçava a despencar a qualquer momento; como já ocorrera antes e que por sorte não fez nenhuma vítima, pois não havia ninguém ali naquela hora.
Os pássaros, voavam desesperados, tentando fugir para o exterior, com receio do invasor humano, que ali chegara para perturbar o seu sossego. Enquanto os rapazes começavam a varrer o piso e a fazer a limpeza dos bancos de madeira, que estavam sujos pelo cocô das aves e lagartixas, as duas beatas se dirigiam ao altar de são Lázaro, com duas cabaças com água e cuias de coité e, alguns panos de saco, de tecido de algodão, para umedecerem e limpar a imagem do santo. Devido à má iluminação, da. Eufrodizia, que já não enxergava muito bem devido à sua miopia, embebeu na água com sabão, um pedaço de tecido e, após espremê-lo um pouco, sem perda de tempo começou a passar o pano úmido por cima do cajado da imagem, a fim de retirar aquilo que lhe parecia uma casca escura, e que se grudara nas vestes do santo. Nisso, lá dentro de sua protegida casa, os marimbondos se alvoroçaram, e assim, em poucos instantes, a superfície da casa ficaria coberta pelos agressivos insetos. Logo que notara os marimbondos que começavam a esvoaçar em sua volta, a mulher por pouco não se despencou do banquinho em que trepara, para alcançar melhor a imagem do santo. Aos gritos _ me acudam, os bichos tão me mordendo !, _ as duas beatas saíram desembaladas pelo corredor central em direção à porta, ambas tentando desesperadamente com as mãos, arrancarem os marimbondos que lhes ferroaram, e ainda ficaram presos em seus cabelos. Os dois rapazes, que ajudavam na limpeza dos bancos, também largaram as vassouras e tudo que tinham, e fugiram apavorados pela porta afora, sendo também perseguidos até uma boa distancia pelos insetos raivosos. Uvaldino, que no momento já estava próximo à saída do templo, não esperou tempo ruim, e também se escafedeu pela rua afora, com medo dos marimbondos.

Algum tempo depois chegaria Seu Xico Bambá, irmão do seu Nezinho e, com a sua experiência em apanhar enxú verdadeiro no mato, para tirar mel, trouxe numa tampa de lata, um monte de bosta de boi seca, onde ateou fogo, esperando um pouco, até fazer bastante fumaça. E assim, foi se adentrando pela igreja, incensando tudo com aquela fumaça, até chegar à imagem de São Lázaro, onde estava a casa de marimbondo, coberta pelos insetos alvoroçados. Pouco tempo depois, a casa seria arrancada quase inteira e sem os insetos, pois todos já haviam fugido dali, ficando voando a esmo, embebedados pelo fumo. Na imagem de São Lázaro ficara apenas algumas manchas do resíduo da casa dos bichos e, o odor da fumaça da bosta de boi queimada, que havia incensado todo o interior da igreja.
Apesar do estranho incidente, a igrejinha de São Lázaro ficaria arrumada para o dia da visita das autoridades, faltando apenas a colocação da fiação com lâmpadas na parte interna, o que seria feito ainda no sábado pela manhã.

Pouco depois do meio dia, estaria chegando a comitiva do dr. Barbosa ao atracadouro de Vila Pequi, onde seria recebido por Ogar, Nezinho e Xico Bambá com toda a família e, quase todo o povo dali, e muitos outros convidados de fora. Ao longo do caminho, até a entrada da pracinha da vila, alguns homens devidamente municiados, iniciariam o foguetório, comandado por Seu Tônho Fogueteiro, para dar as boas vindas ao candidato visitante, que, deslumbrado com a alegre recepção no pequeno vilarejo, era somente sorrisos.
Ogar e dr. Barbosa à frente do grupo, animadamente discutiam sobre o número de votos que poderiam obter naquela região, pois ali estariam também vários convidados, representantes das famílias de outras vilas, para os quais a condução e a comida já haviam sido providenciadas. Foguetes não paravam de estourar nos céus, ou às vezes, desviados na sua subida vertical, terminavam cravados nas altas copas dos coqueiros ao redor, explodindo lá por entre palhas e cachos, fazendo alguns cocos se desprenderem. Os meninos, numa contínua euforia, como que hipnotizados pelo estouro lá no alto, corriam em várias direções, por dentro das plantações em volta, atentos para onde iriam cair as flechas dos foguetes, afim de apanhá-las, o que para eles valiam como um verdadeiro troféu.
A comitiva por fim chegaria à pracinha, o coração da vila, onde um pequeno palanque de madeira, havia sido construído próximo ao galpão do gerador elétrico. Antes de iniciar o seu breve discurso, Ogar pede a Nezinho para parar um pouco o foguetório, quando então agradece a presença de todos ali na praça e, em seguida apresenta o dr. Barbosa, para fazer o seu discurso de inauguração. O dr. Barbosa não faz por menos, no início do discurso rasgados elogios são dedicados a Ogar, onde aquele o chama de homem probo e filantropo. As pessoas ali em volta, atentas ao discurso do político, ouvem aquilo tudo e, apesar de não terem a mínima idéia do que aquelas palavras significavam, acreditam que são coisas boas do Seu Ogar, e assim, freneticamente aplaudem o dr. Barbosa, que todo sorridente prontamente os agradece.


O discurso continua, levando agora o assunto para o que realmente lhe interessa, que era o seu pedido de votos, para as próximas eleições, onde ele estaria se candidatando ao governo da Bahia.
_ Isto que estou lhes trazendo hoje, _continua dr. Barbosa _, é apenas uma pequena amostra do que poderei fazer pelo povo de vila Pequi e, por toda essa região, através do voto de vocês.
Após muitas palmas e vivas ao dr. Barbosa, puxadas pela família do Seu Xico Bambá, que funcionava ali como cabo eleitoral do candidato, o homem pede para que seja dada a partida no gerador elétrico lá no galpão. A partida é dada, e em seguida, a chave elétrica é acionada por ele, para a ligação da energia com os postes, casas e igreja. Ao acender das lâmpadas, irrompem gritos de ovação e palmas, que agora se somam ao ruído do gerador a diesel, transformando a silenciosa vila Pequi em um local barulhento, cujo barulho era ouvido até no atracadouro.
A partir daquele dia, o silêncio durante a noite, só viria por volta das nove horas, quando o motor seria desligado, voltando a escuridão a envolver o vilarejo. Luz, após aquela hora, somente a dos vaga-lumes e, de alguns fifós que seriam acesos em algumas casas, pois a maioria dos habitantes, nesta hora, já estaria em suas redes repousando, até a chegada da próxima alvorada.


Durante as suas idas a Salvador, a administração da firma e a responsabilidade com os negócios da fazenda, passaram a ficar com Nezinho, ao qual Ogar começaria a dar uma pequena participação nos lucros, e por fim, o transformaria em sócio de uma pequena parte dos negócios. Com isso, a vida de Nezinho mudara bastante, para melhor, desde a chegada do patrão, com a instalação dos armazéns, ali em Córrego do Pauferro, quando ainda possuía ali uma vendinha e morava em uma pequena casa, lá em seu sítio nos arredores da vila, onde vivia com a mulher e um casal de filhos quase adolescentes.
Com o passar dos anos e a convivência no dia a dia junto ao patrão, Nezinho demonstrara ser muito eficiente na administração dos empregados da firma, e o fazia com bastante disciplina e com um certo rigor em muitos casos, pois raramente aceitava desculpas para serviço malfeito. Assim, na ausência do dono, mesmo antes deste torná-lo sócio, a administração do escritório e dos armazéns de estoque de cereais e do cacau, ficavam por sua conta, inclusive a fazenda do Volta, que Ogar tinha em pequena parceria com o sogro.

As viagens até a capital e a sua permanência por lá, variava com a necessidade.
Certa vez, ao final de quatro dias que por lá ficara, ao regressar, logo que o avião descera no campo e já se aproximava do pequeno hangar onde era guardada a aeronave, Tadeu, um dos seus empregados, que trouxera a picape para transportá-lo para casa, viera correndo ao seu encontro, esperando apenas a parada do hélice, para se aproximar do patrão. Um tanto apreensivo para falar, o homem já denunciava pelo seu semblante, que alguma estranha notícia estaria para dar.
_ Então homem, que é que está havendo para você vir até aqui deste jeito ? _ perguntou Ogar ao seu empregado, com um certo ar de preocupação.
_ Bem Seu Ogar, é que o seu Nezinho tá preso lá na cadeia em Monte Belo, o cabo Nivaldo e dois soldados vieram apanhar ele lá no escritório, ontem na hora do almoço, e a gente não teve como avisar ao senhor pelo rádio, lá na Bahia.
_ Mas o que é que está havendo, o que é que o Nezinho fez para ser levado pelos soldados ? _ pergunta Ogar um tanto intrigado. Tadeu, sem jeito para contar toda a história, disse-lhe que houve um desentendimento sério do Nezinho com o filho mais velho de Chico Sabino, o Zeca, envolvendo Narinha, a filha do Nezinho, e que por pouco, este não acabara com a vida do rapaz lá na beira do rio.

_ Toca com a picape e vamos lá pra cidade, direto pra delegacia falar com o delegado Pauferro, e ver como está o Nezinho _ ordenou o patrão a Tadeu e, logo rumaram para Monte Belo.
Em pouco tempo chegaria a picape à porta da delegacia, onde em um banco de madeira, do lado de fora, na calçada, estavam sentados os dois soldados, prosando e dando boas gaitadas, certamente sobre o assunto do dia, que tinha o Nezinho como o centro. Um deles, ao avistar Ogar lá no veículo, mais que depressa se levantaria e atravessaria a rua em direção à bodega do Seu Cipriano, onde o velho delegado prosava com o comerciante, enquanto tomava a sua catuaba com Jacaré. Ao ser avisado pelo soldado, o delegado se apressa em voltar para receber Ogar, ainda saindo do veículo, ao qual cumprimenta com um certo respeito, tentando já minimizar o ocorrido com o Nezinho.

_ É Seu Ogar _ se apressa o delegado em explicar ao homem, antes mesmo deste fazer-lhe alguma pergunta, _ o senhor não precisa se preocupar com nada, o Nezinho tá aí, pois eu não podia deixar ele solto, logo depois deste acontecido, correndo o risco de ser morto por aquela corja de Chico Sabino _ continua o delegado, enquanto convida o homem para o interior da delegacia.
_ Bem delegado, antes de tudo eu quero ver o Nezinho, pra ele me contar esta estória toda, e ver o que teremos que fazer em seguida, _ adianta o homem para a autoridade, enquanto se dirigem até a cela, cuja porta estava semi-aberta; pois tranca talvez nunca existira, ou se existiu já a teriam quebrado. Na verdade, preso naquela cadeia, sempre fora uma raridade, pois a maioria dos casos de briga na cidade, era de bebedeira e, que sempre terminava em nada, quando os desafiantes se tornavam sóbrios depois, e já haviam até se esquecido dos motivos da briga.
Nezinho, ali cabisbaixo, sentado em um banquinho, lá ao fundo da cela, apoiava os cotovelos em uma pequena mesa à sua frente, enquanto as mãos lhe sustentavam a cabeça, como a meditar sobre a quase tragédia em que se metera. Ogar, adentra-se ao pequeno cômodo, e põe a mão sobre o ombro do amigo, que ainda não percebera a sua chegada e, pergunta-lhe com o seu estilo bem particular:
_ Então companheiro, estão lhe tratando bem por aqui, _ o que Nezinho, após dirigir-lhe o olhar, responde apenas com o balançar da cabeça, dando a entender que sim. Ogar continua tentando ver se faz o amigo falar, mas sem querer pressioná-lo para isso; e assim em seguida, senta-se ali ao seu lado no mesmo banquinho, enquanto o delegado já lhe trazia uma cadeira lá de fora do corredor, a fim de oferecer-lhe. Mais acomodado, Ogar pergunta a Nezinho como vai a família, o que faz com que este quebre o silêncio e passe a falar-lhe sobre o acontecido no trapiche do Ingá, lá da beira do rio.
_ Há tempos, a minha menina tava de namorico com o filho do Chico Sabino, e eu, que nunca fui com as graças desse sujeito, procurei abrir os olhos da menina e da mãe dela, que é a mais responsável, e devia tá tomando conta da filha. Mas parece que de nada adiantou, _ continuou o homem com a história, com a voz um tanto embargada pela emoção, - e assim há umas duas semanas, passei a notar a mãe com a filha numas conversinhas, lá pelos fundos da casa e, toda a vez que eu chegava mais perto, ficavam um tanto espantadas e paravam o assunto que levavam. Isso nunca aconteceu antes lá em casa, pois eu e minha mulher, sempre combinamos na educação dos meninos. Assim, quando foi trás anteontem, a mãe viu que não dava pra continuar desse jeito, e logo que eu voltei da firma pra casa, lá pela boca da noite, quando o senhor estava lá na capital, ela me chamou para o alpendre e me contou que a nossa menina tava grávida daquele safado.

_ Seu Ogar, _ continuou o homem, _ me creia, se eu não tivesse bom do coração, tinha ali naquela hora mesmo batido a caçuleta, pois a minha reação foi de arrasar, a vontade foi de ir buscá-lo onde estivesse e sangrar o cabra na hora.
Ogar, continuou a ouvir o amigo, que começara a falar sem interrupção, até notar que a emoção já lhe dificultava o relato, quando então lhe pediria para se tranqüilizar, lembrando-lhe que ali estava para ajudá-lo.
Passados alguns momentos, Nezinho continuaria a sua estória.
_Bem, a patroa conseguiu me acalmar um pouco, mas aquela noite foi uma noite do cão, com pesadelos durante todo o tempo. Ela então me convenceu, que eu devia procurar o sujeito e ter uma conversa de homem com ele, a fim de propor o casamento com a nossa menina o mais cedo possível, pois a gente não queria ter neto sem pai. Assim, no dia seguinte fui com o meu garoto Julinho, lá para o trapiche do Ingá, onde o sujeito desembarcava todo o dia para ir até a cidade, e ali ficamos esperando, até que uma bela hora o barco dele chegou. Esperei de longe o barco atracar e, logo que ele saiu do trapiche, convidei-o para uma conversa ali mesmo. Logo que me dirigi ao sujeito, ele mudou de semblante, parecendo que tinha visto o capeta, mas mesmo assim, tentei lhe dizer que vinha em paz e queria que ele ouvisse a minha proposta. Assim, quando lhe falei da gravidez da menina, ele procurou debochar de mim, ali na presença do meu menino, dizendo que eu tava de miolo mole e que eu fosse procurar outro para ser o pai da criança. Diante do deboche, o sangue me subiu a cabeça Seu Ogar, e eu não vi mais nada, só sei que peguei o primeiro pedaço de estaca que vi ali perto e taquei nos peitos do safado com tanta força, que o derrubei de primeira. Aí parti para cima dele, já caído de barriga pra cima e, arranquei meu canivete para lhe cortar os bagos ali mesmo. Dei o primeiro corte que rasgou a calça com braguilha e tudo e, na segunda canivetada quase consegui lhe arrancar os bagos. Zé Ambrozio e Chico Sovina que vinham chegando, conseguiram a muito custo me segurarem, pois o meu desejo, e por isso é que estou com mais raiva, era de arrancar os bagos do safado e enfiar aquilo pela goela abaixo, como a gente faz com frango quando se capa. O peste, ficou lá se estribuchando ensangüentado. O resto desta merda toda o senhor já sabe. Mas uma coisa eu lhe digo, com filha de cabra macho ele não vai mexer nunca mais !.

Ogar, após ouvir atentamente o desabafo do homem, não lhe incriminou nem lhe elogiou pela façanha, mas em seguida procurou tranqüilizá-lo, dizendo-lhe que iria levá-lo para casa imediatamente.
Em seguida chamou o delegado e avisou-lhe da decisão, o qual mesmo sem contestar, perguntou a Ogar:
_ O senhor não acha melhor, por questão de segurança deixar o Seu Nezinho aqui mais um ou dois dias sob a nossa proteção, até o senhor ver um melhor lugar pra ele ficar, e esfriar um pouco esse caso .... _ Olha delegado, - interrompeu-lhe Ogar - agradeço a sua preocupação com o meu amigo, mas como é que o senhor vai poder fazer alguma coisa, se aparecer uns cabras dispostos a invadirem isto aqui, contra uma guarnição de um cabo e dois soldados portando umas armas velhas que nem atiram mais, que só servem de enfeite. Não! _ continuou Ogar, _ mas agradeço o seu apoio mais uma vez, e também de ter trazido ele ontem pra cá, mas ele vai comigo agora pra Córrego, onde eu tenho bons homens bem armados e com muita disposição para protegê-lo.

Era final de tarde e, após a breve conversa com o delegado, os dois homens desceram os degraus da escada, da calçada da cadeia para a rua e entraram na picape. Tadeu, o motorista, já os esperava com o motor ligado, partindo em seguida os três pelo caminho afora, em direção ao vilarejo, aonde chegariam ainda com um restinho do clarão do dia.


Altamiro, que já era conhecido da família do Seu Moreira, desde a época do casamento do seu tio Fortunato com Potira, não demorou em se adaptar à convivência com esta, ali na fazenda, e ao qual, toda liberdade era dada, não apenas por ser o piloto do patrão, mas devido àqueles laços que já o ligavam a essas pessoas, através do seu tio. Desta forma, na ausência do patrão, que por vezes viajava de Salvador para São Paulo, em vôos comerciais e, por lá ficava por algum tempo resolvendo problemas de negócios, o piloto passaria a utilizar o Cessna, com a autorização da patroa, para serviços pessoais ali na área, muitos dos quais certamente não seriam permitidos pelo patrão, pois envolviam pessoas que não faziam parte da relação de amizades deste.


Com o passar do tempo, Yara que voava habitualmente acompanhada do marido, especialmente para Ilhéus, onde habitualmente visitava a irmã Potira, passaria a alimentar a idéia de pilotar o avião, mas que era de uma certa forma desestimulada por Ogar, pois este achava um tanto perigoso colocar uma aeronave em suas mãos. Para Yara, a curiosidade em experimentar o comando da aeronave, cresceria dia a dia, quando então, numa destas estadas prolongadas do marido, lá pelo sul, ela proporia ao piloto, que ele a ensinasse a pilotar o Cessna. Altamiro no início, ficara um tanto surpreso e ao mesmo tempo receoso, pois sabia que o patrão não aprovaria isto, caso ali estivesse, mas como era o pedido da patroa, ele não encontraria argumento para negar-lhe as aulas de vôo, que ela insistia em receber. Não demoraria muito, e ele então começaria a decolar em companhia da patroa, para Ilhéus ou em curtos sobrevôos pela barra do rio até o mar, acompanhando as praias de Monte Belo em direção a Ilhéus. Ao seu lado, Altamiro mais que atento, passava as instruções e as recomendações à patroa em cada manobra que esta fazia e, na qual notava, a emoção e a felicidade que ela irradiava, pela expressão do seu belo rosto, por aquela descoberta tão desejada e alcançada naqueles momentos. O ronco do motor e os solavancos produzidos pelas rajadas de vento na pequena aeronave, não a assustavam nem um pouco, diante da sensação de estar aprendendo a voar e a sentir aquilo que tantos homens e mulheres desejariam, mas que não tinham condições de fazê-lo, mas que ela ali podia desfrutar, diante de sua condição econômica privilegiada.
Para Yara, realizações deste nível e outras, faziam parte daquilo tudo que ela pensara, ao escolher Ogar como seu marido, pois não era apenas um homem rico, mas de certa forma tolerante, e mais que tudo, ela sabia que ele a amava com extrema paixão, imaginando-a uma figura de mulher perfeita e, absolutamente fiel aos sentimentos que aparentava possuir. Ela no entanto, no íntimo do seu coração, sentia-se desvinculada dessas coisas, mas procurava aparentar, como se assim não o fosse.
O maior contato que passaria a ter com Altamiro, e a maior aproximação física durante os seus treinamentos de vôo, descompromissada que se sentia nos seus sentimentos para com o marido, ela, pelo seu caráter, não relutaria em acenar para o piloto, com uma paixão ou um amor que jamais iria lhe oferecer. Levada talvez pela emoção da descoberta, da aprendizagem, do domínio da máquina voadora, oferecia aquilo como uma forma banal e injusta de retribuição ao embevecido empregado, fato que nem ela mesma conseguiria entender.

Ogar, apesar de não ter aprovado em princípio a opção da mulher em aprender a pilotar, aceitaria de bom grado, sem maiores problemas, que ela continuasse com os seus treinamentos com Altamiro, sem desconfiar no início, que algo mais poderia estar acontecendo naquele relacionamento.

Algum tempo se passaria no entanto, até que Ogar começara a sentir, que o seu relacionamento com a mulher, não andava muito bem. Isto logo de início o assustara de uma certa forma, pois aparentemente, motivos ele não encontraria para aquela situação.
Nezinho, um dos amigos mais próximos e da maior confiança de Ogar, já teria a algum tempo, observado algo na convivência entre a patroa e o piloto, durante as ausências do patrão, e em decorrência disto, começaria a não se relacionar muito bem com Altamiro, o que viria a ser notado por Ogar quando aqueles dois se encontravam em sua presença.

Certo dia, no entanto, Yara desconfiara que estava grávida, o que lhe causaria de imediato um certo desconforto e até preocupação. Assim, imediatamente foi ao encontro da irmã Potira, sua única amiga e confidente, a fim de relatar-lhe o fato e aconselhar-se com ela. Potira, logo após ouvir da irmã esta informação, tenta lhe dar os parabéns por esse acontecimento, mas logo em seguida perde a graça em faze-lo, diante da expressão de angústia e preocupação da irmã, apesar de não entender naquele instante os motivos para isso.
Yara, na verdade, não desejava ter aquela criança, e assim recorrera à irmã para que ela pudesse lhe ajudar, dando-lhe uma solução mais rápida para provocar o aborto, uma vez que esta já teria uma certa experiência nisso, pois já o fizera algumas vezes, a fim de evitar filhos com o velho Fortunato. Assim, dois dias depois ocorreria o fato, o que para o marido pareceria que algo errado estaria ocorrendo com a saúde da esposa.
Assim, aconselhada por sua irmã Potira, a pedido do marido, que acreditava que poderia ser realmente um problema de saúde da mulher, Yara iria até Ilhéus, em companhia da irmã, se consultar com um médico especialista da clínica Santa Matilde. O dr. Hilário, médico com bastante experiência e um dos donos da clínica, submeteria a mulher a todos os exames necessários, dentro dos recursos que ali existiam, a fim de descobrir o que estaria havendo, e passar-lhe um tratamento adequado para o caso.
Apesar de todos os exames realizados não apontarem para qualquer deficiência hormonal na sua paciente, dr. Hilário não se deu por satisfeito, e assim passaria, obviamente sem o conhecimento da mulher, um placebo para a sua paciente, como medicação a ser seguida rigorosamente durante um certo tempo, pois este acreditava que nada havia de errado com a saúde dela, para ter ocorrido aquele aborto e, dentro de algum tempo certamente, iria ocorrer uma gravidez, caso o casal assim o desejasse.
O tempo, se passava, e o relacionamento frio e por vezes tumultuado entre o casal, iria, conduzido pelo destino, tomando o lugar de uma paixão que existira no passado, e que eles mesmos não conseguiam entender o que estava acontecendo.
Com o seu tempo cada vez mais ocupado pelos negócios, o homem se tornaria mais obcecado pelo acúmulo da fortuna e do poder político, que lhe chegaria através dos seus apadrinhados.
Assim, se por um lado, a sua vida afetiva estaria aos poucos se desmoronando, como por uma estranha compensação, os seus ganhos financeiro e político estariam aumentando, especialmente nessa época, com a chegada ao poder, como governador do estado, o dr. Amaro Barbosa. Este, seu velho amigo, lhe devia muitos favores, desde a época de sua candidatura a deputado estadual, e mais recentemente durante a campanha como candidato a governador, o qual se tornaria o mais votado, ali na região sul do estado, com a sua ajuda financeira.


Nota do autor:
Final do Capítulo 5

Aos leitores interessados em adquirir o romance completo(10 capítulos) poderão entrar em contato com o autor: e-mail - psouza38@uol.com.br


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