Não sei ao certo o que me atraía, se era o corpinho negro completamente liso ou o fato de viver por aí, saltitando sem dar satisfação a ninguém, mas o certo é que em meu íntimo existia tal admiração.
Certa noite ao chegar em casa com o humor um pouco alterado pelo cansaço, liguei a televisão e enquanto assistia a um programa banal que o horário oferecia, tomei alguns goles de vinho para relaxar, a noite era clara e fria e um bom vinho é sempre boa companhia nestas ocasiões, perdi a noção de quanto tempo se passou bem como da quantidade de vinho tomado, no entanto, sei que exagerei na dose, meus olhos e minhas pernas podem confirmar tal afirmação.
Lá pelas tantas, como diriam os antigos, resolvi que já era hora de dormir, levantei um pouco cambaleante, tomei um copo de suco, fui ao banheiro e a seguir encaminhei-me para o quarto, ao acender a luz vislumbrei-a confortavelmente acomodada entre os cobertores, da mesma forma que com certeza já estivera em outras camas; não sei ao certo o que me aconteceu, mas naquele momento fui frio como um espião russo e perspicaz como uma águia americana, tomado por um instinto assassino, aproximei-me pé ante pé e antes que ela notasse era presa fácil em minhas mãos. É fato, matei-a sem dó ou piedade...