Arrisco a afirmar que os supermercados estão tomando o lugar dos aeroportos. Não, é certo que não há aviões decolando dos supermercados. Refiro-me aquele estranho hábito da classe média em passear no aeroporto e ficar olhando os aviões, fazendo pose de especialista em aeronáutica e trocando impressões sobre acidentes e tragédias reais e imaginadas. Dizia-se que era programa de paulistas, mas era despeito. Em qualquer aeroporto sempre teve muita gente que ia lá só para ver. Talvez sonhar.
Aconteceu que, finalmente, a classe média conseguiu andar de avião. Viu como era e agora está pagando o crediário. Assim, já não há mais tanto apelo no passeio.
Com isto, penso que o supermercado passou a ocupar este espaço no lazer da classe média. Eles são limpos, têm algumas frescuras que até há muito pouco tempo só o Zafari tinha, e a ida é imprescindível. Resultado: programa de índio melhor, só indo ao zoológico no domingo de tarde, levando todos os filhos dos vizinhos e algum sobrinho mais agitado.
No supermercado percorre-se as prateleiras de acordo com o gosto pessoal. Há quem goste da seção de materiais de limpeza e lá passe um bom tempo avaliando, comparando, até uma decisão final. Tem dias em que fico observando a seção de apetrechos para churrasco. Inútil, os que quero estão caros demais e os outros eu já tenho. Não chega a ser uma questão nova e muito menos um privilégio meu. De qualquer forma, passeio em supermercado não é para comprar, é só um passeio.
Caminhar um pouco, apreciar o colorido das embalagens, correr atrás de alguma promoção relàmpago, um café de graça. Com sorte um destes refrescos dietéticos ou uma prova de pizza. Há quem prove pamonha.
A seção de dietéticos seria uma das mais interessantes. Outro dia quando me aproximei, vi uma mocinha, já com uma geléia na mão, examinando os chocolates. Pega daqui, solta dali, olha, compara. Minha vontade era a de puxar conversa e explicar-lhe que chocolates dietéticos são todos ruins, que têm gosto de sabão em pó. Não todos, é claro. Alguns têm gosto de sabão em barra. Eu, particularmente, prefiro o sabão. Resta então olhar os biscoitos de serragem, sempre tão apetitosos em suas embalagens lembrando a terra. É justo, uma vez que este é o gosto que têm. Mas há que ter cuidado. Muitos deles têm açúcar mascavo ou mel, Ã s vezes ambos, e isto pode ser fatal aos diabéticos. Estes devem contentar-se com os de serragem pura, no máximo com algum aglutinante como goma arábica ou cola branca.
Escrito em 03.08.2000
Publicado na Seção Comentários do Cidade Virtual Brasília em 16.09.2000
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