Enfeito a casa para o Natal. Hábito familiar nascido bem antes da era do consumismo. Aprendi com minha mãe que antes aprendeu com a minha avó a fazer da festa do Natal uma data meio mágica.
Acreditei em Papai-Noel e acho que foi ótimo, aliás, gostaria ainda poder muitas vezes acreditar que o bom velhinho possa trazer ao mundo uma distribuição mais justa de presentes.
Hoje o forte são enfeites modernos, arvores de natal com muitas matizes e toda a criatividade colocada à disposição do consumidor.
Quando criança na vizinhança da minha avó, era perceptível uma competitividade (palavra moderna) em montar o mais belo e criativo presépio. Havia toda uma aura de preparação em torno de montar um presépio, cada qual querendo inovar (palavra moderna) e apresentar o seu melhor. Assim a criançada participava de toda a performance. Era uma de tingir serragem para fazer estradinha, plantar trigo numa caixinha para parecer campo, ir no mato catar musgo, achar pedras que pudessem imitar montanhas, montar laguinhos naturais ou de espelho e finalmente transformar tudo isso na efêmera obra prima de cada família, que recebia um lugar nobre na sala. Lamento não ter registros fotográficos, a não ser os da memória, porque eram verdadeiras obras de arte.
Logo após o Natal nossa expectativa era a peregrinação pela vizinhança para visitar os presépios. Ficávamos todos excitados e curiosos para o programa de visitação. "Já viram o presépio da Frau Klein? E da vizinha Girardi e da Frau Felten? "
Também recebíamos visitas na casa da Frau Arenhart que, apesar do seu sempre presente "ar aristocrático" fazia estas coisas com um visível e mal disfarçado prazer, assim como assava fornadas de bolachas de natal e a noite `pintava" uma a uma na grande mesa da despensa.
Nós crianças, acreditando no Papai Noel, achávamos que ele é quem vinha na calada da noite fazer esta maravilhosa obra de dar cor à s bolachas. Quando finalmente nos era dado entrar no mundo dos adultos, podíamos dormir mais tarde e ajudar a avó na pintura, e é claro, fazer o melhor da festa: "lamber" os pratos de merengue e açúcar colorido.
Confesso que no meio da minha agitação de três turnos de trabalho tentei passar um pouco disso para os meus filhos quando eram crianças. Nunca permiti que na noite de natal não acontecesse uma ceia por mais singela que fosse. Enfeitei árvores de natal e fiz pequenos presépios. "Contratei" papai Noel para as noites de natal sempre que foi possível.
Foi pouco do muito que carregava comigo.
Tenho plena consciência que o mundo gira hoje em outra velocidade. Que transformamos pequenos gestos em atitudes "piegas" e passamos a entendê-los como desnecessários.Todas as tecnologias a nossa disposição vieram facilitar muito a nossa vida. Afirma-se inclusive que o Natal é uma grande festa do consumismo. Com certeza o ser humano construiu isso. Mesmo assim sou teimosa e não deixo este sentimento invadir minha alma.
Enfeito a casa para resgatar a criança dos meus Natais e quero reunir à mesa todos os meus nobres sentimentos e servir de sobremesa na ceia de natal a minha crença permanente num mundo melhor.