Hoje é véspera de Ano Novo. Noutros tempos, esse dia tinha um quê todo especial. Via-se claramente nas pessoas uma disposição e um ar de como que uma esperança, ou algo muito semelhante, mas indecifrável.
Vinha hoje para casa, retornando do trabalho, e pensava na forma como esse dia tem mudado, nos últimos anos. Aquela alegria espontànea, que outrora aflorava nas pessoas, desapareceu, como por encanto. E fiquei pensando nos motivos que levaram a essa mudança repentina. Há que se levar em conta que o aumento absurdo da violência urbana foi um deles, certamente. Estamos numa época em que as pessoas que vivem nas grandes cidades evitam, instintivamente, conversar com estranhos, para ficar num só exemplo.
Mas não é só isso. Antigamente o Ano Novo representava, para a maioria, uma esperança de novos horizontes, algo inexplicável e ilusório, uma vez que, afinal de contas, vivemos sempre um dia após o outro, e essa coisa mágica do Ano Novo, na verdade, nunca existiu, a não ser nos sonhos do povo,
Cheguei, enfim, Ã inevitável, óbvia e constrangedora conclusão: esse elemento que está em extinção, para usar uma expressão da moda, é, nada mais, nada menos que a esperança. A grande maioria das pessoas, nos dias de hoje, perdeu totalmente a esperança, diante de uma dura realidade que, pensando bem, não poderia levar a outro resultado.
A todos um Feliz Ano Novo, apesar de todos os pesares.
|
