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Contos-->A mulher do tio ou O jogo dos mil erros -- 04/06/2005 - 14:45 (Nelson Maia Schocair) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
(qualquer semelhança é mera identificação)

Como estudiosa de Língua Portuguesa, Literatura e Redação, pós-graduada, com mestrado em Etimologia e doutorado em Línguas Neolatinas, Dorotéia de Macedo Novaes não admitia erros gramaticais grosseiros, não advindos de idiossincrasias banais, que impedissem o contato mais estreito do leigo com sua língua-mater. Embora fosse Professora de Etimologia, compreendia os deslizes em palavras com g ou j, já que apenas Doutores dominam esta estapafúrdia confusão fonética que ocorre em palavras como berinjela ou beringela. Mas “brinjela” é demais até para lingüistas convictos.
O tio Genuíno, o tio-pai, aquele de que ninguém se esquece, mesmo quando o destino se encarrega de afastá-lo de nosso convívio, fora o mentor em sua busca inaudita por sabedoria e justiça que dignificasse o nome da Instituição Educação, elevando-a a patamares primeiro-mundistas, jamais norte-americanizados, antes, europeizados, berço miscigenado da civilização tupiniquim e que, aditados ao idioma pátrio, em boa parte, contribuiu para o sucesso de uma sociedade lingüística aceitável, conquanto exclusiva.
Fora dez anos casado com Aurélia Michellina de Novaes, matrona impassível, intemerata e admirável, igualmente culta e estudiosa. Os bons se vão, ficam-se os...
- Tia Zulmira, não é “bacaiau”, é bacalhau.
- Ô “Genoíno”, você tem que passar sabão “na boca dela”. “Ela tinha” seis anos e já me “peturbava”, agora aos doze...
Não há melhor apresentação dessa senhora pedante, alcoviteira e mandona, que nesse tempo usufruía a companhia jesuítica de Genuíno Gustavo Augusto de Novaes, príncipe no estar, no portar e no ser. Um homem acima de suspeitas, verdadeiro até no nome, mas que se já julgava velho para viver só após a viuvez. Perdera a esposa há oito anos e, para cuidar de si e de três filhos pimpolhos ainda, decidiu casar-se com Zulmira, a ex-secretária de sua prima Lourdinha.
Podem pensar os leitores que Zulmira fosse ignorante, e era, se falamos de comportamento e atitudes, quanto à formação, entrementes possuía currículo escolar condizente com a profissão e, segundo as más línguas, um currículo ainda mais completo no tocante ao prazer que proporcionava aos homens que freqüentaram seu passado. Por esse atributo, imagina-se que se tenha deixado seduzir o grande Genuíno.
Pode parecer implicância, talvez até seja mesmo, mas um diálogo precioso precisa ser transcrito para que os caros e pacientes leitores possam dar-lhe razão:
- Filha, se arruma pra gente ir no “FreeWe”...
- No Freeway, tia?
- Tá me “arremendando”? Pára com “brá-brá-brá” e “vambora”, coisa ruim.
Continuarei narrando: Ela convidou a sobrinha Dorotéia, para irem “no FreeWe” comprar uma calça “jeães”, depois almoçariam no “Macdono”. Ao voltarem para casa, Zulmira cortou o pé ao pisar um caco de “vrido” e sujou a roupa branca com o próprio “sengue”. Antes de ir ao hospital, onde se sentaria numa “talbua” para “pontuar” o pé e “levar uma antitotônica”, ainda lavou a mancha de “sengue” no “tenque” mesmo, pois a máquina de lavar demorava muito. No caminho, ainda avistou um “elecóptero” que sobrevoava as “prochimidades”.
A desaforada, ao ser corrigida por sua eminente sobrinha quanto ao seu pobre, irritante e preguiçoso linguajar, ainda produziu a derradeira pérola:
- Quem gosta de língua “curta” é “pilurito”!
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