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Contos-->O carancho -- 04/06/2005 - 01:02 (Clementino Ferreira Brites Filho) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
01

O carancho


A Fazenda Mosquiteiro surgiu da concentração de imigrantes oriundos das várias regiões do país. Localizada no distrito de Cabeceira do Apa, Mato Grosso do Sul, a fazenda ocupava uma extensa área de terras, sendo uma das mais prósperas.
Dona Ermenegilda, em regime matriarcal e ajudada por seus dois filhos, era a administradora. Gente trabalhadora e alegre que desbravara aquele erm transformando-o numa seara pacata.
A velha viúva gostava de sentar-se no varandão superior da casa. Dizia que lá de cima enxergava o mundo e tudo o que nele se passava.
Selidônio, o mais moço, embora de casamento marcado, era muito namorador e já tivera um caso com uma de suas primas.
Pio Dias, irmão mais velho, conselheiro do mais novo, o apoiava em tudo.
O 24 de outubro daquele ano, seria o dia do batizado da filha de Selidônio com uma das moças da fazenda vizinha.
Os vizinhos e parentes que moravam mais distante, vieram com três dias de antecedência.
Os músicos chegaram primeiro. Exímios tocadores da melhor música, com seus violões, sanfonas, bandonion e harpa-paraguaia.
Os carroções acomodavam-se no enorme gramado da fazenda. A festa realmente prometia.
O padre, só viria no domingo.
Montado em seu cavalo, chegou também Arsênio, primo dos da casa, de apelido “maleita”. Trabalhador, mas metido a valentão e encrenqueiro. Suas diferenças sempre acabavam em briga feia.
Ficara sabendo que sua irmã, tinha-se envolvido com Selidônio.
Ao anoitecer daquela sexta-feira, resolveram inicar o baile.
A cachaça e o vinho passavam de copo em copo.
Os primeiros acordes...E pronto!!

A polca e a guarânia alegravam o enorme salão do casario. Sob a luz das lamparinas e lampiões, os pares embalaram-se no rasqueado e na mazurca.
O assoalho de madeira rangia sob o frenesi do xote marcado.
A festa estava animadíssima, quando alguém gritou:
- Vamos dançar o chupim!!
O chupim é uma dança, com uma forte dose de desafio e provocação, muito corriqueira naquelas paragens.
O objetivo: “tomar” a dama do outro. Um cavalheiro disputava a dama já acompanhada. É uma brincadeira alegre, mas pode se transformar em provocação séria.
O carancho, isto é, o provocador, dança ao lado dos pares, sozinho. Num descuido do outro... Ele sai dançando com seu “troféu”, a dama roubada, como o gavião que arrebata sua presa. Cabe ao outro, então, retomar a dama de volta.
Mais música! Mais dança! Mais cachaça...!
No céu, a lua desapareceu nas nuvens escuras.
O bater de palmas ajudava no ritmo da dança. Abriu-se um circulo. A alegria e o riso, também marcavam o compasso.
Três cavalheiros, acompanhados pela suas damas, entraram no círculo. Um deles era Arsênio, “o maleita”.
As damas cumprimentaram os cavalheiros, que pelas mãos as conduziram pelo salão.
Também entrou no circulo Selidônio, o carancho, que passou a provocar os pares, tentando roubar-lhes a dama. Arsênio, “o maleita”, não gostou e repelia Selidônio com violência sempre que ele se aproximava. Até que a raiva o dominou por completo e movido pela cachaça e pela lembrança do caso que sua irmã tivera com aquele...
- ...Safado! - murmurou. Puxou uma faca e feriu o “carancho” no pescoço.
Selidônio perdendo o ritmo da dança e sangrando aproximou-se de Pio Dias, seu irmão e disse:
- O “maleita”, esfaqueou-me!
As mulheres vendo o sangue gritaram horrorizadas e fugiram para os quartos.
Imediatamente a música cessou. Alguém atirou nas lamparinas e nos lampiões.
Na escuridão do recinto, todos sacaram o revólver. Outros procuraram abrigos.

Arsênio “o maleita”, atirando a esmo, escafedeu-se pelos quartos, pulando a janela.
Muitos tiros foram trocados dentro e fora da casa.
Pio Dias, saiu pela porta da frente atrás de Arsênio “o maleita”, arma em punho. Notou um vulto que vinha em sua direção e atirou. Duas vezes.
Selidônio recuperando-se, também pulou a janela atirando. Uma bala o atingiu. No reflexo apertou o gatilho. Outra bala o acertou de novo e ele caiu.
Por um breve momento, tudo fora dominado pelo inferno. Depois como num passe de mágica, acabou...Só restou fumaça e cheiro de pólvora.
No céu a lua voltou a surgir, mostrando três corpos que jaziam no gramado. Eram os dois irmãos e o primo.
Um dos corpos ainda se mexia.
- Quem me baleou, foi meu irmão. No escuro eu também atirei. Nós dois atiramos um no outro. Nos matamos... - conseguiu balbuciar Selidônio.
E assim terminou a festa, em uma tragédia; que repercute na mente daqueles que viveram naquele tempo.
Ninguém sabe, até hoje, quem matou Arsênio “o maleita”.

Fim




Baseado no ABC dos Finados, obra do poeta I.M.B. e, também professor, que presenciou os fatos e rabiscou em versos este acontecimento ocorrido na localidade de Cabeceira do Apa - Mato (ex-Colônia Penzo), no ano de 1942.
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