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Cronicas-->Lápis de cor -- 27/09/2000 - 09:21 (Luís Augusto Marcelino) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Fui pego de surpresa por pensamentos saudosistas, enquanto me esforçava para ler o caderno de política do jornal. Por sinal, os jornais não têm trazido muitas novidades, ultimamente. Mesmo aqueles crimes mais horrendos já não surpreende. O triunfo da corrupção parece ter sido assimilado pelo povo cabisbaixo. Lê-se para não perder o hábito, para garimpar uma ou outra notícia boa, para saber a programação da TV ou para encontrar comentários sobre o assunto da moda, para discutir segunda-feira no escritório. Então, por absoluta falta de interesse em me concentrar na leitura de um artigo, vi meu pensamento ser enviado aos anos 70 e 80, período em que minha personalidade se formou (ou deformou, dependendo do ponto de vista), onde construí minha visão de mundo e estabeleci minhas metas para a idade madura. Sei que não sou o único, mas é engraçado ficar comparando a época atual ao passado mais distante. "Bons tempos aqueles..." - frase comum de ser ouvida entre os mais velhos. Eu mesmo, de vez em quando, a pronuncio meio inconscientemente. Queria ter um medidor que julgasse com precisão se hoje é melhor que ontem. Ou se o futuro, que corre por fora, será melhor que ambos. O fato é que sempre nos parece que será pior. Baixa-estima coletiva de brasileiro? Pode ser. Uma coisa é certa, contudo. A verdade não é fácil de encontrar.

- Mãe, compra outra caixa de lápis de cor?

Ouvi do meu caçula, enquanto lia o jornal. Foi por isso que fui remetido em fração de segundos à infància, ao jogo de futebol, ao agasalho fino, aos brinquedos de madeira feitos pelo vó Celso, à casa imensa da Dona Maria José - que rasgava nossas bolas de borracha, à estréia na quadra de futebol de salão da escola municipal, ao material escolar divido entre os irmãos, sempre que o turno das aulas assim o permitia. Lembro que, se um de nós perdesse sequer uma borracha, tinha de arranjar uns trocados e comprar uma outra antes de a minha mãe descobrir. Pelo menos nisso os irmãos eram unidos - muito mais pelo fato de que o que um fazia de errado, todos pagavam, do que pela solidariedade entre os manos. Meu maior desgosto na infància foi ter sido vizinho de rico. Sabe lá o que é ver seu amiguinho ter bicicleta, piscina de plástico, carrinhos de ferro e - para traumatizar qualquer moleque que tenha sangue correndo pelas veias - um autorama novinho em folha? E o que é pior: ele só gostava de brincar com meus irmãos. A mim só sobrava ouvi-los narrar com maestria e cinismo o "ronco" dos carrinhos deslizando pela pista sinuosa. Hoje, por mais que a situação esteja difícil, essas coisas são mais acessíveis. Além disso há mais asfalto na rua, mais água encanada, brinquedos chineses espalhados pelas bancas de cameló e lápis de cor a dar com o pau - por um preço bastante camarada. No final das contas, dá a impressão de que as coisas realmente melhoraram. No entanto, sempre ouço que as tvs eram mais resistentes, os carros mais económicos, as escolas mais educativas, as pessoas mais amigas, sensíveis. Meu primo Amaral é um que acredita que hoje tudo é melhor.

- Já pensou se aposentar sem Internet?

Já o meu irmão mais novo, Carlinhos, vive dizendo que quem vive de passado é Arqueólogo. "E ainda assim, só se for francês!" - brinca.
Até agora não consegui chegar a uma conclusão. Só sei que, nem o Amaral nem o Carlinhos conhecem o meu sonho de adolescência mais secreto: queria, a esta altura da minha vida, estar escavando ruínas egípcias, peruanas, gregas...
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