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Contos-->A farinha -- 26/05/2005 - 07:53 (Nelson Maia Schocair) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Quem não gosta de viajar, conhecer lugares exóticos, comidas típicas regionais e pessoas com hábitos tão diversos? Pois foi numa dessas viagens que Anderson e Cremilço passariam por momentos curiosos – ou diria, vergonhosos.
- Anderson, que tal uma viagenzinha pra relaxar?
- Pô, irmão, tô meio duro...
- Não faz mal. A gente pega carona e vai aonde der.
- Valeu! Vamos nessa!
Tentariam ir a Santos, no litoral paulista, rever amigos de infância de Anderson, que lá morara até os quinze anos. Mas o acaso os levaria a outro lugar.
Num posto de combustível na estrada:
- O senhor vai pra onde?
- Por que vocês querem saber!?
- Nós estamos fazendo uma pesquisa com os caminhoneiros, para saber como é a vida na estrada. Nosso trabalho é acompanhá-los durante uma viagem e conhecer suas reações em casos de perigo, por exemplo – mentiu Cremilço, mostrando uma carteira de estudante falsificada.
- Estou indo para o Sul... Uruguaiana, para ser mais exato, tchê!
- Será que o senhor nos levaria!? É para o bem da Educação do Brasil e...
- Não sei... Está bem. Subam. Até que companhia não fará mal.
E embarcaram felizes com a aventura, certos de que, nesse caso, a mentira compensaria.
O caminhão era um Ford 1970 azul, bem conservado, carregado de pneus recauchutados. No pára-choque dianteiro lia-se: “Sogra boa tem que ser como cerveja: gelada e em cima da mesa”.
A estrada era muito bonita, pelos lados do Sul. Avistavam-se plantações diversas que davam um colorido especial e surreal, contrastando com o negro do asfalto – quando havia – quente.
O caminhoneiro contava-lhes suas viagens pelo país e os amigos divertiam-se muito, já que algumas eram hilárias.
Ânderson sonhava com a liberdade alcançada por Seu Geraldo, o que nunca lhe fora permitido, engenheiro compulsório, obrigado fora pelo pai castrador e anacrônico...
- Uma barreira! Passem para a carroceria....
- Mas nós vamos ficar imundos...
- Preferem ficar aqui, no meio do nada, tchê?
Nem precisou falar duas vezes.
Os policiais conferiram os documentos e pegaram novamente a estrada. Dois quilômetros a frente, os dois voltaram à cabine.
Depois de 27h de viagem, com um pernoite no caminhão, chegaram à Uruguaiana ao entardecer e, como não tinham onde ficar, o gentil e solícito motorista autorizou-os a dormir numa edícula no quintal de sua casa. Uma sopa quente selou a noite de sono.
Assim que amanheceu, consumiram um farto desjejum, servido por sua esposa, agradeceram a carona e a hospitalidade e saíram para desbravar a cidade fronteiriça da Argentina.
Conheceram o Parque Dom Pedro II, a Coxilha dos Loucos, o Monumento às Mães, as Praças Tamandaré e Barão do Rio Branco. Visitaram a Igreja de Nossa Senhora do Carmo e a Catedral de Santana, Padroeira do Município. Encantaram-se com o Casarão dos Barbaras e o Castelinho – réplica dos castelos medievais europeus – presente de um apaixonado marido à sua esposa. Cruzaram a Ponte da Amizade. Voltaram no tempo ao conhecer o Obelisco onde Dom Pedro II recebeu a espada paraguaia, quando da formação da Tríplice Aliança. Sentiram-se desbravadores recompensados pela aula de cultura.
Na hora do almoço, no lado argentino da fronteira, decidiram comer num restaurante em que fosse servido o melhor churrasco gaúcho. Costela, vitela, picanha, alcatra. Comiam tudo o que lhes ofereciam.
- Mas não tem farofa!? – questionou Bebum.
- Eu não me importo...
- É um absurdo! Churrasco sem farofa não dá! Ah, olha ali...
Preso à parede, havia uma espécie de lavabo, cheio de farinha e Bebum, embora quisesse a famigerada farofa, encheu o prato de farinha mesmo.
- Agora sim!
O restaurante estava cheio e Anderson percebeu que todos os olhavam com certo asco, fazendo cara de nojo.
- Bebum, o pessoal não tira os olhos de nós dois...
- Não liga, vai ver eles não gostam de farrrrrinha...
Anderson passou a observá-los detidamente, enquanto o companheiro, entre doses generosas de pinga, consumia sua “iguaria” predileta.
Num dado instante, um casal se levanta, dirige-se até o tal lavabo e enfia os dedos, esfregando-os uns nos outros. Bebum quase desmaia. Aquela coisa servia para limpar as mãos da gordura da carne e àquela altura, nosso amigo não sabia onde punha as dele. Num rompante, ele se levanta, sentindo-se enojado, corre até o banheiro e grita:
- M... de farinha! Rauuuuuullllllll!
Dobrando de rir, Anderson arremata:
- Cadê o bom humor? Você não sabe curtir a vida!?

(conto do Livro "Memórias de um cubo de gelo" a ser lançado proximamente)
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