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Contos-->Foi assim que tudo começou... -- 19/05/2005 - 21:18 (Maria Augusta Camargo Schimidt) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Tia Maria, com seus 72 anos de vida, nunca se casou. Nunca teve filhos e nem nunca foi avó. Mas sabia contar histórias como ela só.
Tinha o olhar doce, sorriso singelo e amor de mãe – avó.
Era pau pra toda obra e conhecia cada pedaço de chão lá do Sítio Santa Rita. Também pudera, viveu lá por mais de trinta anos...
O Sítio Santa Rita, era quase uma fazenda de café. Digo quase porque faltava um pedacinho de terra pra virar fazenda. E tia Maria percorria todos os dias os lugares preferidos dos passarinhos, logo que o sol acordava, buscando inspiração pra contar suas historias.
Passávamos lá todos os feriados, dias santos e férias. Era uma festa.
Nas tardes friorentas das férias de julho, a melhor hora era a do café porque além de contar histórias, tia Maria sabia fazer os bolinhos de chuva mais gostosos do mundo. Parecia manjar dos anjos.
Bom mesmo era quando vinham Bete e Duca os primos de Limeira. Um dia claro era pouco para tanta brincadeira.
Logo cedinho íamos acompanhar tia Maria em suas andanças. Primeiro íamos ao curral tomar leite tirado na hora da Violeta, uma vaquinha malhada simpática mãe da bezerrinha Julieta.
Depois íamos aos galinheiros recolher os ovos das galinhas cantoras e finalmente à horta colher as verduras do dia. Voltávamos para casa com o sol já bem alto e enquanto tia Maria se ocupava de seus afazeres, fugíamos para o pomar para espiar do alto da mangueira os empregados capinando o cafezal
De vez em quando se ouvia o piar de um passarinho pedindo licença pra entrar no seu ninho.
Era tudo uma beleza. Jamais me esqueço de tanta proeza. Duca, moleque de seus treze anos, dizia ser caçador. Queria caçar as cobras que invadiam o cafezal pondo em risco a vida do trabalhador.
Só que quando uma cobra de verdade aparecia, era a maior gritaria e Duca era o primeiro que fugia.
Quando Tia Maria chamava para almoçar era o maior sacrifício ter que deixar de brincar. Mas nós íamos, porque senão era bronca na certa e daí de castigo pela desobediência nada de historias quando chegava a hora.
Depois do almoço, hora de descansar, mas nós queríamos mesmo era brincar. Então era nessa hora que tia Maria inventava os concursos de desenhos e escritas. Quem desenhasse bonito e escrevesse sem erros ganhava um presente que ela mesma fazia.





Bem na porta da varanda que cercava toda a casa, havia dois abacateiros amparando uma grande rede. Era o lugar preferido de tia Maria nas suas horas de repouso. E entre um cochilo e outro embalada pelo canto do sabiá, nos observava e nos ensinava a brincar.
Na terra limpinha e fina, fazíamos de tudo. Com um galho de árvore na mão quase bordávamos o chão. E ai de quem por ali passasse e estragasse a nossa obra. Afinal, era dali que sairia o maioral. Mas tia Maria, com sua doce sabedoria sempre escolhia os três. Era melhor o empate pra não acabar em combate.
Ali passávamos boa parte da tarde e quando o galo anunciava que o sol já ia embora era a hora sagrada. Sim porque hora de ouvir história é sempre sagrada. Até o sabiá do abacateiro se calava. Era um momento mágico. Parecia que entravamos numa nave e seguíamos rumo ao Mundo Encantado.
A história que eu mais gostava era a do menino Zacarias,negrinho escravo que sonhava em viajar no avião azul.
Essa história sempre me emocionava.
Assim eram os nossos dias. Sempre alegres alternados entre a cidade, escola e os feriados sempre tão esperados.
E o tempo passou...
Passou rápido demais...
E finalmente chegou o dia em que tivemos que enfrentar a dura realidade. Tia Maria não mais estaria entre nós. Foi para o céu, contar suas histórias aos anjos. Foi muito triste mas o descanso merecido. Afinal dedicou anos de sua vida a nos ensinar o bem, o amor e só nos deu felicidade.
Acho até que foi por causa dela que desatei a escrever. Queria passar para todas as crianças o presente que ganhei... a esperança.
Bete, Duca e eu jamais nos separamos. Agora já crescidos, as brincadeiras eram outras. Bailinhos de sábado à noite, cartas semanais contando as novidades, planos para o futuro...
E assim o tempo ia correndo até que Bete se apaixonou. Dizia ela em suas cartas que era um belo rapaz, dançava divinamente e sua beleza era de fazer inveja aos príncipes de nossas histórias.
A cada semana que passava, minha prima mostrava-se mais apaixonada.
Pena que era uma paixão só dela pois o belo rapaz transformou-se em grande amigo, parceiro de dança e nada mais.
Em 1969 me formei. Foi a gloria. Eu já era professora e bem que merecia umas férias. Claro que fui passar o carnaval em Limeira. Lá, os clubes formavam blocos e desfilavam na praça disputando a taça.
Fizemos do nosso carro alegórico nossa história. Retratamos ali nossa infância querida e jamais esquecida.
No sábado à noite , todos a postos desfilamos na avenida deslumbrados com tanta alegria. Era um tempo bom.
Não havia violência, nada de indecência, todos eram muito unidos e só o que contava era a alegria da folia.
Ao passar pelo coreto, observei com surpresa um belo rapaz que me chamou atenção. Sua beleza era tanta que fez bater forte meu coração.
Acabado o desfile fomos para casa e o belo rapaz dormiu em meus sonhos.
No dia seguinte, logo cedo, fui arrancada da cama apressada pois finalmente iria conhecer aquele que durante anos morou no coração de minha prima.
Fiz o que pude. Corri, tropecei, quase caí, e quando cheguei na janela só de costas eu o vi.
Que coisa ! Que destino! Tantos anos e eu nunca consegui ver o menino!
Entre risos e rumores, sentamos à mesa para o café e naquele momento, senti uma saudade infinita de tia Maria, que certamente iria gostar muito de toda aquela folia.
Comecei a contar então do belo rapaz que vi e quando dele me lembrei assustei com o que senti. No meu auge dos vinte anos, senti o amor e sorri.
O dia passou lento, preguiçoso. E eu não via a hora de o sol dormir indicando que já era a hora de sair. Minha intenção não era outra senão ver novamente o belo rapaz. Finalmente chegou a hora e foi grande a minha decepção ao não ver o rapaz ali. Acho que esta foi a minha primeira dor. Seria assim a dor de amor?
No domingo, depois do corso na praça, havia baile no salão. Claro que fomos ao clube, afinal era noite de carnaval!
Quando o baile começou, cada um com seu par foi ao salão dançar e foi justamente aí que olhei a orquestra e para alegrar a minha festa lá estava ele com seus lindos olhos verdes a iluminar meu olhar e eu encantada voltei a sonhar.
A musica parou e só ai percebi que estava ainda no meio do salão. Já não via mais o rapaz e perdida no meio de tanta gente fui ao encontro de meus primos que seguiam para a porta de entrada do salão. E qual não foi minha surpresa quando dei de frente com aquele que já havia em tão pouco tempo se endonado do meu coração. Vinha ele acompanhado de Bete para minha decepção pois imediatamente percebi que era ele o dono do seu coração. Que tristeza! O mundo desmoronou. Mas tive que me manter forte pois finalmente fomos apresentados e eu poderia por fim àquela situação. Mas quis o destino que o belo rapaz de olhar matreiro segurasse na minha mão dizendo se sentir honrado com aquela apresentação. Meu coração bateu forte e eu não sabia o que fazer. Sentamos ali mesmo no chão bem no meio do salão e entre muitas conversas ele me disse ser um eterno sonhador que queria fazer sua vida longe do interior.
Falamos da minha cidade, das coisas da nossa idade e quando a musica recomeçou a tocar, saímos para o jardim a fim de melhor conversar.
Foi quando ele me explicou que jamais se enamorou, que não tinha compromissos e que a Bete era a testemunha disso.
E quando o baile terminou, num ímpeto romântico de sua pouca idade, arrebatou uma rosa do canteiro e me deu de presente, me dizendo consciente que sua vida havia começado ali, naquele exato momento.
Passei o resto da noite, muito triste a pensar o que deveria fazer pra minha prima não magoar.
Foi então que a pobrezinha, percebeu minha agonia e como nos velhos tempos, sentou-se bem ao meu lado, segurou as minhas mãos e me olhando nos olhos libertou meu coração.
Disse entender que o amor acontece quando o coração chama e que ela sabia, sempre soube, que ele um dia seria apenas uma boa lembrança dos seus sonhos de menina moça.
E abraçadas ficamos, num momento de grande magia, agradecendo à tia Maria, a união e compreensão que sempre incutiu em nossos corações.
E desde aquela época, o belo rapaz e eu, entrelaçamos nossos corações numa união perfeita, que nos deu frutos e abraçados ainda seguimos a vida até que um dia a morte nos separe.

Augusta Schimidt

19/05/2005
19.00hs
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