Usina de Letras
Usina de Letras
258 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62073 )

Cartas ( 21333)

Contos (13257)

Cordel (10446)

Cronicas (22535)

Discursos (3237)

Ensaios - (10301)

Erótico (13562)

Frases (50480)

Humor (20016)

Infantil (5407)

Infanto Juvenil (4744)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140761)

Redação (3296)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1958)

Textos Religiosos/Sermões (6163)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Contos-->LEMBRANÇAS DE MINAS -- 15/05/2005 - 15:16 (Edson Campolina) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
LEMBRANÇAS DE MINAS
Por: Edson Campolina

Uma urgência o acordou naquela manhã. Levantou-se trêmulo de ansiedade, apesar da lentidão dos movimentos ainda inconscientes. Achava que as idéias e palavras se perderiam no sobe e desce dos ponteiros. Preparou-se para a clausura do concreto cinza e morto de seu quartinho. Bebeu sua água com vitamina C efervescente acompanhada de um analgésico para a dor de cabeça, que ainda não tinha. Engoliu seco um comprimido para a queimação do estômago. Com a mão quase sem controle ligou seu computador e sentou-se à sua frente.

Olhava pela grade da janela o infinito do céu ensolarado, azul quase branco, com urubus voando em círculo. Nada lhe trazia um significado. Nem o carcará que anunciava um rasante entre as casas de Santa Teresa com seu piado ameaçador. Concentrava-se no início da prosa que teimava em fugir. Levantou-se e voltou à cozinha, bebeu suco, beliscou um bolo e voltou para o quartinho. Acendeu um cigarro e puxou a brasa com vontade. Um calor lhe correu o corpo. Tirou a camisa, ajeitou-se na cadeira e distribuiu os dedos pelo teclado. As teclas tremiam junto de suas mãos. O coração acelerava. Sentiu medo, angústia, tristeza, vontade de chorar e saudade. Saudade da mulher, da filha, do filho, do irmão, da irmã, da mãe, do pai. Sentiu-se prisioneiro da mediocridade de sua vida. Então fechou os olhos, inchou o peito e expirou com vontade. Repetiu mais vezes. Começou a apertar as teclas ainda na escuridão das pálpebras.

"Terminou de subir a longa trilha entre gramíneas floradas. Não ofegava apesar da caminhada. Do alto avistou um grande vale de colinas cercadas por majestosas e esverdeadas montanhas. O vento fresco acariciava os pelos da pele e trazia um perfume tranqüilizante. Primeiro pensou ser o cheiro de mato verde, mas não era seu nariz que sentia aquele cheiro, era sua alma. E o cheiro era de liberdade. Estava em Minas.

Em Minas a alma sente o vento da liberdade que sopra do alto das montanhas como se trouxesse-nos dos céus um lembrete do divino. Sopra à nossa razão que Deus existe e sua primeira morada foi ali, não na periferia em que vivia. Sentiu-se aquecido pelo sol de Minas. Parecia um sol de inverno que o protegia do frio de sua alma. Sua visão descansou perdida no horizonte azul e verde. Sentou-se na terra e respirou a poeira do lugar. Seu coração batia engrandecido por uma felicidade gratuita, como de um menino".

Quando abriu os olhos e leu o texto lágrimas escorreram em seu rosto oleoso. Mineiro chora de saudade até da água do rio que foi e não volta mais. Então concluiu que não estava só. Onde quer que esteja terá consigo suas lembranças. Recostou-se na cadeira e fechou novamente os olhos voltando para o alto da montanha. Ouviu o som da viola que acompanhava o estalar das brasas do fogão de sua avó. Sentiu o cheiro da batata doce que cozinhava na brasa, do milho verde com manteiga. Aqueceu-se com o quentão aromatizado. Sorriu dos causos dos avós e dos tios. Banhou suas canelas empoeiradas no riacho das pedras. Puxou seu papagaio colorido, de rabo de corrente, umedecido pelas nuvens. Pescou carás com varinha de bambu às margens do açude. Chupou caroços de ingás e lambuzou-se de manga. Respirou fundo o cheiro de estrume de vaca. Vagou pelas trilhas do cerrado passando mata-burros e trincheiras.

Necessitava beber novamente em sua fonte. Revigorar-se com um elixir de raízes. Levantou-se e tomou a estrada para reencontrar-se.

FIM.
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui